O Papel do Acompanhante Terapêutico no Acompanhamento e Tratamento de Pessoas Portadoras de Sofrimento Psíquico

RESUMO: O papel do Acompanhante Terapêutico (AT) no acompanhamento e tratamento de pessoas portadoras de sofrimento psíquico é de muita relevância, especialmente considerando-se que este profissional contribui na melhoria da qualidade de vida não só do paciente como de sua família, uma vez que este atua fora do ambiente do consultório; mas no âmbito da comunidade de convivência do mesmo.

O AT vem acrescentar e contribuir como um modelo substitutivo aos modelos tradicionais em saúde mental.

O AT é uma prática que promove a inclusão social; e a formação do psicólogo neste contexto visa o caráter humanizador com o indivíduo em seu meio e a partir disto, busca-se enfrentar com êxito os problemas e cobranças impostas por sua prática.

Logo o objetivo deste trabalho é apresentar e refletir sobre o papel do Acompanhamento Terapêutico e as perspectivas de sua abordagem na reintegração social do portador de sofrimento psíquico. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, estruturado em uma revisão bibliográfica.

Portanto, através de verificação em outros estudos, este trabalho mostra que o AT é uma peça fundamental no processo de reintegração social do portador de sofrimento psíquico, pois uma das suas funções é promover a saúde e potencializar os vínculos sociais e familiares, através da relação afetiva, da troca de experiências e por meio também de uma abordagem psicossocial.

Palavras-chave: Acompanhante Terapêutico. Portador de sofrimento psíquico. Reintegração Social.

ABSTRACT: The role of the Therapeutic Companion (TC) in the monitoring and treatment of people with psychological distress is very relevant, especially considering that this work contributes to improve the quality of life not only for the patient but for his family, since this one works outside the office setting, but within the patient´s community.

The TC intends to contribute as a substitute model to the traditional models in mental health.

The TC is a work that promotes social inclusion, and the training of the psychologist in this context aims at humanizing the individual in his environment, and from this, it is aimed to successfully confront the problems and charges imposed by its practice.

Therefore, the aim of this paper is to present and think about the role of the Therapeutic Companion and the prospects for its approach on the social reintegration of patients with psychological distress.

This is a descriptive study with a qualitative approach, based on a literature review.

In the end, through verification in other studies, this study shows that TC is an essential part in the process of social reintegration of patients with psychological distress, because one of its functions is to promote health and strengthen social and family bonds by affective relationship, experiences exchange and also through a psychosocial approach.

Keywords: Therapeutic Companion. People who present mental suffering. Social Reintegration.

O Papel do Acompanhante Terapêutico no Acompanhamento e Tratamento de Pessoas Portadoras de Sofrimento Psíquico

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
2. PROCESSO HISTÓRICO
3. A REFORMA PSIQUIÁTRICA
3.1 Reforma psiquiátrica brasileira
4. MODELOS SUBSTITUTIVOS
4.1 Centro de Atenção Psicossocial – CAPS
4.2 Serviço Residencial Terapêutico – SRT’s
4.3 Programa de volta para casa
4.4 Acompanhante Terapêutico – AT
4.5 O Psicólogo como Acompanhante Terapêutico
5 METODOLOGIA
5.1 Fonte de dados
5.2 Procedimentos Metodológicos
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS

 1 INTRODUÇÃO

A partir de estudos sobre o processo histórico da loucura, vê-se, claramente, como esses indivíduos eram tratados de forma violenta e isolada.  Dentre as experiências mais marcantes estão o afastamento e o enclausuramento, seguido de múltiplas experimentações desumanas.

Inúmeros avanços têm colaborado para a reformulação dessa assistência, dentre os quais estão a persistente luta para o fim da exclusão e a superação das instituições psiquiátricas. A partir desses movimentos, vem sendo implantados vários modelos com a necessidade de substituir os manicômios nos diversos contextos e lugares.

Este movimento chamado de Reforma Psiquiátrica vem mostrando ser possível reconstruir um novo espaço social, embora seja um processo de urgência; sua efetivação se dá á longo prazo.

Com a tentativa de substituir os antigos modelos, criaram-se vários serviços de saúde mental, que funcionam no interior da comunidade possibilitando uma possível mudança nas práticas direcionadas ao portador de sofrimento psíquico. Todos com o mesmo objetivo, ou seja, um cuidado diferenciado ao portador de sofrimento psíquico, a sua família e a promoção da inclusão social.

Desse modo, o Acompanhamente Terapêutico surgiu como um dos modelos substitutivos no tratamento de pessoas portadoras de sofrimento psíquico após o processo de Reforma Psiquiátrica, como alternativa aos antigos modelos de tratamento (BREDOW; DRAVANZ, 2010).

Para apresentar os aspectos de atuação desse e suas contribuições, é necessário e fundamental apresentar subsídios que desencadearam a sua prática no cuidado em saúde mental.

Frente ao exposto, foi elaborada a seguinte pergunta norteadora: Qual o papel do Acompanhante Terapêutico (AT) na reintegração social do portador de sofrimento psíquico?

Para tentar responder essa questão, foi proposto o seguinte objetivo: Apresentar e refletir sobre o papel do Acompanhamento Terapêutico (AT) e as perspectivas de sua abordagem na reintegração social do portador de sofrimento psíquico.

Os objetivos específicos são: descrever o processo da reforma psiquiátrica, especialmente no Brasil; demonstrar os aspectos da atuação do Acompanhante Terapêutico; indicar a contribuição do Acompanhante Terapêutico na melhoria da qualidade de vida das pessoas portadoras de sofrimento psíquico.

Dessa forma, como justificativa da escolha desse tema, verifica-se uma necessidade de aprofundamento do conhecimento, a partir da possibilidade de atuar no acompanhamento a pessoas portadoras de sofrimento psíquico, além das instituições de tratamento e nos espaços sociais.

Do ponto de vista social, a relevância deste trabalho, fundamenta-se na necessidade de adquirir conhecimento técnico científico, afim de possibilitar ao portador de sofrimento psíquico atendimento mais humanizado e dessa forma, melhores condições dele se reinserir na sociedade.

Sob o aspecto profissional, abordar esse tema, justifica-se pela necessidade de compreender e apresentar enquanto estudo como a ação do Acompanhante Terapêutico pode contribuir no suporte, não só, ao portador de sofrimento psíquico, como também de sua família.

A estrutura desse trabalho apresenta-se da seguinte forma. No primeiro capítulo far-se-á uma breve abordagem sobre o processo histórico da loucura, objetivando um maior entendimento sobre o tema.

O segundo capítulo é reservado à análise da reforma psiquiátrica de forma sucinta, com maior abrangência sobre a reforma psiquiátrica brasileira.

Em seguida, no quarto capítulo, descreve os principais modelos substitutivos, sendo: Centro de atenção psicossocial – CAPS, Serviço Residencial Terapêutico- SRT, Programa de Volta para Casa, e finalmente, o Acompanhante Terapêutico.

Já no quinto capítulo, estabelece os métodos utilizados para a pesquisa.

No sexto capítulo, faz-se necessário descrever, a partir das questões apresentadas no corpo do texto, os resultados alcançados e sua discussão.

Por fim, será estabelecida a conclusão necessária, diante da exposição apresentada.

                      

2 PROCESSO HISTÓRICO

Essa reconstrução histórica será a partir da Grécia Antiga, período histórico que teve uma grande importância na construção de mitos, signos que até hoje influenciam a forma como significamos a loucura.

Ao longo dos anos a definição das doenças e transtornos mentais, “loucura”, passou por várias concepções.

Na antiga Grécia, a loucura, era considerada privilégio na sociedade, grandes Filósofos daquela época como Sócrates e Platão ressaltaram a existência de uma forma de loucura tida como divina.

Nesse período, os indivíduos considerados “loucos”, através dos seus delírios, eram vistos pelas pessoas como portadores de privilégios e podiam ter acesso a verdades (SILVEIRA; BRAGA, 2005).

Logo, a loucura, possuía um lugar viável e aceito socialmente, o que admitia ao “louco” ocupar um lugar privilegiado na sociedade (CABRAL, 2005).

Portanto, a carência de compreensão e conhecimento da sociedade da época acerca de questões essenciais ao transtorno mental, acabava-se por integrar a doença às questões místicas, de modo que, tratar o portador de transtornos mentais como uma pessoa possessa era culturalmente comum e aceitável (CIRILO; OLIVEIRA FILHO, 2008).

Essa relação da loucura com as questões místicas vai prevalecer por muito tempo e, apenas no período conhecido como Antiguidade Clássica, vai se dissipar (SILVEIRA, BRAGA, 2005).

Na Idade Clássica, os chamados de loucos gozavam de certo grau de liberdade, muitas vezes circulando e fazendo parte do cenário e das linguagens sociais (MINAS GERAIS, 2007). A representação da loucura acontece como existência nômade:

Os loucos tinham então uma existência facilmente errante. As cidades escorraçavam-nos de seus muros; deixava-se que corressem pelos campos distantes, quando não eram confiados a grupos de mercadores e peregrinos. Esse costume era frequente particularmente na Alemanha (…) durante a primeira metade do século XV. (FOUCALT, 2004, p. 9).

Já na Idade Média destaca-se à associação da loucura a possessão diabólica, sendo considerados incrédulos, muitas vezes condenados às fogueiras.

Assim, a loucura já não era mais relacionada às questões divinas, mágicas ou simbólicas e, passará a caminhar numa direção completamente oposta, representando o mal (MATOS DE SÁ, 2010).

Conforme relatam Silveira e Braga (2005):

Apesar de se perceber que desde a Idade Média já existiam mecanismos de exclusão do louco, ainda não é aí que a loucura vai ser percebida como um fenômeno que requeira um saber específico, pois os primeiros estabelecimentos criados para circunscrever a loucura destinavam-se simplesmente a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no próximo período histórico é que se transformará essa relação (SILVEIRA; BRAGA, 2005, p.593).

A partir do século XVII, foram reorganizadas várias instituições com a tarefa de recolher, alojar e alimentar os “loucos” e pobres. Porém, esses locais não se propunham a ter função curativa, mas uma solução para o problema da miséria (HOLANDA, 2001).

