A Figura do Acompanhante Terapêutico na Qualidade Escolar

RESUMO: o objetivo deste artigo é trazer à pauta uma reflexão sobre a atuação do acompanhante terapêutico (at)[1] no contexto da escola, principalmente versando sobre sua investidura como interlocutor em situações-problema encontradas no âmbito escolar.

O Acompanhamento Terapêutico (AT)[2] surgiu no Brasil na década de 1960, porém de forma lenta vem se fazendo notar; aos poucos o trabalho do acompanhante terapêutico está sendo reconhecido pela sociedade, e a escola é mais um destes locais a serem conquistados por estes profissionais, pois apresenta uma enorme demanda até então pouco explorada. Invariavelmente, é na escola que muitas crianças iniciam efetivamente seu convívio social e estabelecem os seus primeiros vínculos sociais extrafamiliares, esta migração da casa para escola pode ser uma experiência prazerosa, ou tornar-se numa condição de tortura para muitas crianças.

No entanto, sob o olhar de um profissional atento a esta dificuldade, pode-se sim, aliviar o sofrimento de professores, pais, alunos e devolver a qualidade de vida para todos os envolvidos neste sistema, sendo o aluno o maior beneficiário desta intervenção.

Este é o trabalho a que se propõe o acompanhante terapêutico. O Acompanhamento Terapêutico se coloca como um dispositivo que irá minimizar os efeitos da estigmatização das crianças com dificuldades possibilitando um refazer, uma reconstrução, resgatando esse sujeito e corroborando para que ele perceba suas competências, podendo exercer, na medida do possível, a sua cidadania, uma vez que o AT tentará proporcionar ao educando subsídios para que ele pense nas suas ações, e faça suas escolhas ao invés de sentir-se como um ser apartado por motivos da não acomodação da sua personalidade, do seu ego, da sua não inclusão devido a algum desajuste em decorrência de comportamento inadequado para os padrões da escola ou por quaisquer outros motivos de inadaptação que podem ser de origem física ou psíquica, e que o diferencie dos padrões aceitos como normais no ambiente escolar.

Palavras-chave: Acompanhamento Terapêutico. Atuação do Acompanhante Terapêutico. Qualidade Escolar.

 

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FIGURE OF COMPANION THERAPEUTIC IN SCHOOL QUALITY

 

ABSTRACT: the purpose of this article is to bring to the agenda a reflection on the performance of the therapeutic companion (tc) in the school context, mainly dealing on his investiture as an interlocutor in problem situations encountered in schools.

Therapeutic Accompaniment (TA) emerged in Brazil in the 60s, but slowly comes to pointing out; gradually the work of therapeutic companion is being recognized by society, and the school is most of these places to be conquered by these professionals, because it has a huge demand hitherto little explored. Invariably, it is the school that many children actually begin their social life and establish their first extra-familial social bonds, this migration of the house for school can be a pleasurable experience, or become a torture condition for many children.

However, under the eye of an attentive professional to the problem, it can be yes, alleviate the suffering of teachers, parents, students and return the quality of life for all involved in this system, with the student the biggest beneficiary of this intervention. This is the work that proposes the therapeutic companion. Therapeutic Accompaniment (TA) arises as a device that will minimize the effects of stigmatization of children with difficulties allowing for a remake, a reconstruction, rescuing this subject and corroborating he realizes its powers and may exercise, as far as possible, their citizenship, since the TA attempts to provide the student subsidies so that he think about your actions and make their choices rather than feel like a section be for reasons of non-accommodation of his personality, his ego, his non-inclusion due to some maladjustment due to inappropriate behavior for school standards or any other inadequacy of reasons that may be physical or psychological origin, and that differentiates the standards accepted as normal in the school environment.

Keywords: Therapeutic monitoring. Practice of Therapeutic Companion. School Quality.

 

A Figura do Acompanhante Terapêutico na Qualidade Escolar

 

Introdução: Acompanhante Terapêutico

O Acompanhamento Terapêutico chega ao Brasil, na década de 70, temos dois registros iniciais de sua atuação: um que passa por Porto Alegre na Clínica Pinel e outro no Rio de Janeiro na Clínica de Vila Pinheiros, estas foram as duas primeiras instituições que se utilizaram da função do “auxiliar psiquiátrico” que futuramente seria denominado no Brasil, como acompanhante terapêutico.

