Acompanhante terapêutico (at) e o Assistente Social: profissionais importantes dentro das equipes de trabalho multiprofissional de saúde

Resumo: o presente artigo visa mostrar a importância de profissionais como acompanhantes terapêuticos (at) e assistentes sociais dentro das equipes de trabalho multiprofissional de saúde. Explicitar qual é a intervenção de um at e de um assistente social e sua instrumentalidade. Apontar as particularidades e similaridades desses dois profissionais que trabalham na perspectiva de fortalecimento dos sujeitos sociais (pacientes/usuários), resgatando a sua cidadania, proporcionando um acompanhamento mais humanizado.

Palavras chave: acompanhamento terapêutico, serviço social, ressocialização, família, ajuda, direito, respeito, escuta sensível.

Abstract: this article aims to show the importance of professional therapeutic as caregivers and social workers working within multidisciplinary teams of health. Explain what is intervention a therapeutic companion and a social worker and his instrumentality. Pointing the particularities and similarities of these two professionals working in the perspective of strengthening social subjects redeeming their citizenship by providing a humanized monitoring.

Key words: therapeutic accompaniment, social workers, resocialization, family, help, right, respect, sensitive listening.

Acompanhante terapêutico (at) e o Assistente Social: profissionais importantes dentro das equipes de trabalho multiprofissional de saúde

INTRODUÇÃO

Proponho a análise do quanto é eficiente o acompanhante terapêutico (at) e o assistente social dentro das equipes de trabalho multiprofissional de saúde. Cada um com suas funções específicas, mas com propostas similares de trabalho levando em conta o fortalecimento dos sujeitos e resgate de suas cidadanias. Na possibilidade dos pacientes contarem com o apoio de um at dentro de seus lares, ampliando para os ambientes de transito a fim de que possam se ressocializar e interagir tanto com o meio físico quanto com o social.

Também o assistente social como agente contribuinte para a o pertencimento dos sujeitos/usuários/pacientes em sua rede social tanto primária quanto secundária enfatizando seus direitos sociais entendendo o homem e suas relações sociais. Facilitando o processo de problematização da pessoa acompanhada em sua individualidade acerca de seus problemas, a condição de sujeito autônomo e livre. Bem como os vínculos entre os pacientes e a família e a importância da mesma para a recuperação deles.

1. ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO (AT)

Segundo Zucchi (2013) e Silva (2013) a prática de AT iniciou em Porto Alegre em 1960 na Clínica Pinel com uma influência dos Estados Unidos. Após, a prática foi levada em 1970 para o Rio de Janeiro pela Carmen Dametto que deu o nome de auxiliar psiquiátrico ao profissional at. Em 1971 a prática surgiu na Argentina com o nome de Amigo Qualificado. Os movimentos antimanicomiais e psiquiátricos ocorridos na Europa mudaram a forma de se tratar a “loucura” criando locais mais humanizados para o cuidado dos pacientes com uma nova perspectiva mais acolhedora. Dessa forma, os ats iniciam um trabalho cada vez mais autônomo de resgate da cidadania de pessoas com sofrimento psíquico. O at atua como agente terapêutico mediador e ressocializador a partir de uma ótica terapêutica onde é formulado um plano que utiliza técnicas, atividades recreativas e de lazer sendo remunerado para isso. O atendimento pode ser realizado em qualquer ambiente para além do consultório como: a casa do paciente ampliando para os locais de circulação do mesmo com o intuito que ele interaja com esse meio.

A proposta de se utilizar um at para o acompanhamento dos pacientes é a de reduzir as internações, a contenção mecânica e química dos mesmos. Antes de o at iniciar a introdução de suas técnicas, ele deve ter uma escuta sensível buscando verificar as técnicas que o paciente utiliza (patológicas ou não) para enfrentar as suas dificuldades. Deverá prestar atenção na utilização correta das técnicas orientadas, testando sua eficácia com o paciente. Identificando e percebendo a aplicação das mesmas, questionando passo a passo como foi utilizada pelo paciente. Dessa forma, respeitando as histórias de vida dos sujeitos e seus mecanismos de enfrentamento da sua realidade.