Esses tipos de instituições foram criados em toda a Europa para internação. Entretanto, a internação não era destinada apenas em receber loucos, mas todos os indivíduos que eram considerados bastantes diferentes uns dos outros, pelo menos conforme nossos critérios de percepção, como os inválidos pobres, pais de família dissipadores, os portadores de doenças venéreas, os mendigos, os desempregados opiniáticos, pessoas a quem a família ou o poder real querem evitar o castigo público, eclesiásticos em infração, os velhos na miséria, libertinos de toda espécie, em resumo todos aqueles que, em relação à ordem da razão, da moral, e da sociedade dão mostras de alteração (FOUCAULT, 2000).

O aspecto de doença foi designado ao louco, em meados do século XVIII, quando então a liberdade, embora superficial, foi substituída pelo encarceramento, onde a exclusão marcou o mundo da loucura (FOUCAULT, 2000).

Nessa época, o fenômeno da loucura passa a ser objeto do saber médico, os hospitais passaram a reservar leitos aos loucos. Contudo, os hospitais eram apenas um setor reservado, limitados às formas da loucura que se julgavam curáveis, como os episódios de violência, frenesis ou acessos melancólicos (FOUCAULT, 2000).

A falta de preparo, estrutura e principalmente suporte médico, não possibilitava ao doente o tratamento de que necessitava, o que fez com que esses indivíduos fossem excluídos da sociedade. Tais estabelecimentos funcionavam basicamente como alojamento aos indivíduos marginalizados socialmente naquela época.

A mistura de mazelas como doença mental, pobreza, velhice, era uma constante nesses locais, bem como indivíduos a quem a sociedade de algum modo desejava apartar das chamadas “pessoas de bem” e, portanto, viviam em isolamento (MINAS GERAIS, 2007).

O internamento é, sem dúvida, uma medida de assistência, mas é um sistema cujo ideal seria estar inteiramente fechado sobre si mesmo (FOCAULT, 2000).

As trágicas experiências da loucura proporcionaram a caracterização do louco como personagem representante de periculosidade e risco social, o que levou à sua institucionalização, primeiro em asilos e posteriormente em hospitais (BRASIL, 2006).

De acordo com Amarante (1995), a partir do século XIX, há início de uma produção científica acerca do “fenômeno da loucura”, que se tornou um objeto de conhecimento a doença mental, que recebeu a marca histórica de constituição da prática médica psiquiátrica.

Para Amarante (1995):

Pautando-se em determinados modelos clínicos, a psiquiatria busca afirmar enquanto processo de conhecimento científico, em sua pretensão de neutralidade e descoberta da essência dos distúrbios através da relação de causalidade. Este território – matizado pelos cânones científicos – pretende garantir credibilidade de ciência à medicina psiquiátrica emergente. A análise histórica deste processo e a identificação de seus efeitos permitem perceber como a pretensa neutralidade e a objetividade dos jogos de verdade da ciência buscam encobrir valores e poderes no cenário cotidiano dos atores sociais (AMARANTE 1995, p. 26).

Desse modo,a psiquiatria propõe observar e descrever os distúrbios nervosos intencionando um conhecimento objetivo do homem, partindo, para tanto, numa busca por meios científicos que ultrapassassem crenças e valores, onde seus interesses eram garantir a credibilidade de ciência e não a melhoria da qualidade de vida do ser humano.

O processo de institucionalização do doente mental a partir do reconhecimento do mesmo enquanto sujeito tutelado propiciou a instituição, segundo Amarante (1995), das práticas manicomiais que, embora propiciasse uma abordagem médico científica da loucura ainda assim, lançava mão do tratamento físico como ferramenta experimental de cura da doença mental.

Assim, esses “pecadores”, ou seja, “loucos”, no lugar da prisão com várias outros indivíduos, passaram a ser trancados em asilos ou manicômios com o intuito de serem estudados e tratados, a loucura passa a ser reconhecida como doença mental:

O sofrimento psíquico recebe o rótulo de “doença mental”, com quadros nosológicos claramente delimitados. O objetivo final, ou seja, a cura, pode até ser conceituado de maneiras diferentes, mas, raramente, escapa à noção de (re) adaptação a um mundo do qual ele não faz parte ou ao qual se mostra estranho (SILVEIRA; BRAGA, p. 592).

Os manicômios revelavam a exclusão total desses seres humanos, onde se representava friamente o mal, a periculosidade, a incapacidade.

Quanto a esse aspecto, Berlink (2010) ainda relata:

O doente mental aparece como uma espécie de detrito social a ser escondido. É submetido a um processo de exclusão, segregado e encarcerado em instituições fechadas que, além de ocultá-lo da sociedade, passam a usá-lo como cobaia em experimentos variados. Despojado da condição de sujeito, é desumanizado e tratado como coisa (BERLINCK, 2010, p.91).

A partir deste contexto, fica perceptível que a psiquiatria exercia uma função imprecisa junto à loucura, visava a “cura”, e também a exclusão para tratar e, ao mesmo tempo protegia a sociedade contra a loucura (CABRAL, 2005).

Segundo Lancetti (1990), “doença mental e loucura são formas bem distintas, de modo que a aparente falta de percepção racional das coisas pelos internos do hospital pressupunha a loucura mais precisamente do aspecto ético-estético do que técnico-científico”.

O que pressupõe que transtorno mental é, por assim dizer, um campo de investigação técnico-científico que ultrapassa o que possa ser subentendido simplesmente a partir de observações (apenas) do comportamento “anormal” e “incomum” associado ao “louco”.

A loucura permaneceu fechada, aprisionada, dentro dos templos da ciência, foram inúmeras técnicas experimentais utilizadas, hoje consideradas “absurdos terapêuticos”, tais como, traumaterapia, cadeiras giratórias, banhos de imersão, experiências com medicações, eletrochoque, lobotomias (PACHECO, 2009).

Ainda segundo Pacheco (2009):

a ciência, ao longo de sua história, encastelou a loucura em seus templos e, ao tentar abstrair-lhe de todos os sentidos positivados, insistiu em colocá-la no lugar da doença, do erro e do desvio[…] as atuais representações sociais da loucura, apesar de sofrer uma grande influência da ciência e de seus “mitos e ritos”, ainda permanece ligada a um imaginário social que contribui com sua constituição, ligando-se às necessidades cotidianas dos grupos que a representam (PACHECO, 2009, p.318-319).

A doença mental foi ao longo do tempo, cenário de várias explicações e interpretações, através de métodos mágicos, religiosos e pré-científicos.

A instituição da prática médica psiquiátrica possibilitou a introdução da experimentação de tratamentos mais elaborados e ainda a dissociação da doença mental das questões religiosas, permitiu também tratar em separado (ainda que de forma precária) o portador de sofrimento mental dos demais doentes (FOCAULT, 2000).

Com o surgimento da Psiquiatria Moderna no final do século XIX, foram grandes as tentativas de tratamento. Vários estudiosos como Sigmund Freud, Jean-Martin Charcot, Carl Jung, Eugene Bleuler, contribuíram para o desenvolvimento do diagnóstico da “doença mental” (ALMEIDA, 2007).

No século XX, ficou reconhecida a área de estudos das doenças mentais, através dos vários avanços na psiquiatria e psicopatologia, importantes progressos surgiram, como os testes psicológicos e classificações da doença mental; diminuindo os estigmas e rótulos de “loucos” para uma compreensão mais acerca do diagnóstico.

Um dos papéis da ciência é ampliar o seu objeto de estudo, buscando um maior entendimento para desenvolver uma determinada classificação, facilitando a aproximação do cientista nos sistemas de diagnóstico (ASSIS, 2010).

Quanto a esse aspecto relata Assis (2010):

Aceita-se o uso da expressão “ transtornos” ou “distúrbios” para se aos problemas psicopatológicos. Eles são diagnosticados pela presença de sintomas, que são manifestações únicas e desviantes do comportamento dito normal. Um grupo de sintomas pode ser classificado como uma síndrome. Uma determinada síndrome psicológica classificada, então, pode receber o nome de Transtorno Mental (ASSIS, 2010, p. 3).

É preciso ressaltar, que os sistemas de classificação são modelos para auxiliar o profissional da área da saúde, um agrupamento fundamentado no estudo dos fatos, que torna o valor prático como critério de verdade, ou seja, uma aglomeração de manifestações ao qual se dá o nome de sintoma, que não existem de fato.

Segundo Assis (2010), os atuais manuais classificam os transtornos, não as pessoas. Por isso, evita-se utilizar expressões como “o esquizofrênico ou o “alcoólatra” e utilizam-se termos como “a pessoa com esquizofrenia” ou “o paciente que sofre de alcoolismo”.

Atualmente existem inúmeras hipóteses e estudos em andamento, os avanços tecnológicos, como as tomografias, métodos de ressonância magnética, possibilitam um entendimento maior das possíveis alterações no cérebro, facilitando um esclarecimento do caso (ALMEIDA; LARANJEIRA; DRATCU, 2012).

Contudo, vale ressaltar, segundo a “Linha Guia de Saúde Mental” (2007), que o sofrimento mental grave, a esquizofrenia, o transtorno delirante, o transtorno bipolar não são doenças como as outras, ou seja, no sentido em que partem do princípio de provar se há causa orgânica ou não.

Ainda segundo o “Guia de Saúde Mental” (2007), as formas graves de sofrimento mental são uma espécie bastante peculiar de doenças, graves por vezes, mas que não se enquadram, de forma alguma, no modelo explicativo das doenças orgânicas.

Como se viu inicialmente, o internamento deu origem à constituição da prática médica psiquiátrica, a disposição do olhar médico foram distinguindo as características e as evoluções dos diferentes quadros clínicos, que leva a impasses curiosos que persistem até hoje (BRASIL, 2006).

Em meio a esse grande repertório causal, vê-se claramente os avanços que a medicina psiquiátrica adquiriu, mesmo que, por vezes, tais práticas fossem desumanas, caracterizadas pelo abandono, maus tratos, violência aos quais esses indivíduos eram submetidos.