Atualmente esta prática de atendimento está afiançada por estudantes de psicologia, pedagogia, psiquiatria ou de outras áreas da saúde e também por profissionais recém-formados, que estão assumindo a pratica do AT como profissão. O AT vem se configurando como uma nova modalidade clínica, por este motivo está sendo alvo de muitos estudos e pesquisas no meio acadêmico e fora dele.

Pode-se dizer, ou até admitir que o AT tenha surgido da necessidade de outras ciências, mas atualmente ele se enquadra como uma atividade clínica independente, e não se configura como um apêndice de outras ciências da área da saúde, porque nenhuma delas o comporta na sua totalidade, para que o mantenha subordinado a ela.

O AT é uma área que está em ascensão, muito difundida hoje em dia, exatamente por causa da sua diversidade e adaptabilidade, estas características lhe imputam um status de clínica e ciência, apesar de ser uma área cujo ramo de conhecimento é heterogêneo, multiprofissional e multidisciplinar o AT engloba vários saberes e técnicas, que depreendem-se de fontes como: da psicologia, da psiquiatria, da pedagogia, entre outras da áreas.

No entanto, no meio científico atual, não se discute o seu gênero porque este lhe é próprio, sua prática é característica exclusiva e excludente em relação às praticas das demais ciências da área da saúde. Pois, o acompanhante terapêutico trabalha fortemente na questão da inserção social, fazendo sua intervenção no cotidiano do paciente, este tipo de atuação não comunga com o tipo de atendimento prestado por profissionais que trabalham exclusivamente em consultórios, estes não detectam a insuficiência dos seus atendimentos porque não estão expostos a variedade de situações enfrentadas pelos profissionais do AT no atendimento em locais e circunstâncias que fazem parte do dia-a-dia do paciente.

Sob esta perceptiva Carvalho (2004, p.25) aponta o relato de Ibrahim (1991) que registra o acompanhamento terapêutico como uma atividade clínica, com especificidades que [a] diferenciam de todas as outras, por este motivo, cabe ao acompanhante a tarefa de pensar e aperfeiçoar seu trabalho, recebendo contribuições de todas as áreas, porém tendo o discernimento da sua responsabilidade em assumir a investigação dessa prática.

Muito se discute em relação, a quantidade de conteúdos, sua origem, como deve ser concebida a formação acadêmica do at, etc., entretanto, rompendo com as cadeias do saber científico e desafiando as formas tradicionais de formação, o AT vem conquistando seu espaço, talvez até mude sua denominação, mas não a sua prática, acredita-se que num futuro próximo se consolidará como ciência, conquistando seu espaço definitivo no mundo acadêmico.

 

Acompanhamento terapêutico e o acompanhamento ao aluno

O Acompanhamento Terapêutico é uma modalidade de atendimento que se propõe a resgatar o paciente do seu estado doente e proporcionar-lhe uma reabilitação que muitas vezes somente vai se concretizar se o acompanhamento for diário e realizado no ambiente social onde o paciente está inserido. Por este motivo oficialmente se preconiza que os acompanhantes terapêuticos trabalhem nas ruas, nas praças, nas casas dos pacientes, ou nos seus ambientes de trabalho e estudo.

O Acompanhamento Terapêutico é uma clínica que acontece no cotidiano, nos mais variados espaços e contextos. Entre as suas características mais marcantes estão o resgate e a promoção da circulação do paciente pela cidade, construindo ou simplesmente explorando redes sociais preexistentes. Predominantemente o Acompanhamento Terapêutico tem sido um recurso utilizado no tratamento de pacientes diagnosticados como psicóticos, sendo, entretanto, cada vez mais indicados para pacientes com outros diagnósticos. (CARVALHO, 2004 p.23).

No contexto escolar o acompanhante terapêutico surge como um dinamizador do processo de aprendizagem cujo objetivo é remover os obstáculos, atendendo a demanda específica e individual do aluno, na interface da aprendizagem com a escola.

