Acompanhamento Terapêutico: Dependência, Codependência e o AT

Resumo: este artigo propõem-se a informar o leitor o quanto é importante darmos atenção à codependência, assunto que por muitos ainda é pouco conhecido. A codependência é um dos problemas emocionais vinculados ao individuo que tem um convívio diário com o dependente químico e que também tem a necessidade de um acompanhamento psicológico, Acompanhamento Terapêutico.

 

Palavras chaves: Codependência, dependente emocional, dependência química, atendente terapêutico.

Therapeutic Accompaniment

 

Acompanhamento Terapêutico: Dependência, Codependência e o AT

 

Introdução:

Codependente é o termo usado a todo aquele individuo que tem relação com o usuário de qualquer substância química como álcool, drogas, seja ele um amigo, parceiro ou familiar, que participa ativamente da sua vida cotidiana.

Os codependentes além de enfrentarem problemas de toda ordem, como física, psicológica, social, financeira, etc. tem também um papel importante tanto na manutenção da dependência como na terapia do dependente para sua recuperação.

A terapeuta familiar McGoldrick e Betty Carter de Nova York, juntamente com uma grande equipe de colaboradores editaram em 1995 uma versão atualizada e ampliada de “As mudanças no ciclo de vida familiar”, a partir de numerosos trabalhos no “Family Instutute of Westchester” e em outras instituições ao avaliarem pessoas que apresentam alcoolismo. Elas afirmaram que os sintomas somáticos, psicológicos e interpessoais na família variam desde perturbações no funcionamento profissional, perturbação escolar dos filhos, conflitos, infidelidade, depressão, isolamento social, ansiedade a distúrbios físicos em todos os membros do sistema familiar.

 

Codependência, sintomas e características:

A síndrome de dependência de substância psicoativa é algo que afeta todo o sistema em que o individuo está inserido. A sociedade em geral sofre, porem é a família diretamente atingida. Esta nomeada de Codependência (KRUGER, apud HOCH e ROCCA , 2007, p.155).

O codependente suporta comportamentos variados e suas consequências, ele sem perceber abre mão de sua própria vida e de seus objetivos, e seu comportamento acaba por perseverar a problemática do outro. Em determinados casos, alguns só se sentem úteis ao viver em função do outro; assim é interessante para elas que o outro permaneça doente, mesmo que essa motivação seja, na maioria das vezes, inconsciente. Esses comportamentos fazem parte de um quadro patológico chamado codependência.

O codependente precisa tanto de atendimento psicológico, terapêutico quando o próprio dependente químico, às vezes eles se encontram tão afetados psicologicamente e emocionalmente que acabam sabotando o tratamento do individuo dependente.

Atualmente a codependência é estendida a qualquer quadro de dependência ou transtornos de personalidade e comportamento. A característica principal consiste no “doente”, ou seja, a pessoa fica doente, pela doença do outro, tendo uma extrema dificuldade em colocar limites para o comportamento problemático do dependente. Por exemplo, a mãe que tolera, incansavelmente, todas as conseqüências decorrentes do problema do filho, como perda do emprego, agressividade, irresponsabilidades, etc., ou a esposa que suporta qualquer tipo de abuso do cônjuge por medo das chantagens emocionais feitas por ele, como por exemplo, a separação.

Invariavelmente, os codependentes possuem baixa auto-estima, e sentem-se úteis e valorizados somente quando cuidam, resolvem e toleram os problemas do outro.  Os codependentes se mostram muito solícitos, sempre prontos a socorrer o outro, não importando as circunstâncias. Apresentam dificuldade em nutrir relações saudáveis e que valorizem a autonomia e o espaço de cada um. A necessidade obsessiva em controlar e cuidar do comportamento do outro faz com que utilizem de conselhos, preocupações e gentilezas exageradas. Isso tudo pode desencadear alguns danos para a saúde da pessoa, seja no aspecto físico através de doenças psicossomáticas ou no campo psicológico – normalmente os codependentes apresentam quadros depressivos ou ansiosos acentuados.

É importante diferenciar os comportamentos saudáveis de amor e cuidado existente nas relações afetivas. Na verdade, a codependência é um padrão de relacionamento egoísta, onde existe o medo de perder o controle sobre o outro e que resulta em prejuízos para saúde física e emocional. E que infelizmente não ajuda na recuperação do dependente.