A partir dessas experiências traumáticas, foram surgindo ao longo do tempo, várias discussões relativas a essas práticas desumanas, o que então será abordado no capítulo referente à Reforma Psiquiátrica.

Buscou-se neste capítulo, percorrer de forma breve, importantes períodos e origens das representações sociais da loucura, resultando-se no conhecimento desta, como alvo dos estigmas e concepções refletidos nos dias atuais.

Portanto, é importante frisar que, novas práticas são necessárias para que estas representações sejam desmistificadas, exigindo que esses seres humanos estejam incluídos no meio social, possibilitando a estes um novo espaço, uma nova história. O trabalho do Acompanhante Terapêutico em contato com este indivíduo ao seu meio, apresenta-se como prática fundamental na reconstrução deste lugar social, permitindo que o portador de sofrimento psíquico e a sociedade, encontrem novas formas de lidar com esse fenômeno estigmatizado.

 

3 A REFORMA PSIQUIÁTRICA

Devido ao processo contínuo desse movimento, e a complexidade de discussões e entendimentos em vários momentos históricos, pretende-se nesse capítulo, apresentar resumidamente sobre a sua importância, fazendo necessárias as iniciativas de transformação ao modelo tradicional em saúde mental.

Há inúmeros entendimentos sobre o que vem a ser Reforma Psiquiátrica, não existe um conceito fechado e exato para caracterizá-la, mas sim um conjunto de princípios, diretrizes e desejos que a engendram (PACHECO, 2009).

As expressões “reforma” e “psiquiatria” sempre estiveram juntas, desde o próprio nascimento da psiquiatria. Foram os reformadores da revolução francesa que encarregaram a Pinel o trabalho de humanizar e dar um significado terapêutico aos hospitais gerais, onde os loucos dividiam espaço junto com outros marginalizados da sociedade (TENÓRIO, 2002).

Reza a lenda que, em 1793, Couthon (uma das três maiores autoridades da revolução francesa, ao lado de Robespierre e Saint-Just) inspecionou pessoalmente o hospital de Bicêtre, recém-assumido por Pinel. Após os primeiros contatos com os loucos, teria dado por encerrada a inspeção, dizendo ao responsável: “Ah, cidadão, você também é louco de querer desacorrentar tais animais? […] Faça o que quiser. Eu os abandono a você. Mas temo que você seja vítima de sua própria presunção.”, ao que Pinel teria respondido: “Tenho a convicção de que estes alienados só são tão intratáveis porque os privamos de ar e liberdade, e eu ouso esperar muito de meios completamente diferentes.” O gesto pineliano de desacorrentar os loucos para implementar “meios completamente diferentes”, mito de origem da psiquiatria, é o signo de que, desde a sua fundação, a ciência psiquiátrica nasceu como reforma (TENÓRIO, 2001, p.19).

Pinel desacorrentou os loucos, entretanto, não os colocou em liberdade, tornando-os prisioneiros dos asilos.

“A loucura foi obrigada a migrar para o domínio médico e, sendo aprisionada pela concepção crítica, passou a representar única e exclusivamente o erro, o desvio, a doença mental” (PACHECO, 2009, p.21).

O objetivo era privá-los de liberdade para observá-los, e assim, isolar para tratar.

Pinel neste momento inaugura-se a psiquiatria pretendendo conhecer a loucura, para então dominá-la (PACHECO, 2009).

Segundo Amarante (1995):

se o hospital psiquiátrico foi criado para curar e tratar as doenças mentais, tal não deve ser outra a sua destinação. Entende-se desta forma que, em consequência do mau uso das terapêuticas e da administração e ainda do descaso e das circunstâncias político-sociais, o hospital psiquiátrico desviou-se da sua finalidade precípua, tornando-se lugar de violência e repressão (AMARANTE, 1995, p.32).

A marca característica de reforma dá-se a partir do momento em que esta passa ser vista de uma forma contrária, o julgamento ao asilo deixa de ser humanizador e aprimorado, não cumprindo sua função, passando a ser criticado pelos próprios pressupostos da psiquiatria (DELGADO,1992).

A partir das questões humanitárias, do alto custo das internações e das razões econômicas, foram surgindo diversas discussões a respeito, dentre elas, a Declaração dos Direitos Humanos, elaborada na Revolução Francesa, considerado um dos grandes avanços do século XX (PACHECO, 2009).

Foram vários expoentes, envolvidos nas revolucionárias perspectivas de uma reforma psiquiátrica ou de uma reforma do sistema de atenção em saúde mental, dentre eles Main, Bion, Reichaman (1946), Maxwell Jones (1959), Sullivan (1929/1930), Hermann Simon (década de 20), Menninger (década de 40), François Tosquelles (1952), Baságlia, Ronald Laing (década de 60).

Era preciso “construir uma mudança no modo de pensar a pessoa com transtornos mentais em sua existência sofrimento, e não apenas a partir de seu diagnóstico” (Brasil, 1992, p.11).

Buscava-se, através de diversos questionamentos, uma nova visão sobre os modelos tradicionais em saúde mental, criticando a forma de enclausuramento nos manicômios sustentado pelo poder médico, criando-se assim, a partir dessa imensa desordem, novos horizontes para uma futura reforma.

Ao final da II Guerra Mundial, segundo a Linha Guia de Saúde Mental (2007) os movimentos de Reforma Psiquiátrica surgiram na França. Esses movimentos nasceram a partir das influências desempenhadas pela sociedade da época que se indignou com a então ocorrência vigente nos hospícios.

Nesse período, a sociedade espanta-se com a situação e condição em que se encontravam os hospitais psiquiátricos.

Segundo Birman e Costa (1994, p.46. apud AMARANTE 1995, p.28):

não mais era possível assistir-se passivamente ao deteriorante espetáculo asilar: não era mais possível aceitar uma situação, em que um conjunto de homens, passíveis de atividades, pudessem estar espantosamente estragados nos hospício (BIRMAN;COSTA,1994, p.46 apud AMARANTE,1995,p.28).

A partir desse contexto, dava-se início, aos primeiros passos de uma verdadeira e desafiante reforma.

Segundo o Guia de Saúde Mental (2007), a Reforma Psiquiátrica seguiu uma ordenação de acordo com os grupos de referência: as restritas ao âmbito dos hospitais psiquiátricos – psicoterapia institucional e comunidades terapêuticas; as que visam atrelar os serviços extra-hospitalares ao hospital – psiquiátrica de setor e a psiquiátrica preventiva; as que instauram uma ruptura com as anteriores e que questionam o conjunto de saberes e de prática psiquiátrica vigente – a antipsiquiatria e a psiquiatria democrática.

No contexto geral, o que tais dispositivos tinham em comum, era a importante crítica à eficácia do hospital psiquiátrico e suas práticas, o que se tornava possível às denúncias das condições precárias dos indivíduos ali “institucionalizados”, resultando na busca de um espaço realmente terapêutico, humanitário e exterior aos muros.

Em relação ao movimento de desinstitucionalização, Rotelli, et al. (1990) afirma que:

um trabalho terapêutico, voltado para a reconstituição das pessoas, enquanto pessoas que sofrem, como sujeitos. Talvez não se ‘resolva’ por hora, não se ‘cure’ agora, mas, no entanto seguramente se ‘cuida’. Depois de ter descartado a ‘solução-cura’ se descobriu que cuidar significa ocupar-se, aqui e agora, de fazer com que se transformem os modos de viver e sentir o sofrimento do ‘paciente’ e que, ao mesmo tempo, se transforme sua vida concreta e cotidiana, que alimenta este sofrimento (ROTELLI, et al. 1990, p.33).

Dentre os vastos caminhos e modelos buscados na tentativa de superação e substituição dos manicômios, tais princípios, foram fundamentais para o processo de reforma, acompanhados de conceitos como desistitucionalização e desospitalização, focados nas mudanças do cuidar em saúde mental, abrindo-se portas, para inúmeras reflexões, inspirações, legislações, em vários países, inclusive no Brasil.

 

3.1 Reforma psiquiátrica brasileira

A partir da forte influência e diversas estratégias em movimento, a reforma vem de encontro ao Brasil, baseados nos pressupostos europeus e italianos.

Esse movimento, cujo início Delgado (1992), coloca na segunda metade da década de 1970, e que tem uma particularidade essencial, tem como marca característica o reclame da cidadania do louco:

Embora trazendo exigências políticas, administrativas, técnicas – também teóricas – bastante novas, a reforma insiste num argumento originário: os “direitos” do doente mental, e sua “cidadania” (DELGADO 1992, p. 29)

Tais propostas fundamentam-se na reconstrução da “cidadania” do doente mental, condenados a periculosidade e a incapacidade de conviver ao meio social, surgindo à necessidade de construir novos olhares para esses cidadãos, privados de seus direitos e liberdade.

No Brasil, o início do movimento da Reforma Psiquiátrica, segundo Amarante (1995), deu-se entre os anos de 1978 e 1980 e existiam várias instituições, movimentos, entidades e militâncias envolvidas no processo de formulação das políticas de saúde mental, das quais o autor destacou: o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM); Núcleos Estaduais de Saúde Mental do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES); Comissões de Saúde Mental dos Sindicatos dos Médicos; Movimento de Renovação Médica (REME); Rede de Alternativas à Psiquiatria, Sociedade de Psicossíntese; Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); Federação Brasileira de Hospitais (FBH); a indústria farmacêutica e as universidades. Essas instituições e órgãos contribuíram, segundo o autor, na formulação e legitimação das políticas de saúde mental (TENÓRIO, 2002).

A reforma nasce como consequência inicial à necessidade de reformulação da assistência psiquiátrica, buscados por múltiplos saberes envolvidos, visando à reconstrução do modelo de atenção em saúde mental, baseados nos direitos humanos e na crítica aos modelos manicomiais.

Amarante (1995), afirmou que o acontecimento conhecido como a “Crise do DINSAM” em 1978, que incentivou o movimento de reforma psiquiátrica brasileira.

