O Acompanhamento Terapêutico, a pessoa idosa e a família

Resumo: o envelhecimento se coloca hoje, como uma questão prioritária para a sociedade, sendo que as demandas geradas por essa realidade trazem consigo enormes desafios e implicações sociais que já se fazem presentes. Sendo o Acompanhamento Terapêutico uma forma de promover a autonomia, reinserção social do paciente e promover uma melhora subjetiva através da ampliação da convivência social do mesmo. O idoso precisa ser acolhido, cuidado, tratado e o acompanhante terapêutico deverá estar preparado para encarar desafios e acima de tudo reconhecer sua própria capacidade, além de trabalhar em equipe.

Palavras-chave: Acompanhamento Terapêutico, pessoa idosa, família.

O Acompanhamento Terapêutico, a pessoa idosa e a família

O Acompanhamento Terapêutico (AT) é uma prática utilizada pela área da saúde e tem como objetivo a promoção da autonomia e reinserção social do paciente, além de promover uma melhora subjetiva através da ampliação da convivência social em locais públicos e privados. Beneficiam-se do AT, sujeitos em situação de sofrimento psíquico e com dificuldades para dar seguimento em sua vida e projetos. Inclusive, casos mais simples como dificuldades escolares, passeios, companhia e na ausência de um familiar para tarefas de maior atenção.

Esta prática se dá por meio de encontros, onde a clinica se amplia para sair do consultório e passa a fazer parte do dia-a-dia do sujeito, dando mais autonomia a este. Para melhor eficácia, o processo do Acompanhamento Terapêutico pode ser analisado e elaborado por uma equipe, conforme as necessidades/particularidades de cada paciente, família e profissionais envolvidos.

Este tipo de modalidade pode trazer benefícios para os mais diversos tipos de pacientes, dando luz a equipe terapêutica com informações não reveladas/observadas dentro do consultório. Para Fioraki e Saeti (2008), o Acompanhamento Terapêutico pode ser definido como uma prática que resgata o direito do paciente em gozar sua vida, que de alguma forma foi interrompida pelo adoecimento.

De acordo com Veríssimo (2010), o AT tem sido utilizado com eficácia nas mais diversas patologias como, fobias, dependência químicas, depressão, TOC, entre outros. Passou-se a perceber que vários tipos de pacientes podem beneficiar-se desta modalidade de atendimento.

Sendo assim, o Acompanhamento Terapêutico deve permitir que o paciente desenvolva suas próprias soluções e formulações evitando-se todas as formas a dependência (SHUBERT, 2010). É preciso provocar um movimento de autonomia/empoderamento no paciente, reforçando sua capacidade de criatividade.

No que diz respeito a história do AT, no ano de 1960, era fundada em Porto Alegre a Clínica Pinel, por Marcelo Blaya, trazendo ao Brasil um novo modo de encarar o tratamento a doentes mentais, com atividades permanentes nas 24 horas do dia. De acordo com Piccinini (2013), isso só era possível devido à atuação do atendente psiquiátrico (auxiliar psiquiátrico, acompanhante terapêutico, enfermeiro psiquiátrico).

Devido à redução das comunidades terapêuticas no Brasil, muitos profissionais envolvidos viram-se obrigados a serem inovadores na busca de novos nichos de mercado e foram buscar desempenhar suas atividades em outros locais. Possibilitando deste modo, o surgimento do acompanhante terapêutico (at) como um agente de saúde autônomo, onde o mesmo não precisava estar vinculado a nenhuma instituição/equipe e sem um lugar especifico para desenvolver suas atividades (TAVARES, 2006).

Com a transformação do acompanhante terapêutico em profissional autônomo, abriu-se um vasto campo de trabalho, que é o cotidiano/habitat dos pacientes. Isso possibilitou ao acompanhante terapêutico adequar as suas estratégias às imprevisibilidades do dia a dia, fazendo da rotina do paciente e seus estímulos diários elementos que podem fazer toda a diferença no tratamento. Porém para o trabalhado do AT surtir efeito neste ambiente, é necessário estabelecer um vinculo, o qual passa pelo respeito e escuta.

Para Tavares (2006) a expressão acompanhante terapêutico, teve varias traduções, e hoje podem ser encontradas como, “amigo qualificado”, “agente terapêutico”, “auxiliares psiquiátricos”, entre outros. Para o autor, analises referente ao Acompanhamento Terapêutico passaram a ter maior importância, sendo esta atividade muito rica por possibilitar um espaço amplo para atuação e eficácia nas atividades desenvolvidas. Tornando-se um importante campo para pensar a relação entre praticas em saúde e os processos de subjetivação contemporâneos.