O Acompanhamento Terapêutico não se confunde e nem se encarrega do ensino do aluno, este papel é atribuição da escola, qual seja, de proporcionar o ensino que vai da alfabetização até as demais séries do ensino tradicional, o AT apenas se encarrega de ajudar a escola contando com o apoio da família e com a colaboração do próprio aluno na conquista deste ideal.

Para o aluno o estar integrado no ambiente escolar é um desafio para o seu desenvolvimento cognitivo-comportamental, tanto em relação a seus colegas de aula como em relação a sua família.

A participação e interação do aluno no seu cotidiano escolar depende do trabalho do at, não se trata apenas do aluno estar com o corpo presente no ambiente, mas sim de fazê-lo entender de forma consciente, o porquê de sua estada naquele local, lhe ser benéfica. Com o reforço desta significação, o fato de estar na escola vai ser simbolizado por algo bom, prazeroso, que traz qualidade de vida, vontade de fazer parte, de se socializar, de participar das atividades coletivas com os colegas de aula, etc.

Como explica Solé (2003), a aprendizagem não envolve somente instrumentos intelectuais, mas também aspectos de caráter emocionais e de capacidade de equilíbrio pessoal, ou seja, a representação que o sujeito faz das situações, e das expectativas que geram seu autoconhecimento. Esses fatores são essenciais em uma situação desafiadora como é o de aprender, principalmente para crianças que possuem um diagnóstico de dificuldade de aprendizagem.

Quando conexões não se completam, ou seja, quando é impossível o estabelecimento do diálogo entre a família, professores e aluno, a transmissão do saber, do conhecimento, se rompe causando inúmeros transtornos, prejudicando a alfabetização, o convívio social na escola, causando crise na família, trauma para a criança e retardo no aprendizado.

Diante disso, o at procura empreender seus esforços para atender esta necessidade propondo estratégias e projetos que possam viabilizar este processo, ou seja, que possibilite a permanência desta criança na escola, a convivência dela com as outras crianças e com os professores objetivando o seu aprendizado.

Alguns aspectos como: interesse em trabalhar em equipe; maturidade para agir com segurança; alto grau de compromisso; iniciativa em tomar decisões em situações inesperadas; ter atitudes firmes e flexíveis; ter capacidade de tolerância às frustrações devem compor o perfil do acompanhante terapêutico (BAVELDI, 2003).

Zamignani (1999) defende que o at precisa ter domínio de conhecimentos básicos em análise do comportamento; dominar técnicas de entrevista; precisa dominar algumas técnicas minimamente para o desenvolvimento dos atendimentos, este mesmo autor ainda defende que o at deve servir de modelo, atuar como um agente ressocializador; e trabalhar também junto à família do paciente.

Vários fatores intrínsecos ao desenvolvimento deste trabalho do Acompanhamento Terapêutico devem ser analisados e combinados entre as partes previamente, tais como: a exposição do problema perante a família do aluno, o aceite da escola neste tipo de intervenção que é ter a presença do at em sala de aula, ao lado do professor, ou em outros ambientes escolares. Fatores como estes, e outros como: necessidade da intervenção médica, da análise de diagnósticos, da ministração de remédios, e quaisquer outros tipos de intervenções, deverão ser analisadas separadamente, e investigadas as suas reais necessidades de aplicabilidade ou não, caso a caso.

A influência do at na qualidade escolar implica em ocasionar mudanças de paradigmas, tanto na parte física como no pensar da escola. No físico a inclusão de um novo elemento – o acompanhante – ao grupo formado pelo pai, aluno, colegas, professor e escola, e as mudanças de paradigmas no pensar da escola abrange o rearranjo das interações deste grupo que vão afetar o psicológico, o intelectual, o comportamental, e a maneira como se processam as realizações do ensino-aprendizagem dentro da escola.

 

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Considerações Finais

Ser um parceiro social do aluno, este é o papel do acompanhante terapêutico, participar ativamente do processo de aprendizagem mediando sua discussão com a escola, familiares, professores verbalizando a fala da criança por vezes inócua.

