Autora:
- Camilla Moraes
A organização não-governamental Atua – Rede de acompanhamento terapêutico atende, desde o início do ano, pacientes de hospitais psiquiátricos da rede pública de saúde.
Um dos objetivos da ONG é proporcionar a esses pacientes um contato maior com o cotidiano externo aos manicômios. Para isso, procuram resgatar nos pacientes as suas próprias histórias de vida. Segundo Regina Célia de Carvalho, a “Chu”, professora da Faculdade de Psicologia da PUC-SP e uma das fundadoras da ONG, “não existe espaço para eles em uma cidade tão competitiva e veloz como São Paulo”.
O atendimento a essas pessoas se baseia na relação entre paciente e acompanhante. Cria-se um vínculo de confiança entre eles que permite aos profissionais da ONG resgatar identidades e histórias de vida perdidas.
“O nosso trabalho é reconstituir o fazer e o ritmo de nossos pacientes. É possibilitar que seus atos se tornem o reflexo de suas personalidades e não de um condicionamento”, explica Regina.
LACUNA – Um exemplo da técnica de acompanhamento terapêutico é o caso de um paciente que durante anos não teve contato com sua família. Após algum tempo de tratamento, ele manifestou o desejo de se desculpar com os filhos por tê-los abandonado em orfanatos após o suicídio da esposa.
A partir da intervenção terapêutica foi possível localizar seus familiares, inclusive os filhos.
Segundo o psicanalista Iso Gherttman, do Instituto de Pesquisa Sedes Sapientiae e integrante da Atua, o trabalho realizado pela ONG preenche uma lacuna entre as internações em hospitais psiquiátricos e as intervenções terapêuticas realizadas pelos Hospitais Dia.
Nestes, os pacientes ficam em tratamento terapêutico, ao mesmo tempo em que partcipam de atividades como oficinas de pintura e artesanato e, ao final do dia, voltam para suas casas.
Nas instituições psiquiátricas tradicionais, o tratamento é fundamentado na internação, que atualmente pode variar de seis meses a um ano. No entanto, há casos em que o paciente fica internado por muitos anos.
“A gente se esquece que não tem remédio que substitua o afeto humano. Grande parte da melhora dos pacientes é devido à intervenção com acompanhamento terapêutico e a atenção personalizada”, conta Regina.
A proposta da Atua teve início em um curso sobre acompanhamento terapêutico, ministrado por Regina e pelos psicanalistas Iso Ghertman e Mauricio Porto.
As técnicas abordadas passaram a ser aplicadas durante um estágio no Hospital Psiquiátrico Vera Cruz.
Há três anos, esse grupo de professores, psicanalistas e acompanhantes terapêuticos oferece acompanhamento aos pacientes psiquiátricos internados na rede pública de saúde.
Atua – rede de acompanhamento terapêutico. tel.: (11) 3871-1261. E-mail:[email protected]
Fonte:
Jornal da PUC-SP, edição 201.
Endereço: http://www.pucsp.br/jornal/201/nt4.htm
Artigo publicado no “Site AT” em 23/09/2002.
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