Cummings e colaboradores (1980, apud SCOTTE cols.,1994) descobriram que estados emocionais negativos (ansiedade, depressão, raiva, frustração) respondem por 35% das recaídas, conflitos com família e interpessoais ocasionam  16% das recaídas, e o restante 20% por pressão social. (ZAMPIERI, 2004, p.59).

 

Algumas definições e tipos de Codependências:

Segundo Maria Aparecida Zampieri (2004) a codependência tem total relação comportamental, emocional e interpessoal, ela pode ser conjugal, familiar, grupal, social, institucional ou sexual.

Não existe no DSM-IV ou no CID-10 definição para a codependência. Mesmo assim ela já esta sendo admitida como uma construção social. A autora americana Beattie (1992) critica a falta de definição para a codependência, e traz a fala de outros autores: não há definição cientifica para codependente, no entanto pressupõe-se que a dependência se da em um meio facilitador, em especial é mencionado a família “desorganizada”.

Também afirma-se que o maior grupo de toxicômanos provem de indivíduos com distúrbios de personalidade em contato com pessoas já viciadas. Muitos buscando nas drogas alívio para suas tensões internas e pressões psicológicas.

Para Earnie Larsen (1992) a codependência é uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve no individuo que vive sobres as regras de opressão. Comportamentos apreendidos de derrotas ou defeitos de caráter que resultam na diminuição de relações interpessoais.

Harkness e Cotrell (1997) definem a codependência como uma condição emocional, psicológica e comportamental, com controle compulsivo em relacionamento interpessoal com ajuda acompanhada de sofrimento. O Individuo que se sente útil, amado e que suporta o sofrimento do outro.

O papel do (at) acompanhante terapêutico na Codependência:

O papel do acompanhante terapêutico na família, tanto na dependência quanto na codependência é trazer de volta a auto-estima no individuo, reorganizar sua vida, estimular tarefas que lhes proporcionam viver sua própria vida. Mostrar a ele que ele é um ser individual.

Geralmente no retorno de uma internação, o dependente volta para casa com outros hábitos e atitudes. Então, se a família continuar com as mesmas atitudes com o dependente que tinha antes do tratamento, a recaída parece inevitável.

Se a família não buscar ajuda em grupos de apoio, psicoterapias, ou buscar ajuda com um acompanhante terapêutico, um profissional treinado com experiência no assunto geralmente estudante ou estagiário de Psicologia, para auxiliá-lo, pois eles estão capacitados e podem ajudar na superação das frustrações dos medos e das inseguranças, fortalecendo e debatendo com o codependente para que ele não volte a repetir velhos hábitos. O tratamento torna-se mais árduo.

O acompanhante terapêutico tem total liberdade para atender seu paciente em qualquer lugar que ele ache adequado conforme a situação do indivíduo, fazer um trabalho de ressocialização é muito importante, porque geralmente este indivíduo estreita seus relacionamentos de uma forma obsessora. O papel do acompanhante terapêutico é mostrar que ele pode ter amizades e relacionamentos saudáveis.

Conforme Mauer e Resnizky (1987) algumas funções do Atendente Terapêutico que podem ser utilizadas nessa situação é a de:

Emprestar o Ego;

Perceber, reforçar e desenvolver a capacidade criativa do paciente;

Atuar como agente ressocializador;

Servir como catalisador de relações familiares.

Segundo Ibrahim (1991) o Acompanhante Terapêutico exercia funções tais como:

Administrar medicações;

Ser confidente;

Egoauxiliar, e até mesmo fazer o papel de superego.

Todas essas características são fundamentais e muito importantes para estabelecer uma boa comunicação com dependente e codependente, para que da melhor maneira possível possa haver total confiança de ambas as partes de uma forma saudável para auxiliar na recuperação, já que o codependente é peça fundamental junto com os profissionais multidisciplinares para recuperação do dependente químico.

Conclusão:

Dependência química e codependência são duas manifestações que envolvem um certo mistério, principalmente a dependência para quem nunca usou nenhum tipo de droga, não sabe as sensações e fica sem entender porque poucos se recuperam, porque diante de tanta informação a cada dia, cada ano que passa aumenta o consumo das drogas na população, seja ela de homens, mulheres, crianças, adolescentes ou adultos. Tantas teorias, tantas fórmulas de cura ou pelo menos de recuperação, tantas tentativas de manter o dependente o maior espaço de tempo abstinente, todo um cronograma de tratamento.

A codependência é um assunto estimulante, desafiador para quem estuda a Psicologia. Relato esse sentimento devido a algumas experiências que passei na prática clínica e que são idênticas as dos livros, dos artigos e das vinhetas que já li, embora saiba que ainda faltam muitas pesquisas.

