O Acompanhamento Terapêutico Como Dispositivo de Saúde Mental e Bem-estar do Idoso

Resumo

A dificuldade de se manter integrado e inserido na sociedade atual é um problema latente enfrentado pela maioria dos idosos.

Com a chegada da velhice é normal a tendência de perda de vitalidade, acarretada pelo ciclo natural da vida.

Porém, observa-se que idosos que não possuem suporte satisfatório nessa etapa da vida podem vir a sofrer em vários aspectos, e o que era para ser um período de descanso e calmaria, passa a ser um fardo e uma fase obscura.

Sintomas como apatia, tristeza, choro imotivado, indiferença indicam iminentemente a presença de quadros de depressão; evoluindo para suicídio em casos mais extremos.

Frente a isso, o presente artigo tem como proposta realizar, através de revisão bibliográfica, reflexões teóricas acerca do Acompanhamento Terapêutico como estratégia e instrumento de ação para o bem-estar e qualidade de vida dos idosos, sujeitos à segregação institucionalizada pela sociedade, contribuindo positivamente como dispositivo psicossocial.

Palavras-chave: velhice, acompanhamento terapêutico, depressão, bem-estar.

The Therapeutic Accompaniment as a mental health and welfare device of the elderly

Abstract:

The difficulty of staying integrated and inserted into the current society is a latent problem faced by most elderly people.

With the arrival of old age it is normal to the tendency of loss of vitality, entailed by the natural cycle of life.

However, it is noted that elderly people who do not have satisfactory support in this stage of life may suffer in various aspects, and what was to be a rest and calm period, is a burden and an obscure phase.

Symptoms such as apathy, sadness, indifference indicates imminent presence of depression; evolving into suicide in more extreme cases.

In front of this, this article is proposed to carry out theoretical reflections on therapeutic accompaniment as a strategy and instrument of action for the welfare and quality of life of the elderly, subject to institutionalized segregation by the society, contributing positively as a psychosocial device.

Keywords: old age, therapeutic accompaniment, depression, welfare.

Acompanhamento Terapêutico: Um Breve Histórico

O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma prática pouco conhecida pela sociedade e profissionais de saúde, tendo seu reconhecimento recente.

A literatura aponta que o nome Acompanhamento Terapêutico teve sua origem, na América Latina, na Argentina na década de 1970, com influências das reformas psiquiátricas decorrentes da Europa Ocidental (PITIÁ; FUREGATO, 2009).

Conforme Pitiá e Furegato (2009), o profissional at, nesse contexto, atuava como acompanhante terapêutico de pacientes psicóticos e dependentes químicos, dentro de uma equipe multiprofissional em clínicas com abordagem múltipla de atendimento.

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No Brasil tal prática se deu no início dos anos 1960, através dos chamados “auxiliares psiquiátricos”, primeiramente em Porto Alegre e depois no Rio de Janeiro. Depois partindo para São Paulo com os chamados “amigos qualificados” (PITIÁ; FUREGATO, 2009).

Diante do regime militar, ocorrido na década de 1970, em relação à internação asilar como forma de cuidado, as comunidades terapêuticas foram declinando e os auxiliares psiquiátricos perdendo seu espaço de atuação (NETO; AMARANTE, 2013).

Com isso, profissionais passaram a ser solicitados para trabalhos particulares dentro do ambiente doméstico.

Assim, os atendimentos realizavam-se no cotidiano do sujeito inserido no seu universo familiar.

O intuito era a integração na sociedade e reconstrução de vínculos familiares (ZAMIGNANI; WIELENSKA, 1999 apud NETO; AMARANTE, 2013).

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Dessa forma, o AT se estabelece, desde então, como uma atividade clínica em movimento.

Ela busca, através de propostas terapêuticas, atravessar junto ao indivíduo situações de dificuldade. Além de reabilitá-lo psicossocialmente frente a sua condição.

O AT constitui-se em uma atividade clínica porque, pela relação terapêutica entre profissional (acompanhante terapêutico) e o acompanhado, a ação ocorre em sintonia com a execução do projeto terapêutico.

Esse plano favorece o processo de reabilitação psicossocial do sujeito atendido (PITIÁ; FUREGATO, 2009, p. 73).

Baseados nesse pensamento, Pitiá e Furegato (2009) concluem que o AT pode ser reconhecido e incluído nos serviços de saúde como mais um recurso a favor da saúde mental.

Ele favorece o resgate da contratualidade social, promovendo a reabilitação e inclusão social de sujeitos em dificuldades. Tudo isso sob uma nova perspectiva de ação terapêutica contemporânea.

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Idosos e o Enfrentamento do Envelhecer

Há muito o envelhecimento é um fenômeno tratado com indiferença e desdém pela sociedade.

O tempo cíclico e o envelhecer é motivo gerador de angústia e preocupação a muitas pessoas.

“(…) vemos que a velhice, a decrepitude e fim da vida nunca deixaram de ser fatos angustiantes, ou pelo menos desagradáveis, para todas as pessoas, em todas as épocas.” (BASTOS, 2006, p.302).

Bastos (2006) afirma que as sociedades atuais tendem a seguir a linearidade competição – ascensão – decadência – aposentadoria – morte, com estruturas burocráticas e relações impessoais.

Tal fato gera consequências, muitas vezes difíceis de suportar e encarar, ante uma sociedade que prima pela energia e vitalidade.

Não obstante, o que se observa é uma crescente onda nosológica psiquiátrica denominada “depressão” tomando proporções epidêmicas nos últimos anos (KARLGODLEY, 1998 apud BASTOS, 2006).

E o idoso que antes era visto como sinônimo de experiência e respeito, vai sendo relegado ao isolamento.

