Acompanhamento Terapêutico: Um breve histórico…

Em meados de 1960, na Europa, inicia-se um movimento psiquiátrico que visa humanizar os tratamentos dos pacientes considerados doentes mentais e que estavam asilados da sociedade.

Esse movimento é marcado por uma mudança de paradigma. Passou-se a considerar que o “isolamento” de um paciente em um hospital psiquiátrico seria prejudicial ao seu tratamento, favorecendo assim, a cronificação que a doença mental já impunha ao indivíduo.

Alguns psiquiatras da época defendiam que a reinserção social do paciente psiquiátrico seria o propulsor da melhora da adaptação da pessoa com sofrimento psíquico. Acreditavam, transcendendo os outros movimentos psiquiátricos de sua época, que o ser humano deveria ser considerado em sua totalidade biopsicossocial.

Foi então que em alguns países, em especial na Inglaterra, com Laing e Cooper, e na Itália a, com Basaglia, iniciaram-se os trabalhos de desospitalização, onde, com a ajuda de técnicos que se instrumentalizaram para “acompanhar” os pacientes em sua reintegração “social, ou em sua adaptação enquanto indivíduos, cidadãos”.

Os ecos dessa mudança de paradigma no tratamento de pacientes psiquiátricos, fizeram com que na América Latina, em especial na Argentina em meados de 1970, um psiquiatra, Eduardo Kalina, introduzisse uma nova modalidade de atendimento em saúde mental: o acompanhamento terapêutico (AT – à técnica).

Inicialmente o profissional que desenvolvia o AT era denominado “amigo qualificado”. Atualmente esse termo está em desuso por não corresponder à amplitude assumida pelo papel do AT. Na verdade, a relação entre o profissional e o cliente no AT é assimétrica, pois entre outras coisas, a frequência dos encontros já se encontra estipulada, ao contrário de uma amizade.

O profissional que exerce o AT atende a uma população bem diversificada: pessoas com dificuldade de sociabilização, pessoas portadoras de deficiência mental, usuários de álcool e drogas e pacientes psiquiátricos.

O acompanhante terapêutico (at – o profissional que o exerce), pode atuar em diversos locais. Em geral: na rua, na residência do paciente, num clube, num parque , etc… e dessa forma intervir junto a pessoa na melhora das relações psicossociais. Sua atividade é bastante ampla e diversificada podendo adaptar-se a situações de risco; em especial com pacientes suicidas ou pacientes em crise psicótica aguda.

Enfim, o AT vem sendo utilizado em tratamentos psiquiátricos e em outros tipos de tratamento em que se dá importância à ampliação e reinserção psicossocial do indivíduo.

Algumas referências bibliográficas para leitura que podem proporcionar maior reflexão e ampliação para discussão sobre o tema: 

  • Delgado, org. Jaques A loucura na sala de jantar Ed. Resenha
  • Mauer, Susana Kuras de e Resnizky, Silvia Acompanhantes Terapêuticos e Pacientes Psicóticos Ed Papirus
  • A casa org. A rua como espaço clínico- equipe de AT do HD Casa Ed Escuta
  • Barreto, Kleber Ética e Técnica no Acompanhamento Terapêutico; Andanças com Dom Quixote e Sancho Pança. Ed Unimarco
  • A casa org. Crise e cidade – Acompanhamento Terapêutico Ed Educ
  • Rossi, Gustavo e Pulice, Gabriel Acompanãmiento Terapeutico Ed Palermos
  • Basaglia, Franco A instituição negada Ed Graal
  • Cooper, David Psiquiatria e anti-psiquiatria Ed Perspectiva
  • Foucault, Michel Doença Mental e Psicologia Ed Tempo Brasiliense
  • Foucault, Michel História da Loucura Ed Perspectiva
  • Foucault, Michel Microfísica do Poder Ed Graal
  • Birman, Joel A Psiquiatria como discurso da moralidade Ed Graal
  • Mannoni, Maud O psiquiatra, seu “louco” e a psicanálise Ed Zahar
  • Fierz, Heinrich Karl Psiquiatria Junguiana Ed Paulus
  • Pereira, João Frayze O que é loucura?? Ed Brasiliense
  • Laing, Ronald O eu dividido: estudo sobre loucura e sanidade Ed Zahar
  • Assis, Machado de O alienista Ed Atíca
  • Silveira, Nise da Mundo das Imagens Ed Ática
  • Pereira, João Frayse O olho d’água: arte e loucura em exposição Ed Ática
  • Pelbart, Péter Pál Da clausura do fora ao fora da clausura: Loucura e desrazão Ed Brasiliense
  • Jung, C G Psicogênese das Doenças Mentais Vol III CW Ed Vozes
  • Ey, Henri A psiquiatria Ed Mason
  • Bleuler, Euguem A Psiquiatria Ed Guanabara&Kogan
  • Goffman, Erving Manicômios, Prisões e Conventos Ed Perspectiva
  • Jung, C G. Símbolos da Transformação Vol V CW Ed Vozes
  • Silva, Jorge Anthonio. Arte e Loucura: Arthur Bispo do Rosário Ed Educ
  • Silveira, Nise da Imagens do Inconscientes Ed Alhambra
  • Tundis, org Silvério Almeida Cidadania e Loucura: Poli6ticas de saúde mental no Brasil Ed Vozes
  • Motta, Arnaldo A ponte de madeira Ed Educ
  • Pessotti, Isaias A loucura e as épocas Ed 34
  • Berg, J. H. Van Den, O paciente Psiquiátrico: Esboço de Psicopatologia Fenomenológica Ed Mestre Jou
  • Laing, Ronald Sobre loucos e sãos Ed Brasiliense
  • Szasz, Thomas O mito da doença mental Ed Zahar
  • Rotelli, Franco Desisnstitucionalização Ed Hucitec
  • Serrano, Alini O que é Psiquiatria Alternativa Ed Brasiliense

Fonte:

http://www.psicoparacelsus.hpg.ig.com.br/acompanhamento.htm

Autor

  • Denis Canal Mendes – Psicólogo, psicoterapeuta, atende em consultório particular adolescentes e adultos; pessoas que tiveram algum tipo de crise emocional; usuários de álcool e drogas. É acompanhante terapêutico desde 1996, de pacientes psiquiátricos e membro fundador da equipe Novo Tempo Acompanhamento Terapêutico. Consultório Rua Ana Benvinda de Andrade nº 51. Telefones (011) 6979 3855 ou (011) 6281 8647. E-mail:[email protected]
  • Esse texto apresenta um histórico resumido do surgimento da técnica do Acompanhamento Terapêutico e foi escrito inicialmente para integrar o Projeto de Acompanhamento Terapêutico em Grupo (1999), um trabalho proposto juntamente com Chaim Ashtenazi ( psicólogo e acompanhante terapêutico) para uma Clínica Psiquiátrica de moradia de pacientes esquizofrênicos crônicos. Esse projeto é um trabalho piloto em AT em grupo para ser instituído em hospitais e clínicas que visam ampliar a forma do tratamento em psiquiatria.

 

Supervisão em AT.

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