O DINSAM – Divisão de Saúde Mental é órgão do Ministério da Saúde responsável pela formulação das políticas de saúde do subsetor de saúde mental, atuava em quatro unidades no Rio de Janeiro, onde profissionais trabalhavam em condições precárias, em clima de violência e ameaças, até mesmo a pacientes. A crise surgiu depois de denúncias dos profissionais que levaram a público todo o contexto existente (TENÓRIO, 2002).

Conforme a Linha Guia de Saúde Mental (2007), a Reforma Sanitária Brasileira foi muito importante nesse contexto de reforma psiquiátrica, somada às conquistas da Constituição Federal Brasileira na área da saúde, como por exemplo, o significado aumentado de saúde e a sua afirmação enquanto dever do estado e direito do cidadão, e também a criação e concretização do Sistema Único de Saúde – SUS.

A I Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em 1987, foi considerada um importante marco para a reforma brasileira, dando início a desinstitucionalização, e a criação de um novo projeto de saúde mental. Neste mesmo ano, realiza-se o II Congresso Nacional do MTSM, onde foi decidido juntamente com técnicos, usuários, familiares, a força ativa e favorável à desconstrução manicomial, surgindo o lema “Por uma Sociedade sem Manicômios”, criando o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, tomando proporção de um movimento social conhecido como Movimento Nacional da luta Antimanicomial – MNLA. (PACHECO, 2009).

Berlinck, em relação às três Conferências Nacionais de Saúde realizadas no Brasil em 1987, 1992 e 2001 afirma que:

com o objetivo de criar um novo lugar social para doença mental ocorre a substituição do termo doença mental por sofrimento psíquico e pessoas portadoras de sofrimento psíquico. Pensava-se, nessa época, que se a sociedade acabasse com as formas institucionais concretas de exclusão, isso garantiria os direitos de subjetividade autônoma para aqueles que por séculos foram socialmente excluídos, por serem, a partir de então, considerados cidadãos iguais perante a lei. Entretanto, essa igualdade tende a ser formal e abstrata porque, concretamente, não somos todos iguais. Em outras palavras, o discurso da igualdade formal ou legal é abstrato porque, ao tomar o indivíduo como expressão particular de uma entidade universal – o homem racional, livre e igual – oculta as diferenças concretas. O que se torna necessário, portanto, é a identificação e o respeito às diferenças (BERLINCK, 2010, p.91-92).

Os princípios de desospitalização e desinstitucionalização para a segurança dos direitos de cidadania dos doentes mentais diferenciaram o movimento de reforma psiquiátrica (MACHADO, 2005).

A esperança do tratamento sem exclusão é de que os portadores de transtorno mental recebam tratamento sem que a ele seja recusado o direito à liberdade, de forma que a sociedade os acolha e solidarize-se com os mesmos. Com relação a estas expectativas Lancetti (1990), pontua que:

Não é para recuperar socialmente nem para retomar a normalidade que a experiência vale apena ser empreendida. Não se trata de simples reintegração social, nem de retornar à loucura antes do seu confinamento histórico. A convivência com o que o doente mental tem de louco, a artesania de viver nesse limiar faz emergir formas de sociabilidade que operam deslocamento no plano moral, jurídico, estético, político e histórico (LANCETTI, 1990, p.145).

Em linhas gerais, este movimento foi importante e crucial para a criação de novas expectativas, fomentando o surgimento de vários dispositivos substitutivos de assistência em base comunitária e contínuas propostas de políticas públicas em saúde mental, no sentido de possibilitar a inclusão dos portadores de sofrimento psíquico, possibilitando ainda, por parte dos gestores em saúde, o tratamento técnico adequado aos mesmos.

De acordo com Mathias, 2006:

Nos últimos dez anos, várias portarias e resoluções do Ministério da Saúde, leis estaduais e a Lei Federal nº 10.216, de 06/04/2001, apontam firmemente a necessidade de que a atenção ao portador de sofrimento mental deve dar-se, prioritariamente, em serviços não hospitalares, que privilegiem a não internação do portador de sofrimento mental em hospitais psiquiátricos (MATHIAS, 2006, p.33).

Apesar das resistências, a superação aos hospitais psiquiátricos prossegue sendo um trabalho em contínuo movimento, esta proposta tem gerado grandes transformações sociais, na tentativa de substituir estes cuidados. Tal tentativa tem obtido resultados positivos, a prova disso, são as diversas mudanças na assistência, a partir de variados modelos substitutivos centrados na atenção psicossocial.

Contudo, a partir dos modelos substitutivos que vão surgindo, é preciso ainda que se valorize a reintegração social, não se permitindo cristalizar-se no interior destes.

4 MODELOS SUBSTITUTIVOS

 

4.1 Centro de Atenção Psicossocial – CAPS

De acordo com a linha guia de saúde mental, “Chamamos de rede de serviços substitutivos em Saúde Mental o conjunto de ações e de equipamentos necessários a cada município para que não se necessite do recurso ao hospital” (LINHA GUIA DE SAÚDE MENTAL, 2007, p.34).

O ministério da saúde define o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, como:

serviço de saúde aberto e comunitário do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros, cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p.13).

Em suma o objetivo deste, é prestar atendimento a população, promover a inserção dos usuários através de ações como, trabalho, lazer, exercício dos direitos civis, promovendo também o fortalecimento dos laços familiares e comunitários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

As atividades propostas e oferecidas neste espaço são variadas, sendo elas, oficinas terapêuticas, atividades esportivas, alfabetização, profissionalização, atividades artísticas, orientação e acompanhamento do uso de medicação, psicoterapia individual ou em grupo, dentre outras (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

Desta forma, este serviço constitui como um modelo substitutivo ao manicômio, no atendimento a pessoas que tem algum comprometimento psíquico, criando à possibilidade de redução das internações e oportunidades, para que estes usuários ressignifiquem o seu tratamento, diferenciando-se dos modelos psiquiátricos anteriores, onde este atendimento substitutivo se dá em liberdade.

A constituição da equipe deve-se compor de princípios como a multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, visando à participação e a troca de experiências, na elaboração de um projeto que propicie a coletividade. Diferente das posturas dos hospitais psiquiátricos, tais equipes são compostas por profissionais como, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, pedagogos, enfermeiros, psiquiatras, entre outros (LINHA GUIA DE SAÚDE MENTAL, 2007).

Para que este modelo obtenha sucesso, é preciso que hajam continuamente alternativas transformadoras para o fim dos hospitais psiquiátricos. Sugere o encerramento sem que existam alternativas comunitárias que substitua única e exclusivamente tais instituições, estas duas propostas devem ocorrer ao mesmo tempo, de forma gradual e coordenada. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2002).

Neste mesmo sentido, a OMS (2002) pontua:

É preciso que os serviços e as estratégias de saúde mental sejam bem coordenados tanto entre si como com outros serviços, tais como a segurança social, educação, emprego e habitação. Os resultados em saúde mental devem ser monitorizados e analisados, para que as decisões possam ser continuamente ajustadas, no sentido de fazer face a novos desafios. […] descreve também três ingredientes fundamentais dos cuidados – medicação, psicoterapia e reabilitação psicossocial – de que é sempre necessária uma combinação equilibrada. Analisa, ainda, a prevenção, o tratamento e a reabilitação no contexto das perturbações destacadas (OMS, 2002, p.22-23).

O AT neste sentindo, é um importante articulador desses serviços, operando junto a estes, no intuito de garantir que os usuários frequentem e ressignifiquem este tratamento promovendo outros sentidos para além da “doença mental” (BENEVIDES, 2007, p.123).

Sendo assim, é de fundamental importância que os diversos profissionais da área, a sociedade, família, usuários, estejam sempre em alerta, buscando sempre transformações nesta substituição, rompendo com as formas cristalizadas, pois, ainda existem inúmeros centros de atenção psicossocial, que improvisa-se “atendimento”, devido as condições precárias que se encontram, resultando assim em “mini manicômios”, o que de fato não é sua proposta, e sim, a transformação do modelo assistencial.

4.2 Serviço Residencial Terapêutico – SRT’s

A Portaria 106, de 11 de fevereiro de 2000, do Ministério da Saúde, instituiu os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT’s), na perspectiva de reestruturar o modelo de atenção ao portador de transtornos mentais no âmbito do SUS; ainda, garantir assistência integral e eficaz em saúde mental para reabilitação psicossocial do mesmo, como, também, a reintegração social através do atendimento psiquiátrico humanizado e, finalmente, pela necessidade da implementação de políticas de melhoria da qualidade da assistência à saúde mental (Ministério da Saúde, 2000).

A proposta dos Serviços Residenciais Terapêuticos é possibilitar atendimento efetivo, além de promover a reintegração social ao portador de sofrimento psíquico, e assim acolhê-los de uma forma mais humanizada, oferecendo a estes indivíduos um lugar social, uma moradia.

De acordo com o Ministério da Saúde (2004):

As residências terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia para um grande contingente de pessoas que estão internadas há anos em hospitais psiquiátricos por não contarem com suporte adequado na comunidade. Além disso, essas residências podem servir de apoio a usuários de outros serviços de saúde mental, que não contem com suporte familiar e social suficientes para garantir espaço adequado de moradia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p.5).

Tendo em vista a necessidade de apoio e suporte ao portador de sofrimento psíquico egresso de instituições de internação, o Serviço Residencial Terapêutico busca promover a inserção do usuário na rede de serviços, bem como sua progressiva inclusão social.

De acordo com o Ministério da Saúde (2004), as SRT’s não são serviços de saúde, mas locais de moradia articulados à rede de atenção psicossocial do município. As residências terapêuticas beneficiam os egressos das instituições de internação, mas podem também atender usuários em acompanhamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e/ou moradores de rua com transtornos mentais severos em acompanhamento também pelo CAPS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p.7 – 8).

Juntamente com o CAPS, este dispositivo é fundamental ao processo de articulação social, resultando na assistência integral aos usuários egressos de hospitais psiquiátricos.

Em relação ao SRTs Milagres (2003), afirma que:

ter uma casa, ou lar, onde se sente seguro possibilita ao indivíduo ‘se lançar no mundo’,encarar desafios, ora obtendo conquistas, ora enfrentando os desacertos, ou mesmo as dúvidas que a vida lhe impõe. Aconteça o que acontecer, há sempre a possibilidade de ‘voltar para casa’, para ‘segurança do lar’ (MILAGRES, 2003, p.143).