Conclui na elaboração desse artigo e nas experiências que vivi que os personagens têm histórias muito semelhantes, às vezes iguais, e que só mudam mesmo os nomes.

Procurei escrever em um linguajar popular, claro, para que atingisse todas as pessoas que possam se interessar pelo assunto.

Em todos os casos de dependência que estive envolvida na atividade clínica, seja no tratamento de dependência de bebidas, maconha, cocaína, etc. não pude deixar de notar que mais doente que próprio usuário é o seu familiar, amigo, companheiro. Enfim, o codependente que se encontra também em total dependência da situação, encontra-se doente.

Sabe porquê? Porque todos se tratam, menos ele.

O codependente é aquele que interna, acompanha, chora e sofre de ver seu familiar na situação de estar tão vulnerável a qualquer risco e perigo de morte. Ele se tornou um codependente provavelmente por já ter passado por muitas situações de medo e desconfiança relacionados aos riscos que foi colocado junto com o dependente, ele já está com a “sementinha da desconfiança” e do medo plantado dentro do seu peito e da sua mente, cheia de traumas. Nem vive mais a sua vida, só se preocupa com a vida do outro, e, ainda assim, sozinho, acha que será capaz de vencer todos os problemas que envolvem a situação.

O dependente sempre é o foco, só que ele é assistido por psiquiatra, psicólogo, acompanhamento terapêutico, e o codependente só se sobrecarrega. Isso ocorre na maioria dos casos.

O dependente é submetido a doses de ânimo, ele é revigorado, fortalecido emocionalmente, pelo seu psicólogo, pela medicação prescrita pelo seu psiquiatra, tem o acompanhante terapêutico, passa a não ter mais motivos para usar a sua “válvula de escape” emocional, é preparado para suportar as fraquezas, depressões e frustrações da rotina diária. Mas se volta para sua casa, com a família, chega no seu ambiente natural, e encontra tudo da forma caótica como estava quando ele saiu (isso nos casos de internação), então, ele detecta que esta no “território inimigo”, que naquele lugar continua tudo a mesma coisa, aquele círculo vicioso, a dificuldade de manter-se limpo é inevitável, ela logo aparecerá e com ela a recaída.

O tratamento deve incidir sobre a origem do problema, começar pela família, ou a pessoa que se relaciona diretamente com esse indivíduo. Todos devem ser tratados no foco do problema, que geralmente é uma depressão ou um trauma que na maioria das vezes não foi abordado terapeuticamente, pois as pessoas envolvidas parecem ter esperado que o tempo fosse curar, ou, às vezes, até mesmo interpretam como um problema muito difícil de se resolver. Alguns até desistem achando que não tem mais solução e vão vivendo assim, em altos e baixos. E para nós profissionais que acreditamos na terapia, no acompanhamento terapêutico, achamos que para tudo há uma solução, a única coisa que não tem é a morte!

 

Referências de Pesquisa:

  1. Codependência o transtorno e a intervenção em rede – Por Maria Aparecida Junqueira Zampieri (2004);
  2. Sofrimento, Resiliência e Fé- Implicações para as relações de cuidado – Por Lothar Carlos Hoch e Susana M.Rocca L.(2007) – Resiliência e Drogadicão por Rolf Roberto Kruger. (pag.155);
  3. Guia dos Codependentes para os Doze Passos: novas histórias por Melody Beattie – Earnie Larsen (1992);
  4. Pais do Medo – Que fazer com meu filho toxiCODEPENDENTE? Organizado Por Angela Viana Machado Fernandes (2002);
  5. Codependent No More: Como parar de controlar os outros e começar a cuidar de si-
  6. Por Melody Beattie Por Melody Beattie (1992);
  7. Acompanhantes terapêuticos ePacientes Psicóticos Por Mauer, Susana K.Resnizky, Silvia (1987);
  8. Site Cerene – Pesquisa dia (04/07/2014) – Artigo Dependência Química e Codependência – Coordenador Terapêutico Felipe Simões da Matta;
  9. Site Scielo – Pesquisa dia 04/07/2014 – Artigos sobre Dependência e Codependência
  10. Site siteat.net – Pesquisa dia 04/07/2014 – Artigos sobre AT e sobre Dependência Química.

 

Letícia Lemos dos Santos – Formação em Terapia Corporal – Estudante de Psicologia na Faculdade Cesuca de Cachoeirinha/RS, no curso de “Capacitação em Acompanhamento Terapêutico” (CTDW).

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