Devemos encarar o Acompanhamento Terapêutico como uma prática além do mínimo necessário. Pois acompanhar alguém é muitas vezes fazer parte de momentos desestruturantes/desorganizadores na vida do paciente, no qual ele mesmo, por vezes, não se reconhece.

No que diz respeito a terceira idade, de acordo com Goldfarb (1998), ao se olhar no espelho a pessoa idosa não se reconhece, embora tenha consciência de ter sua imagem refletida. Esta imagem produz certa estranheza devido ao fato de não se ligar ao futuro e sim admitir a velhice inevitável.

O envelhecimento da população brasileira é uma realidade. Diante disso, Pereira (2005) afirma que o envelhecimento é uma questão prioritária que vem mobilizando a sociedade brasileira, já que as demandas e exigências geradas por essa nova condição populacional trazem consigo enormes desafios e implicações sociais já conhecidas no cotidiano das sociedades. O fenômeno do envelhecimento populacional é hoje uma realidade irreversível em nível mundial. Desde os anos 1980 que as populações idosas vêm emergindo e ganhando cada vez mais visibilidade.

Infelizmente a sociedade brasileira e quase a totalidade dos demais países, independentemente do país ser pobre ou rico, consideram o idoso um problema, lhe infringindo violências físicas e psicológicas. Além das dificuldades naturais da velhice, como a falta de qualidade de vida em uma sociedade que não está preparada para conviver com eles, mas principalmente pelos conflitos familiares, onde a própria família que deveria ser responsável pelo bem estar deste idoso acaba repudiando o mesmo, levando-o a erroneamente considerar-se um inútil.

Hoje as famílias são compostas de pais e filhos, a convivência com avós e bisavós é distante, sendo este mais um fator para aumento da população que moram em casas geriátricas. Sendo comum o total abandono do idoso, levando-o a perda de sua identidade com a sociedade. Na grande maioria das famílias o convívio com os idosos é cada vez mais raro.

Têm-se a caótica situação da família que não respeita e não procura garantir uma qualidade de vida que nossos idosos merecem, não podemos esperar melhor tratamento da população em geral, que não respeita os direitos e prioridades dos idosos na vida pública, frequentemente os idosos são agredidos fisicamente e psicologicamente.

Não são respeitados seus direitos garantidos por lei, a qual se vivêssemos numa sociedade coerente não precisaria existir, pois ceder o lugar para o idoso ocupar em um transporte coletivo ou atendimento preferencial não deveria ser uma imposição legal, mas sim uma gentileza merecida que deveríamos ter com quem já muito contribuiu pra termos a sociedade em que vivemos (LINS; OLIVEIRA, 2006).

De acordo com dados do IBGE, a população de idosos deve passar de 14,9 milhões (7,4% do total), em 2013, para 58,4 milhões (26,7% do total), em 2060. A expectativa média de vida do brasileiro deve aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos. O envelhecimento se coloca hoje, portanto, como uma questão prioritária para nossa sociedade, sendo que as demandas geradas por essa realidade trazem consigo enormes desafios e implicações sociais complexas que já se fazem presentes.

Toda ação humana é perpassada por processos de significação e produção de sentido. Cotidianamente, através das redes de relações sociais, estamos nos posicionando perante nós mesmos e perante os outros, percebendo, interpretando e dando sentido ao mundo em que vivemos.

E porque não dar uma atenção maior a esta população idosa que cresce a cada dia?

De acordo com Bonecker (2011), o Acompanhamento Terapêutico com pessoas idosas é uma importante ferramenta como alternativa ao trabalho psicológico. Devendo ser focado na prevenção e promoção da saúde e trabalhando em conjunto com uma equipe multidisciplinar, visando garantir melhor qualidade de vida aos idosos. Idosos geralmente requerem cuidados distintos em questões de saúde, pois normalmente fazem uso de medicamentos e requerem serviços/cuidados especiais e essenciais para garantir uma melhor qualidade de vida possível.

Pacientes que exijam cuidado domiciliar necessitam que os profissionais envolvidos no atendimento terapêutico ou equipe de saúde sejam treinados e capacitados para o atendimento especial que envolve estes pacientes.

Devido à proximidade/convívio com o paciente acabam criando laços mais estreitos, pois acabam participando do dia a dia do paciente e isto leva a ouvir desabafos, vivenciar situações muito particulares que envolvem o paciente em sua rotina diária, trocam ideias/experiências. Porém estes profissionais devem implementar os cuidados/programas elaborados pelos psicoterapeutas ou equipes de saúde, promovendo intervenções que visem a adaptação do paciente com o seu meio de convivência (LINS, et al., 2006).