Este serviço dá a oportunidade ao indivíduo de resgatar a sua autonomia, a sua reintegração, pois ao mesmo tempo em que se torna um lar, se torna um ambiente que promove um suporte preciso aos usuários em processo de desospitalização. Enfim não se trata de um serviço de saúde e nem de internação, se trata de um lar que funciona de portas abertas, criando possibilidades desse sujeito ir e vir.

4.3 Programa de volta para casa

O programa de Volta para casa é um dispositivo de atenção em saúde mental que beneficia pessoas com transtornos mentais, busca-se através desse programa a reintegração social das pessoas egressas de longas internações, mostra-se um mecanismo concreto e poderoso de apoio e auxílio na reabilitação psicossocial (BRASIL, 2005).

De acordo com o Ministério da Saúde (2005), este modelo foi criado pela lei federal 10.708, em 2003, e vários objetivos foram estabelecidos para sua construção, estimulando o exercício pleno dos direitos civis, políticos e da cidadania.

Machado (2005), em relação a este, pontua:

programa permanentemente de formação de recursos humanos para a reforma psiquiátrica; a promoção dos direitos dos usuários e de suas famílias, incentivando a participação no cuidado; a garantia do tratamento digno e de qualidade ao paciente infrator, superando o modelo de assistência centrado no Manicômio Judiciário; avaliação contínua de todos os hospitais psiquiátricos pelo Programa Nacional de Avaliação(Pnash/Psiquiatria), (MACHADO, 2005, p.13).

Em relação a este contexto, nota-se que ainda existem práticas hospitalares, mesmo que diferenciadas e sobre avaliação. A função deste programa ainda que seja de apoio, apresenta a contínua e crescente tentativa de transformação destas práticas, criando oportunidades para o paciente infrator se reinserir no meio social.

4.4 Acompanhante Terapêutico – AT

 

Primeiramente, o Acompanhante Terapêutico foi nomeado de “amigo qualificado”, porém, tal expressão deixou de ser usada, devido o seu conteúdo pouco profissional. Surge na Argentina o acompanhante terapêutico (AT) como uma necessidade clínica para pacientes cujas terapêuticas clássicas falhavam (MAUER; RESNIZKY, 1987; PORTO; SERENO, 1991).

Diversos fatores foram contribuintes para o surgimento do Acompanhante Terapêutico, como a Antipsiquiatria, a Reforma Psiquiátrica e o movimento Antimanicomial.

Fazendo-se necessário as transformações internas dos hospitais psiquiátricos, surgem na Alemanha, Inglaterra e EUA, as chamadas comunidades terapêuticas, cuja finalidade era buscar novas formas de lidar com a loucura, criando locais de acolhimento “concebidos como refúgio onde a verdade e o poder de contestação contidos no discurso do louco poderiam ser reconhecidos” (BERGER; MORETTIN; NETO, 1991, p.22).

Neste mesmo contexto, onde as mudanças se restringiam somente a ordem institucional, Basaglia (1982), baseado nos pressupostos da fenomenologia e do existencialismo, faz-se necessária crítica, dizendo que as comunidades terapêuticas eram apenas “uma reciclagem da velha gestão manicomial” (BASAGLIA, 1982, p.85).

No Brasil, final da década de 1960, os ideais da antipsiquiatria começam a tomar corpo com o aparecimento das primeiras comunidades terapêuticas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro. Nessas instituições, o recurso do acompanhamento terapêutico inicia-se empregado e desempenhado por jovens, na maioria das vezes, universitários. Esses “seriam capazes, sem ter que se preocupar com um futuro na carreira de enfermagem, de se permitir à aproximação e à experiência dos pacientes desintegrados” (COOPER, apud BERGER e cols., 1991, p. 23).

A partir das atividades desenvolvidas nas instituições, estes passaram a ser chamados de “auxiliares psiquiátricos” (IBRAHIM, 1991). O auxiliar psiquiátrico tinha como campo de trabalho o sujeito dentro do próprio estabelecimento, e participava de todo o dia-a-dia dos pacientes, em regime hospitalar-dia e internação. Sua função era coordenar junto aos outros profissionais, as atividades desenvolvidas, tais como jogos, realização de festas, atividades diárias, dentre outras (LONDERO; PACHECO, 2006).

Entretanto, na década de 1970, ocorre a decadência das comunidades terapêuticas, fazendo com que os auxiliares psiquiátricos perdessem a sua funcionalidade e seu campo de trabalho, pois recompensá-los tornara-se inviável para tais instituições. Ainda assim, estes, continuaram a ser solicitados para trabalhos privados nas residências dos pacientes, e o acompanhamento passa a ser no ambiente doméstico, possibilitando o contato direto ao cotidiano do indivíduo, e o seu universo familiar (IBRAHIM, 1991).

As comunidades terapêuticas, embora não foram substitutivas, foram essenciais para transformação das práticas psiquiátricas, e o surgimento da prática AT. Tais comunidades visavam somente à transformação interna das instituições. Neste mesmo sentido Pacheco (2009) afirma que, a hipótese inicial deste serviço, era que a instituição que deveria ser tratada, o que resultou posteriormente em locais mais humanizados, porém não substitutivo, por ainda funcionar dentro dos hospitais.

Consequentemente no Brasil, com a necessidade de reformulação da assistência em saúde mental, surgem os movimentos, Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial.

Conforme afirma Pelliciolli; Guareshi; Bernardes 2004:

Entendemos que o Acompanhante Terapêutico constitui-se como dispositivo complementar e que contribui para a efetivação destas (da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial) e, neste sentido, tem estreita ligação para com estas (PELLICIOLI; GUARESHI; BERNARDES 2004, p.2).

Entende-se que, não bastava destruir tais instituições, era preciso a partir desta desconstrução, oferecer suporte social para o sucesso da mesma, possibilitando a estes instituídos adentrar-se nesse novo espaço social, e ao espaço social adaptar-se a estes.

O movimento de reforma psiquiátrica, com a substituição dos modelos de tratamento manicomiais pelo modelo de atenção psicossocial, no qual a reinserção social do portador de sofrimento psíquico era o principal objetivo, contribuiu efetivamente para o surgimento da clínica do acompanhamento terapêutico (FERREIRA, 2006).

Segundo Silva e Neves da Silva (2006):

O AT é considerado uma prática na área da saúde que tem como principal característica o fato de ser uma atividade que não fica restrita ao espaço físico de uma determinada instituição – hospital, consultório ou escola, por exemplo. Suas possibilidades de intervenção são variadas […] (SILVA, NEVES DA SILVA, 2006, p.211).

Partindo desta reflexão, o AT apresenta-se como uma estratégia substitutiva com ações terapêuticas voltadas para a atenção psicossocial, que se dá de forma livre, diferenciando-se das práticas cristalizadas intramuros. É uma prática extremamente variante, no sentido de ser inovadora a cada dia, a cada momento, não se restringindo a um local ideal, ou abordagem específica, qualquer espaço se torna terapêutico.

O percurso do AT constituiu-se essencialmente na área da saúde, juntamente com várias outras disciplinas, principalmente com a Psicologia, a Enfermagem, a Terapia ocupacional e a Medicina, demandando novas práticas de cuidado e questionamentos das estruturas tradicionais (SILVA, 2005).

Progressivamente o AT foi ganhando o espaço social, revelando ser uma das ferramentas principais na promoção dos cuidados em saúde mental, bem como, o dispositivo fundamental para a inclusão social.

O Acompanhante Terapêutico vem sendo conceituado de diversas formas, devido as variáveis que esta prática apresenta, segundo Bradalise e Rosa (2009):

O AT trata-se de uma clínica que atua junto à experiência do paciente, sustentada nas redes de relações psicossociais […] uma forma de se fazer clínica nos espaços sociais. Utiliza-se a rua, o quarto, o parque, o cinema, o trabalho, cenários da vida do paciente a serem apropriados, que venham promover inserção social e a expressão de sua subjetividade (BRANDALISE; ROSA, 2009, p.4).

Tais características remetem as diversas possibilidades de atuação deste, para promover o tratamento do indivíduo portador de sofrimento psíquico, ou seja, trabalha-se o espaço como prática de inclusão.

O vínculo estabelecido com o Acompanhante Terapêutico é essencial também para que a família reconheça mais sobre a dificuldade, as possibilidades de desenvolvimento, sobre os tratamentos, e a necessidade de não isolar o indivíduo e sim auxiliá-lo a manter-se ativo e participativo (FERREIRA, 2006).

Este dispositivo é uma alternativa de substituição da internação, cuja estratégia de intervenção é voltada para a socialização, ou seja, é um recurso no tratamento psíquico e também nas questões que envolvem a vulnerabilidade social, permitindo-se um atendimento de forma mais humanizada. Buscando-se, assim, atender as necessidades e desejos do indivíduo acompanhado, permitindo a este, vislumbrar novos horizontes (BERLINCK, 2010).

O trabalho do AT atualmente é bem reconhecido pelos profissionais da área em saúde mental, tendo sua admirável relevância, especialmente nos casos em que se exige atenção e intervenções fora do ambiente de consultório. Este profissional realiza tarefas com o paciente, proporcionando melhora do seu quadro, especialmente no âmbito social. É esperado que este venha ser um agente complementar na melhora do paciente, e que contribua para uma melhoria na sua qualidade de vida e da sua família (LONDERO; PACHECO, 2006).

Todavia, instala-se então, um importante dispositivo para a reintegração social; o Acompanhante Terapêutico, dando continuidade ao atendimento, abrindo caminho para o novo e para o desenvolvimento social.

Em se tratando de vários avanços na atenção em saúde mental, o AT mostrou-se desde sua criação, que é um contínuo estimulante para o processo de reintegração social na promoção da saúde, e um importante incentivo contra as práticas cristalizadas. É preciso transformar a relação da sociedade com o portador de sofrimento psíquico, buscando continuamente novas formas de suporte para este, adaptar-se ao meio social, resgatando seus vínculos sociais, familiares e sua cidadania, enfrentando assim, o diferente e adaptando-se ao novo, viabilizando seu sofrimento e também da sua família.