O acompanhante terapêutico colabora para o progresso da inclusão do aluno, e ajuda a instituição a cumprir seu papel perante a sociedade.

Como afirma Jerusalinsky (2006), a escola é uma instituição incumbida pela sociedade para transmitir cultura, instruir, proteger e preparar as crianças para o futuro cabe a escola transmitir conhecimento e alfabetizar.

O acompanhante terapêutico além de fornecer suporte para o seu aluno-paciente também oferece apoio para os pais. A incapacidade de suprir a necessidade do filho é uma experiência desconcertante para os pais.

Quando a escola entrega aos pais o relato de que o filho é um “aluno problema” muitos não sabem o que fazer diante desta afirmativa, é insuportável para eles admitir que seu filho não consegue aprender; certamente a culpa é do professor ou da escola, são eles que não estão cumprindo com suas obrigações, estas reações são comuns e o acompanhante terapêutico precisa estar capacitado para lidar com estes embates rotineiros.

É importante salientar que o at não vai ensinar matemática, português, ou alfabetizar o aluno, os pais não estão contratando na figura do acompanhante terapêutico um professor particular, a contratação do at envolve outras motivações que vão além da dificuldade de aprender logicamente os conteúdos de sala de aula, o acompanhante terapêutico trabalha o comportamento, o psicológico, a inclusão, a socialização, a motivação do aluno em querer aprender e a construir os seus relacionamentos no ambiente escolar.

De outra sorte, também deve ficar claro para o aluno que o acompanhante terapêutico não é um professor substituto ou particular.

Neste artigo apresentamos algumas leituras do trabalho do acompanhante terapêutico na escola, concluímos que o at é alguém que sustenta as regras, que impõem limites, que reestabelece os contato, as interações no cotidiano escolar, é aquele reprograma comportamentos e também é o sujeito que empresta a voz para a fala do aluno.

 

Referências

  1. ANTÚNEZ, A. E. A. (Org.) Acompanhamento Terapêutico: casos clínicos e teorias. 1ª ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.
  2. BRITO, A. T. dos S. Ampliando o espaço terapêutico: conversando sobre as ações do acompanhamento terapêutico em crianças com transtornos globais do desenvolvimento – TGD no espaço escolar. Revista: GT 20 – Educação Especial e Inclusiva Disponível no site: <http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/eventos/evento2009/GT.20/04_A%C3%ADda%20Teresa%20dos%20Santos%20Brito.pdf>. Acesso em: 21.Nov.14
  3. CHAUI-BERLINCK, L. Novos andarilhos do bem: caminhos do acompanhamento terapêutico. –Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
  4. GAVIOLI, C.; RANOYA, F.; ABBAMONTE, R. A prática do acompanhamento educacional na inclusão escolar: do acompanhamento do aluno ao acompanhamento da escola. . In: Coloquio do Lepsi IP/FE-USP, 3., 2001, São Paulo. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000032001000300020&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em  26. Nov.14
  5. PEGORELLI, A. L. de C. B. Um acompanhamento terapêutico na escola: seus alcances e possíveis entraves. In: O declínio dos saberes e o mercado do gozo, 8., 2010, São Paulo. Disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000032010000100006&lng=en&nrm=abn>. Acesso em 21. Nov. 2014.
  6. PEREIRA, M. M. Inclusão Escolar: um desafio entre o ideal e o real. Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e com Altas Habilidades no Rio Grande do Sul – FADERS, 2008. Disponível em: <http://www.faders.rs.gov.br/uploads/1222278773InclusaoxEscolarxUmxDesafioxentrexoxIdealxexoxRealxMariluxMouraoxPereira.pdf> Acesso em 20. Nov.14.

 

Notas:

[1] Sigla at usada para referir-se a pessoa que atua na função de acompanhante (SILVA, 2005 p.52).

[2] Sigla AT usada para denominar a função Acompanhamento Terapêutico (SILVA, 2005, p.52).

Autora: Claire Manica Constante é formada no curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico – AT (CTW), graduada em Psicologia pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS).

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