O individualismo conduz também ao isolamento social dos improdutivos e assim o envelhecer nos asilos torna-se o destino inexorável de todos aqueles que já não conseguem mais manter a sua autonomia.

Tudo o que lhes resta são a previdência social e os planos de saúde, para quem a idade é sinônimo de prejuízo, e o idoso se vê considerado um fardo para o sistema (BURGUESS, 1998 apud BASTOS, 2006, p. 304).

Cole (1984 e 1991 apud BASTOS, 2006) considera que o idoso acaba assumindo um lugar desconfortável na sociedade individualista frente às inovações e alterações culturais, implicadas diretamente a perdas pessoais, queda na produtividade e valor social, diminuição das capacidades físicas e cognitivas.

Comumente observa-se que na população envelhecida há uma perspectiva depressiva que consiste em perda de entusiasmo, motivação, disposição de viver e esvaziamento afetivo.

Processos parciais de aculturação podem ocasionar situações de indefinição da identidade, deterioração dos valores, dos registros de memória (CANDAU, 1998), assim como esvaziar afetivamente os indivíduos (SWENSON et al., 2000), produzindo estados depressivos e abundantes queixas somáticas (BASTOS, 2006, p. 312).

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O Acompanhamento Terapêutico Como Possível Prática Psicológica no Envelhecimento

A utilidade da Psicologia faz-se presente em muitos contextos.

No que se refere ao Acompanhamento Terapêutico, suas contribuições podem oferecer o diferencial de
colaborar com o bem-estar e qualidade de vida do idoso dentro de suas limitações e inserido na sua dimensão biopsicossocial.

Por ser, uma forma menos rígida de intervenção, o AT possibilita executar junto ao idoso suas habilidades e competências, senso de eficácia, habilidade para relaxar, ampliar recursos de enfrentamento (BALTES e BALTES, 1990 apud BATISTONI, 2009, p. 20).

A atuação do acompanhante terapêutico vai muito além do manejo de questões psicológicas do envelhecimento.

A prática do AT insere-se na tentativa de afastar a representação negativa carregada pela terceira idade.

Ela colabora com a criação de novos significados e sentidos, constituindo-se como ferramenta na produção de outros mundos e modos de viver (MAIA; CASTRO; JORDÃO, 2010).

Conforme Maia, Castro e Jordão (2010), o objetivo do AT deve ser o de ampliação e reinvenção da clínica; uma clínica preocupada com estratégias que acompanhem as subjetividades e que deixa emergir as variadas formas de expressão.

De acordo com Pitiá (2013), é necessário um trabalho interdisciplinar que haja integralmente na saúde do sujeito, além de favorecer as ações dos profissionais responsáveis pelo sujeito atendido respeitando sua biodiversidade.

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Trata-se, portanto, de uma função complexa, que se constitui em uma ação clínica estabelecida pela relação terapêutica entre acompanhante terapêutico (at) e acompanhado, visando ao projeto terapêutico possível àquele sujeito com dificuldades psicossociais (PITIÁ, 2013, p. 75).

No que diz respeito aos idosos, o AT promove espaços de expressão e inserção resgatando a unidade humana (PITIÁ, 2013).

Através do seu processo reabilitador psicossocial, o AT ajuda o sujeito a refazer suas tramas: projetos de vida, seus hábitos, redes sociais, sonhos e desejos.

É uma reelaboração circulante no cotidiano, onde tudo se torna conteúdo e espaço de trabalho (PITIÁ, 2013).

Pitiá (2013) pontua que o AT atua como um processo que remove as barreira que impedem a integração do sujeito na sociedade, além de barreiras que o impedem de exercer sua plena cidadania.

Assim, pode-se considerar a relevância do acompanhante terapêutico na (re)construção conjunta do usuário no seu universo cotidiano, circulando nos diferentes setores, diferentes espaços através de novas redes culturais e interacionais.

Ações essas, opostas aos modelos asilares de tratamento, valorizando e fomentando a potencialidade dos sujeitos, mostrando-se como alternativas para a superação de paradigmas presentes na atual sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BASTOS, C. L. Tempo, idade e cultura: uma contribuição à psicopatologia da depressão no idoso. Parte III: a depressão, o tempo e a cultura. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental. IX, 2, p.300-317, jun/2006.
  2. BATISTONI, S. S. T. Contribuições da Psicologia do Envelhecimento para as práticas clínicas com idosos. Psicologia em Pesquisa, v.3, n.2, p.13-22, jul-dez, 2009.
  3. MAIA, G. F. da; CASTRO, G. D.; JORDÃO, A. B. Ampliando a clínica com idosos institucionalizados. Revista Mal-Estar e Subjetividade, Fortaleza, vol. X, n.1, p.193-210, mar/2010.
  4. NETO, M. L. A.; AMARANTE, P. D. C. O acompanhamento terapêutico como estratégia de cuidado na Atenção Psicossocial. Psicologia, Ciência e Profissão, Brasília, v.33, n.4, p.964-975, 2013.
  5. PITIÁ, A. C. A. Acompanhamento Terapêutico e ação interdisciplinar na atenção psicossocial. Psicologia e Sociedade, v.25, n spe 2, p.73-81, 2013.
  6. PITIÁ, A. C. A.; FUREGATO, A. R. F. O acompanhamento terapêutico (AT): dispositivo de atenção psicossocial em saúde mental. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v.13, n.30, p.67-77, jul-set/2009.

Autora

Blenda da Silva Martins – Graduada em Psicologia (Universidade Paulista – UNIP), formanda em Psicologia do Esporte (Consultoria, Estudo e Pesquisa em Psicologia do Esporte – CEPPE), formação avançada no curso “Terapeuta AT: A Clínica do Acompanhamento Terapêutico” (Portal Dr). Atende em Gama, Distrito Federal (DF/Brasil).

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