Ao longo do tempo, de acordo com Carniel (2008), o acompanhamento vai deixando de ser realizado por leigos e estudantes, passando a ser realizado por profissionais, na maioria das vezes da área de saúde mental e em coletividade, ainda afirma:

Uma abordagem isolada não tem a mesma eficácia do que aquela inserida no contexto do todo. […] A formação é multidisciplinar com espaço para vários profissionais conjuntamente : o psiquiatra, o psicólogo, o enfermeiro, o terapeuta ocupacional, o musicoterapeuta e o aterterapeuta, o assistente social, o acompanhante terapêutico, entre outros (CARNIEL, 2008, p. 31-32).

Sendo assim, o AT vai se deslocando do senso comum, para o campo profissional, vários profissionais da área de saúde vão se articulando a esta prática, cada um com suas particularidades, somando assim, em uma coletividade para o conhecimento eficaz do caso em questão.

Por fim, é fundamental ressaltar que o papel do AT não é controlar, e sim acompanhar, permitindo ao portador de sofrimento psíquico adaptar-se ao meio, seja na praça, clube, na sua casa, no seu quarto, na sua sala, na escola, no bar; o objetivo será a sua ressocialização e não a exclusão.

4.5 O Psicólogo como Acompanhante Terapêutico

O Psicólogo atuando como Acompanhante Terapêutico é bastante recente, ainda se encontra em fase de consolidação da parte teórica e técnica (LONDERO; PACHECO, 2006).

No Brasil, em alguns registros de experiências publicados, por exemplo, em 1985, José Eggers observou, através da experiência da equipe do Instituto de Psiquiatria Compreensiva, que a dificuldade de definir o Acompanhante Terapêutico se deve à grande diversidade dos aspectos que abrangiam essa função.

Entretanto, este estudioso compartilha de vários autores uma definição do AT:

Um profissional de saúde mental, só existe dentro da equipe terapêutica, com um papel complementar ao do psicoterapeuta, agindo de fora do setting no tratamento de pacientes críticos e com a função específica de ensinar a operar no marco social (EGGERS, 1985, p.7).

O AT em Porto Alegre era desempenhado por acadêmicos de medicina recomendados na maioria das vezes pelos professores de psiquiatria. Vale a pena ressaltar esse dado, pelo fato de ter iniciado uma diferenciação no perfil daqueles que desempenham o AT, não são mais leigos, mas estudantes de medicina (PARAVIDINI; ALVARENGA, 2008).

O AT constitui-se como uma clínica no meio social, utilizando este espaço como dispositivo para o ato analítico (CABRAL, 2005).

Cria-se nestes espaços a oportunidade de fazer uma escuta diferenciada com estes pacientes, marcados pela exclusão social e muitas vezes familiar.

Vários fatores são considerados necessários para a indicação do acompanhamento terapêutico, sendo eles, a incapacidade funcional, as dificuldades da família, classes diagnósticas, internação psiquiátrica, adesão ao tratamento, déficit no comportamento social e limites da psicoterapia (LONDERO; PACHECO, 2010).

O acompanhamento terapêutico, pode se dar por um psicólogo no caso em questão, por psiquiatras, terapeutas ocupacionais, entre outros. Qualquer um pode demandar o acompanhamento, basta acioná-lo, fazendo um contrato de prestação de serviços com o profissional AT.

O psicólogo atuando como AT, usa o espaço do paciente como recurso clínico, utilizando as ferramentas para desempenhar sua prática, como a escuta diferenciada, a atenção aos contatos sociais, para além da dupla (AT + paciente) e a orientação sobre estratégias psicológicas, comportamentais e fisiológicas.

Em um trabalho realizado por Generoso, Maia e Fonseca (2002), em Belo Horizonte, por meio de uma experiência na Clínica Urgentemente, apresentou a proposta de que o AT devesse ser um profissional psicólogo, da área de saúde ou terapeuta ocupacional com experiência clínica prévia e com nível superior completo. É o psiquiatra ou terapeuta do caso, que recomenda e ativa o dispositivo do AT, para desenvolver um “projeto terapêutico”.

Os projetos terapêuticos, não são produtos da simples aplicação dos conhecimentos sobre a doença, emergem do diálogo e também da articulação entre os profissionais de saúde e os usuários dos serviços de saúde. Tem por objetivo compreender o contexto específico dos diferentes encontros, onde a partir disto, selecionará os elementos relevantes para a elaboração do projeto terapêutico. Isso se dá, a partir do conhecimento do profissional que acompanha, como também das questões apresentadas pelo sujeito, ou seja, seus sofrimentos, suas expectativas, seus temores e seus desejos, possibilitando identificar as necessidades de ações e serviços (MATTOS, 2004, p.1415).

Os objetivos incluídos são: arquitetar mecanismos de convivência produtiva e integrada do acompanhado dentro da sociedade, reinserir o indivíduo no processo produtivo, ir além de as barreiras atribuídas pelo adoecimento psicótico, desempenhar o seu papel social e em alguns casos a subsistência, instigar a autonomia na concretização de atividades relacionadas a cuidados com objetos pessoais, higiene e promover a reapropriação dos lugares de importância para o acompanhado, uso do dinheiro, excitando a movimentação por estes ambientes (PARAVIDINI; ALVAREGA, 2008).

Observa-se que o trabalho do AT é percebido pelos profissionais como fundamental, e em alguns casos, torna-se o pilar central de todo planejamento terapêutico, pelo fato de passar mais tempo com o paciente, e assim, ter uma visão privilegiada da vida cotidiana (LONDERO; PACHECO; P.B, 2006).

Conforme afirma Ghertman (1997), “dentro da cena da saúde mental moderna o AT já aparece como peça fundamental na ajuda à desinstitucionalização de pacientes crônicos” (GHERTMAN, 1997, p.233).

As condições que uma pessoa deve ter para ser um Acompanhante Terapêutico são: autonomia, elevado grau de comprometimento, habilidade para a assistência, maturidade, interesse por trabalhar em equipe, capacidade de vínculo e empatia, capacidade de agrupar a teoria com a prática, flexibilidade em colocar limites intensos, além de carência de estereótipos e preconceitos (MAUER E RESNIZKY, 1987).

Segundo Carvalho (2004), o Acompanhamento Terapêutico (AT) trata-se de uma clínica que se desenvolve nos mais diferentes lugares e contextos, ocorrendo no cotidiano, como um recurso inovador, uma vez que atua no espaço de articulação profissional, familiar e social. O Acompanhante Terapêutico atua principalmente no âmbito da residência, especialmente na objetivação da reordenação do espaço e das relações afetivas e familiares do portador de sofrimento psíquico.

Para Reis (2005 apud PARAVIDINI e ALVARENGA 2008, p.175), afirmam que:

Não é propriamente uma teoria de psicoterapia, mas um modo de atuação do psicoterapeuta. De maneira resumida, consiste na articulação que é feita pelo psicoterapeuta fora do setting, acontecendo no contexto em que o paciente vive a princípio utilizada nos casos mais graves de ajustamento social vêm sendo também utilizada nos demais casos como um fator pontencializador do processo psicoterápico (REIS, 2005 apud PARAVIDINI ,2005, p.175).

Em seu artigo, Reis (2005), apresenta o AT, como um estilo de atuação do psicoterapeuta. Assinala que sua primeira utilização se destinou a causar o “ajustamento social”, e recentemente é usado como “fator potencializador do processo psicoterápico”. Ao classificar o AT como um “modo de atuação” do psicoterapeuta emprega esta modalidade para potencializar o processo psicoterápico, o que mostra uma condição do profissional AT bem distinto das anteriormente citadas, tais como: um estudante, o acompanhante ser um leigo ou profissional que complementa o trabalho do terapeuta. É o psicoterapeuta AT que atua para potencializar o processo psicoterápico (REIS, 2005, apud PARAVIDINI; ALVAREGA, 2008, p.175).

Conforme Silva e Neves da Silva (2006):

As práticas de acompanhamento terapêutico vêm sendo analisadas principalmente desde a década de 1980. Cada vez mais, percebemos que essa é uma atividade extremamente rica, com um vasto campo de atuação em contínua criação e com uma importante eficácia nos trabalhos que se propõe desenvolver, além de se constituir em um importante campo para pensar a relação entre as práticas em saúde e os processos de subjetivação contemporâneos (SILVA e NEVES DA SILVA, 2006, p.211).

Portanto, este estudo apresenta a relevância do psicólogo no acompanhamento fora do setting; o importante também é que o profissional psicólogo atuando fora do setting no atendimento ao paciente, poderá buscar questões que emergem no ambiente social do acompanhado; podendo auxiliar este paciente em seu tratamento, buscando assim, um sentindo inovador para o sucesso da sua prática.

O AT tem várias possibilidades de atuação prática, podendo ser um auxiliar, psiquiatra, terapeuta ocupacional, enfermeiro, dentre outros.

O profissional irá definir a sua atuação, usando o seu referencial de escolha, atendendo tanto dentro de instituições, quanto fora delas. Fazendo tratamentos, intervindo, usando métodos e técnicas clínicas para promover saúde e qualidade de vida para os seus acompanhados, e assim, entender o fenômeno que se encontra, inusitado fora do ambiente, utilizando de ferramentas clínicas de sua preferência, que também poderá aplicar para um maior entendimento do caso.

Vale destacar a importância da psicologia neste processo, articuladas ao profissional psicólogo no resgate aos vínculos e no âmbito da reabilitação psicossocial do indivíduo, na qual suas ferramentas principais são a escuta diferenciada e o olhar clínico para além do fenômeno que este se encontra.

Berlinck (2010), afirma que é possível propor uma perspectiva inovadora para a formação psicólogo atuando como AT.