De acordo com Rebello (2010), no Acompanhamento Terapêutico ao idoso é necessário a escuta, dar sentido à sua vida, passear, conversar, cuidar horários da medicação, atenção em relação às doenças existentes ou que podem vir a existir. Inclui também acompanhamento em passeios, consultas médicas e com possibilidade de ser acionado em caso de internação clinica ou domiciliar, onde será necessário apoio de equipe multidisciplinar para revezamento de turnos.

Em virtude de o tratamento estar sendo realizado na casa do paciente, em nada pode diminuir sua eficácia, não permitindo que os laços criados devido ao convívio diário possam interferir negativamente no tratamento do paciente. Trabalhar com o idoso é dar a possibilidade para este reencontrar sentimentos de alegria, conforto e bem estar físico e mental.

Tornasse indispensável que o idoso se perceba como ser humano, com suas capacidades e limitações. O Acompanhamento Terapêutico passa a ser primordial a medida que, cada vez mais, pessoas necessitam de um suporte/apoio para lidar com seus problemas, para ter uma melhora na qualidade de vida e bem estar social.

O envelhecimento é um processo biopsicossocial, onde é necessário que profissionais de várias áreas sejam como uma categoria única, onde fatores biológicos, socais e psicológicos interagem entre si. O envelhecimento irremediavelmente vem acompanhado do declínio físico e outras perdas biológicas, porém com atendimento terapêutico podemos melhorar a qualidade de vida do idoso mostrando ao mesmo que apesar das perdas inerentes da velhice, sempre temos novas perspectivas e novos projetos que podemos implementar. Adequados as nossas capacidades físicas e psíquicas, onde podemos concluir que o Acompanhamento Terapêutico é um processo que não se opõem aos demais tratamentos, mas sim os complementos destes mesmos.

O Acompanhamento Terapêutico irá auxiliar na busca da “razão de ser alguém”, de “estar vivo” para aqueles que tanto se dedicaram a alguém e hoje podem se perceber sem motivos para existirem. O idoso precisa ser acolhido, cuidado, tratado e o profissional deve estar preparado para encarar os desafios e reconhecer sua própria capacidade e trabalhar em equipe.

REFERÊNCIAS

  1. BÖNECKER, F. B. (2011). O encontro terapêutico. Acessado em 26/11/2013. Disponível em: https://siteat.net/beatriz/
  2. FIORATI, Regina Célia; SAEKI, Toyoko. (2008). O acompanhamento terapêutico na internação hospitalar: inclusão social, resgate de cidadania e respeito à singularidade. Interface (Botucatu),  Botucatu,  v. 12,  n. 27, dez. Acessado em  01/12/2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832008000400007&lng=pt&nrm=iso&#8221
  3. GOLDFARB, C.D. (1998). Corpo e temporalidade: Aporte para uma clínica do envelhecimento. IN:Revista Kairós, Ano 1, Educ, São Paulo.
  4. LINS, E. C.; OLIVEIRA, M. V.; COUTINHO, C. F.M. (2006). Acompanhamento terapêutico: intervenção sobre a depressão e o suicídio. Pepsic.bvsalud.org, 10 (18) São Paulo.
  5. PEREIRA, Thelma Maria Franco Rabelo Araujo. (2005). Histórias de vida de mulheres idosas –  um estudo sobre o bem-estar subjetivo na velhice. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal Rio Grande do Norte, Natal, RN.
  6. PICCININI, Walmor J. (2013). História da Psiquiatria – O Acompanhante Terapêutico. Acesso em 02/12/2013. Disponível em:  http://www.polbr.med.br/ano06/wal0106.php.
  7. REBELO, L. (2010). Acompanhamento Terapêutico com Idosos: mais que o mínimo necessário. Disponível em: http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/artigos. Acesso em 26/11/2013.
  8. SCHUBERT, René. (2010). Acompanhamento Terapêutico: Uma Introdução. Acessado em 01/12/2013. Disponível em:  https://siteat.net/rene/
  9. TAVARES, A.; Silva R. N.(2006). A emergência do Acompanhamento terapêutico e as políticas de saúde mental. Psicologia ciência e profissão, 26 (2) Brasília.
  10. VERISSÍMO, Flávio. (2010). Sobre a função do acompanhamento terapêutico na atualidade. Acesso em 01/12/2013. Disponível em: https://siteat.net/flavio-2/

Autora

Clarissa Cardoso Marmacedo – Psicologia (PUCRS). Formada no “Curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico” (CTDW).

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