Quanto ao seu papel de atuar fora do consultório Zamignani e Wielenska, (1999) afirmam que:

 Observa-se que os profissionais percebem as atividades do AT intimamente ligadas ao espaço físico no qual essas ocorrem, ou seja, seu trabalho está fundamentado em situações extra consultório e no ambiente natural do cliente. A atuação do AT tem como foco de trabalho as situações cotidianas que o paciente enfrenta, tais como ir ao banco, à faculdade, a festas, a viagens, etc; fazendo o trabalho de monitoração (risco de uso ou abuso de substâncias), de controle (casos de agressividade) e de intervenção in loco. Assim, “é tarefa do AT desenvolver as atividades terapêuticas e procedimentos planejados, seja em situação natural, no consultório ou na instituição, sempre sob supervisão constante” (ZAMIGNANI; WIELENSKA, 1999, p. 159).

É uma prática diferenciada, permitindo uma flexibilidade de atuação, uma ampliação das suas funções, aprimorando continuamente as práticas voltadas para o processo de reabilitação psicossocial.

Em relação ao amplo campo desta prática AT, Pelliciolli; Guareshi; Bernardes (2004), afirmam que:

Este desempenhava tão somente um papel de auxiliar de psiquiatras e/ou psicólogos responsáveis pelos atendimentos. Questões relativas ao diagnóstico, perspectivas clínicas, intervenções terapêuticas estavam fora de sua competência. Hoje, o acompanhante terapêutico não só atua em parceria com instituições psiquiátricas e hospitalares como fora delas: é requisitado por escolas especiais, instituições clínicas, centros de atendimentos à saúde mental no âmbito público e diretamente por familiares de portadores de sofrimento psíquico. Não obstante, nestes casos, é o único agente terapêutico envolvido no caso […] No rastro deixado pelo movimento em favor de uma reforma na psiquiatria surgem demandas para diferentes abordagens de tratamento aos pacientes, principalmente, psicóticos e esquizofrênicos […] (PELLICIOLLI; GUARESHI; BERNARDES, 2004, p.3).

Ainda segundo estes autores quanto ao AT:

O espaço público, desde então, começa, timidamente, a ser compreendido como um alargamento do campo possível de tratamentos para pacientes portadores de sofrimento psíquico […] Se assim o é, ele apresenta-se no contemporâneo, então, como um campo de análise e intervenção da Psicologia Social e entendido como um possível laboratório de novas tecnologias no espaço da saúde: um campo de forças e discursividades capaz de gerar uma reorganização subjetiva e social no plano terapêutico através de dispositivos e ferramentas viabilizadas por uma ação pública, estratégica e direcionada, descentrando-o de seu antigo aspecto assistencial e auxiliar e sustentado predominantemente no trato com a psicopatologia PELLICIOLLI; GUARESHI; BERNARDES, 2004, p.5).

A experiência é nova, e institui novos caminhos para uma assistência diferenciada, desta forma, quanto à importância deste profissional na dimensão deste inovador aprendizado, não se deve furtar que foram os leigos que iniciaram esta atividade, e que, não se trata aqui de ser melhor ou pior, e sim de um trabalho interdisciplinar e multidisciplinar, onde o principal foco é estimulação para a reintegração social, e o resgate da qualidade de vida do indivíduo portador de sofrimento psíquico, dando a estes cidadãos novas possibilidades de se relacionar com o novo. O trabalho do Acompanhante Terapêutico como psicólogo deve ser direcionado a procura de estratégias que superam a atuação institucional, de forma a admitir a realidade enfrentada pelo usuário na sua plenitude, bem como os serviços que são admissíveis de serem acessados.

5 METODOLOGIA

5.1 Fonte de dados

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, estruturado em uma revisão bibliográfica, sobre a temática o acompanhamento terapêutico no processo de reinserção social do portador de sofrimento psíquico, publicada e indexada em bases de dados como BVS (Biblioteca Virtual da Saúde), Scielo (Scientific Electronic Library Online), Lilacs, (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), no período de 2011 a 2012.

Utilizaram-se as seguintes palavras-chave. Acompanhante Terapêutico. Portador de sofrimento psíquico. Reintegração Social.

5.2 Procedimentos Metodológicos

 O desenvolvimento do procedimento metodológico desse estudo bibliográfico iniciou-se a partir da leitura exploratória sobre acompanhamento terapêutico, analisando o referencial disponível e seu interesse à pesquisa; seguiu-se a leitura seletiva, determinando os referenciais teóricos necessários à pesquisa em função dos objetivos do presente trabalho e por fim, realizou-se leitura analítica, sumariando qualitativamente as unidades de sentido contidas nas fontes com vistas à obtenção de respostas acerca do objeto de estudo/problema de pesquisa.

 

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho realizado como pesquisa bibliográfica possibilitou adentrar no campo teórico da atuação do Acompanhante Terapêutico, e também apresentar as perspectivas de sua abordagem como prática fundamental na assistência em saúde mental.

Durante o resgate do processo histórico da loucura, foi possível compreender as diversas representações sociais que o portador de sofrimento psíquico sofria e a importância que este modelo substitutivo tem para com estes.

Foram milhares de seres humanos submetidos a maus tratos, violência, no qual o “tratamento” se dava de forma excludente, permanecendo encarcerados, segregados, exclusos, passando a serem cobaias de diversas práticas desumanas.

Através de alguns autores como Foucault, Amarante, Pacheco, dentre outros, foi possível perceber as representações sociais que estes indivíduos sofreram ao longo dos anos.

Foi preciso percorrer o período histórico a partir da Grécia antiga, pois este momento histórico teve grande importância sobre as representações da loucura que refletem até os dias atuais.

De acordo com Silveira; Braga (2005), na Grécia antiga a loucura era tida como divina, as pessoas acreditavam que estes indivíduos tinham acesso a verdades divinas. Neste período foi possível perceber que a loucura era relacionada às questões místicas, e possuía um lugar viável e aceito na sociedade.

Conforme a linha guia de saúde mental, na idade Clássica, os loucos tinham uma existência facilmente errante, muitas vezes sendo entregues a grupos de mercadores peregrinos, andavam soltos pelos campos distantes sem direção. Na idade média a loucura era entendida como possessão diabólica, de acordo com Matos de Sá (2010), os loucos eram condenados muitas vezes às fogueiras.

A carência de compressão e conhecimento acerca deste fenômeno, levou a loucura a caminhar em uma direção totalmente oposta, representando o mal, ou seja, o problema social.

Assim, esses “pecadores”, ou seja, “loucos”, no lugar da prisão com vários outros indivíduos, passaram a ser trancados em asilos ou manicômios com o intuito de serem estudados e tratados; a loucura passa a ser reconhecida como doença mental.

Foi nesse momento, que este fenômeno foi obrigado a se silenciar, ficar preso a si mesmo. A loucura permaneceu fechada, aprisionada, dentro dos templos da ciência, foram inúmeras técnicas experimentais utilizadas, hoje consideradas “absurdos terapêuticos”, tais como, traumaterapia, cadeiras giratórias, banhos de imersão, experiências com medicações, eletrochoque, lobotomias (PACHECO, 2009).

A partir dessas experiências traumáticas, foram surgindo ao longo do tempo, várias discussões relativas a essas práticas desumanas.

Em relação à Reforma psiquiátrica, esta trouxe diversas possibilidades de reformulação na assistência em saúde mental (DELGADO, 1992, p. 29).

De acordo com Pellicioli; Guareshi (2004), a Reforma Psiquiátrica e a luta antimanicomial contribuíram efetivamente para o surgimento do Acompanhante Terapêutico. O AT é fundamental para oferecer suporte aos indivíduos egressos dos hospitais, possibilitando a estes adentrarem e se reintegrarem na sociedade.

O AT apresenta-se como uma estratégia substitutiva com ações terapêuticas voltadas para a atenção psicossocial, que se dá de forma livre, diferenciando-se das práticas cristalizadas intramuros. É uma prática extremamente variante, no sentido de ser inovadora a cada dia, a cada momento, não se restringindo a um local ideal, ou abordagem específica, qualquer espaço se torna terapêutico. Sua atuação, tem como objetivo promover o tratamento mais humanizado ao portador de sofrimento psíquico, como também buscar através do espaço social a reintegração destes indivíduos.

De acordo com as informações encontradas, percebe-se a relevância que este profissional tem no acompanhamento e atendimento aos indivíduos que sofrem de algum transtorno psíquico, buscando efetivamente reintegrá-los ao meio social, bem como, resgatar os seus vínculos sociais, familiares, autonomia e cidadania.

O AT mostrou-se desde sua criação, que é um contínuo estimulante para o processo de reintegração social na promoção da saúde, e um importante incentivo contra as práticas cristalizadas. É preciso transformar a relação da sociedade com este cidadão, buscando continuamente novas formas de suporte para este adaptar-se ao meio social, enfrentando o diferente e adaptando-se ao novo, viabilizando assim, a diminuição do seu sofrimento.

O movimento de Reforma Psiquiátrica foi importante e crucial para a criação de novas expectativas, fomentando o surgimento de vários modelos substitutivos centrados na atenção psicossocial.

 Chamamos de rede de serviços substitutivos em Saúde Mental o conjunto de ações e de equipamentos necessários a cada município para que não se necessite do recurso ao hospital” (MINAS GERAIS, 2007, p.34).

Estes serviços buscam descentralizar os modelos de internação, diferenciando-se das práticas antecedentes.

De acordo com a OMS, (2004), o Caps é um serviço aberto, e comunitário, tem por objetivo prestar atendimento às pessoas que sofrem de transtornos mentais. Este serviço mostrou os primeiros passos da Reforma, e vem crescendo paulatinamente.

O AT é um importante articulador desses serviços, operando junto a estes no intuito de garantir que os usuários frequentem e ressignifiquem este tratamento promovendo novos sentidos para além da doença mental (BENEVIDES, 2007, p.123).

Ainda existem inúmeros centros de atenção psicossocial, que improvisam seu “atendimento”, devido as condições precárias que se encontram.

A Portaria 106, de 11 de fevereiro de 2000, do Ministério da Saúde, instituiu os Serviços Residenciais Terapêuticos (Ministério da Saúde, 2000). Sua proposta é possibilitar atendimento efetivo, além de promover a inclusão social dos indivíduos institucionalizados nos hospitais psiquiátricos. Juntamente com o CAPS, este dispositivo é fundamental ao processo de articulação social, resulta na assistência integral aos usuários egressos de hospitais psiquiátricos.

O programa de Volta para casa é um dispositivo de atenção em saúde mental que beneficia pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2005). Percebe-se que este, estimula o exercício pleno dos direitos civis, políticos e da cidadania, dando um suporte social e financeiro para estes indivíduos infratores, buscando resgatar a sua autonomia e inclusão social.

Foi possível também perceber a relação destes serviços, articulados em prol da melhoria da qualidade de vida destes pacientes.

O AT trata-se de uma clínica que atua junto à experiência do paciente, sustentada nas redes de relações psicossociais. Utiliza-se a rua, o quarto, o parque, o cinema, o trabalho, cenários da vida do paciente a serem apropriados, que venham promover inserção social e a expressão de sua subjetividade (BRANDALISE; ROSA, 2009, p.4).

Este serviço, demonstrou durante a pesquisa uma prática inovadora, que não fica restrita a um espaço, o foco principal é o indivíduo em seu cotidiano, buscando ferramentas para se articular com o mesmo.

Percebeu-se as variações, conceituações, que o nome Acompanhante Terapêutico aderiu. É uma prática que se inova a cada dia em função do espaço em que atua.

Verificou-se durante os estudos que o AT atuando como psicólogo é bastante recente, por isso, ainda se encontra em fase de consolidação da parte teórica e técnica, e infelizmente, ainda existe uma carência de publicações atualizadas sobre essa atuação LONDERO; PACHECO,2006).

Desse modo, este estudo poderá contribuir para criação de novos trabalhos focados no psicólogo como AT.

Londero e Pacheco (2006), afirmaram que a profissão acompanhante terapêutico, ainda não é considerada uma prática legal, a especialização ou aperfeiçoamento é inexistente e não é conhecida como exclusiva de alguma área de conhecimento e profissão. Não existe uma lei que impeça um estudante ou um graduando em Psicologia atuar como AT.

Em relação a este contexto, mostra-se que é uma questão ética entender que não se trata apenas de “acompanhar”, é um acompanhar terapêutico, onde é preciso a realização de curso de capacitação para que este, esteja apto a enfrentar com êxito sua prática na área de AT, onde terá os recursos apropriados para utilização desta estratégia.

O psicólogo pode trabalhar como AT e/ou como psicoterapeuta, é ele quem vai escolher a forma de intervir, dependendo da demanda do pacientes e da sua escolha de trabalho clínico. O setting, no AT, é “ambulante”, pode ser o pátio do hospital, o cinema, a casa do paciente, o shopping, uma praça, entre outros. Cria-se nestes espaços a oportunidade de fazer uma escuta diferenciada com estes pacientes, marcados pela exclusão social, e muitas vezes familiar.

O diferencial é que o psicólogo atuando como AT, tem seu embasamento teórico, no decorrer dos fenômenos que surgem na relação AT e acompanhado, e também uma bagagem de estudos voltados para área da psicopatologia, bem como as outras disciplinas. Este profissional usa o espaço do paciente como recurso clínico, utilizando as ferramentas para desempenhar sua prática, como a escuta diferenciada, a atenção aos contatos sociais para além da dupla (AT + paciente), e a orientação sobre estratégias psicológicas, comportamentais, e fisiológicas.

Vale destacar, a importância da psicologia neste processo, articuladas ao profissional psicólogo no resgate aos vínculos e no âmbito da reabilitação psicossocial.

Berlinck (2010), relatou que apesar de todos os avanços práticos e teóricos trazidos pelo movimento antimanicomial; os cursos de psicologia no Brasil não parecem ter assimilado essa perspectiva nos projetos didáticos-pedagógicos. Entretanto, não basta à crítica, é necessário propor uma perspectiva inovadora para esta formação. Este autor ainda afirmou que é fundamental na grade curricular de psicologia acrescentar o ensino do Acompanhamento Terapêutico, refletindo sobre a maneira pela qual esse acompanhamento se configura como política de humanização dos indivíduos que estão segregados socialmente por motivos psíquicos.

O trabalho do psicólogo atuando como AT, deve ser direcionado a procura de estratégias que possam superar a atuação institucional, de forma a admitir a realidade enfrentada pelo usuário na sua plenitude, bem como os serviços que são admissíveis de serem acessados.

Conforme afirma Ghertman (1997) “dentro da cena da saúde mental moderna o AT já aparece como peça fundamental na ajuda à desinstitucionalização de pacientes crônicos” (GHERTMAN, 1997, p.233).

Assim, percebe-se que o papel do Acompanhante Terapêutico no acompanhamento e tratamento de pessoas portadoras de sofrimento psíquico é de muita relevância, especialmente considerando-se que este profissional contribui na melhoria da qualidade de vida não só do paciente como de sua família, uma vez que este, atua fora do ambiente do consultório, mas no âmbito da comunidade de convivência do mesmo.

Subentende-se, que este trabalho qualitativo venha contribuir para compreensão e entendimento da prática do Acompanhante Terapêutico (AT) no contexto social, contribuindo efetivamente na desconstrução das práticas tradicionais, bem como a descontrução do pensamento social, quanto ao sujeito portador de sofrimento psíquico. Percebe-se que existe urgência deste profissional, para a ampliação das perspectivas inovadoras na assistência em sáude mental, levando melhorias na qualidade do atendimento e no tratamento a estes cidadãos.

Portanto, este estudo apresenta a importância do psicólogo no acompanhamento fora do setting, onde poderá buscar questões que emergem no ambiente social do acompanhado, podendo auxiliar este paciente em seu tratamento, buscando assim, um sentindo inovador para o sucesso da sua prática.

7 CONCLUSÃO

Iniciou-se esse trabalho, reconstruindo a história da loucura de forma sucinta e objetiva, deixando evidente que para se falar de Acompanhante Terapêutico (AT) , é preciso levar em conta as representações sociais, como também a reforma psiquiátrica, pois estas foram influentes na sua constituição, e na necessidade do mesmo no contexto da assistência em saúde mental.

Este estudo oportunizou através de uma revisão bibliográfica, fazer uma reflexão acerca do papel do Acompanhante Terapêutico na reintegração social do portador de sofrimento psíquico e as perspectivas de sua abordagem.

Conforme o que foi apresentado no corpo deste trabalho, percebe-se que o papel do AT é de muita relevância e vem contribuindo efetivamente no processo de reintegração social do portador de sofrimento psíquico.

O AT, através da abordagem psicossocial, exerce cuidados humanizados, buscando junto ao portador de sofrimento psíquico ressignificar o seu espaço social, proporcionando novas formas de adaptação, resultando-se na melhoria da sua qualidade de vida, amenizando seu sofrimento diante dos estigmas construídos ao longo da história.

É notável que estes estigmas, ainda perseguem o indivíduo portador de sofrimento psíquico. O Acompanhante Terapêutico atua diretamente no cotidiano do indivíduo, espaço familiar e no campo central das representações, ou seja, no meio social. Com isto, evidencia a possibilidade de reconstruir um novo espaço, resultando-se em uma convivência saudável entre ambos, proporcionando a este indivíduo adaptar-se ao novo, e ao espaço social adaptar-se a este.

Diante do contexto, é importante ressaltar, que o movimento de reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial, proporcionaram um novo olhar sobre a loucura, e vem contribuindo paulatinamente na construção de estratégias para reabilitação psicossocial, contudo, ainda é necessário buscar questionamentos proporcionando cada vez mais novas táticas e transformações, e assim, promover continuamente a substituição dos modelos cristalizados para que se obtenha o sucesso desta proposta.

Considera-se o AT como uma prática que exerce continuamente o processo de desistitucionalização, contribuindo fundamentalmente na substituição dos tratamentos tradicionais, promovendo a reintegração social. É importante frisar, que este profissional qualifica o cuidado em saúde mental, articulando junto aos outros serviços substitutivos a garantia de uma atenção mais humanizada.

Percebe-se que o papel do AT, é de muita relevância e vem contribuindo efetivamente para substituição dos hospitais psiquiátricos, sua prática se dá no espaço social, não ficando restrito ao espaço físico de uma determinada instituição. São variadas as possibilidades de intervenção, seja no clube, quarto, shopping, hospital, qualquer lugar há a possibilidade de atendimento. Partindo desta reflexão, o AT apresenta-se como uma estratégia substitutiva com ações terapêuticas voltadas para a atenção psicossocial, que se dá de forma livre, diferenciando-se das práticas cristalizadas intramuros, não se restringindo a um local ideal ou abordagem específica onde qualquer espaço se torna terapêutico.

Em se tratando de vários avanços na atenção em saúde mental, o AT mostrou-se desde sua criação, que é um contínuo estimulante para o processo de reintegração social na promoção da saúde, e um importante incentivo contra as práticas cristalizadas. É preciso transformar a relação da sociedade com este cidadão, buscando continuamente novas formas de suporte para este, adaptar-se ao meio social, resgatando seus vínculos sociais, familiares e sua cidadania. O vínculo estabelecido com o AT é essencial, também, para que a família reconheça mais sobre as dificuldades deste; criando-se possibilidades de desenvolvimento e tratamento, e a necessidade de não isolar o indivíduo e sim auxiliá-lo a manter-se ativo e participativo.

Pode-se dizer, através de outros estudos, que atuação do psicólogo como AT é contemporânea. Assim, esse estudo poderá contribuir para construção de possíveis pesquisas futuramente.

Portando, este trabalho qualitativo busca demonstrar a importância do Acompanhante Terapêutico na reintegração social, visto que há uma necessidade de investimentos nesta prática e planejamento para estruturação deste, como uma prática efetiva nas políticas públicas.

Sendo assim, o AT mostrou-se como uma prática diferenciada, permitindo uma flexibilidade na sua atuação, contribuindo continuamente para reintegração social do portador de sofrimento psíquico, promovendo sua interação social, garantindo a efetivação dos cuidados humanizados, resgatando sua autonomia, sua cidadania, combatendo a exclusão, abrindo novos caminhos para o questionamento do instituído, e assim, romper com as práticas cristalizadas tradicionais.

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Autora

Graziele Santos Oliveira, psicóloga (CRP 04/38441).

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