Algumas modalidades, ou seja, formas de intervenção do at, são estas: trabalho com pessoas com sofrimento psíquico (depressão, ansiedade, pânico, bipolaridade, autismo, borderline, esquizofrenia) dependência química, idosos, jovens infratores abrigados, nas políticas públicas, nos Centros de Atendimento Psicoterápico (CAP’S), casas de passagem, no cinema, ou seja, na produção de filmes e curtas para mostrar o trabalho do profissional, na capacitação de algum familiar para ser at transitório, para realizar acompanhamento de pacientes em passeios, transporte dos mesmos, nas escolas e nas ambientoterapias. Percebemos então o vasto leque de possibilidades de acompanhamento, podendo ampliar mais ainda o que mostra a riqueza desse trabalho.

O trabalho do at se amplia para além do paciente em questão. Também a interação do mesmo com a família a qual está inserido é analisada e trabalhada pelo profissional. O at busca entender como o paciente e sua família se relaciona, tentando resgatar o papel da mesma como agente de grande importância para o tratamento multidisciplinar. Segundo Zucchi (2013): “o at identifica membros, conhecendo a rede social a qual o paciente está conectado (rede primária – família e secundária – redes sociais), faz o genograma, busca entender a história de vida do mesmo”.

A família é a primeira instituição social com a qual nos relacionamos.  Segundo a Língua Portuguesa é uma unidade social que compreende certo número de pessoas, em geral ligadas por nascimento ou casamento. Existem dois tipos principais de família: a nuclear, ou conjugal, constituída de um só casal e seus filhos, e a extensa ou consanguínea, que abrange também outros parentes, colaterais em linha reta, como irmãos, avós, tios e netos. Há também famílias experimentais, grupos cujos membros não se acham ligados por parentesco consanguíneo, nem afim nem civil, mas que decidem viver juntos e desempenhar papéis sociais próprios da família extensa ou nuclear. É o caso dos Kibutzim de Israel e das comunas ligadas ao movimento Hippie. Há ainda famílias organizadas em torno de uma atividade importante como a caça, unidade habitacional, religião ou os costumes. (PUBLISHING apud LAGUE, 2008, p.68).

Através dela são repassados valores, crenças e comportamentos. A família é um grupo de reprodução ideológica do homem particular. A aprendizagem dos atos cotidianos é dada por imitação e conservação dentro da própria família (LUNARDI e SILVA apud LAGUE, 2008, p. 69). Diante disso, a família é a instituição mais importante que contribui de forma muito significativa para o desenvolvimento social e psicológico dos membros que dela fazem parte.

A educação familiar não condiciona, mas determina alguns comportamentos representados consciente ou inconscientemente durante nossa vida. Por exemplo, uma pessoa pode ser filha de um usuário de droga e não se tornar uma; pode manter relações familiares pouco afetivas com pai e mãe e quando formar sua própria família desenvolver uma relação muito afetiva. Família deve ser sempre o porto seguro, lugar de acolhimento e permutação de valores como amor, compreensão, solidariedade e amizade.

Agora, seguem exemplos de algumas técnicas que o at poderá utilizar durante os atendimentos (SILVA, 2012, p: 65 – 78):

  • Psicoeducação sobre o funcionamento básico do humano – saber diferenciar entre sensação (impressão, ligada ao sistema sensorial), pensamento (ato ou efeito de refletir com ou sem o uso de imagens mentais), sentimento/emoção (o que se vê e sente sobre isso), comportamento (ação de lidar consigo e/ou com os outros), reação fisiológica (funções orgânicas). O at poderá auxiliar os pacientes que sofrem confundindo o que é normal como patológico.
  • Técnica do relaxamento utilizando a “técnica da mão” (PARE) para lembrar a Técnica da respiração controlada e abdominal praticada por no mínimo 5 min. (expiração e inspiração profunda por 5seg.). Orientar o paciente “como” relaxar ao invés de dizer pra ele relaxar e “se desestressar”.
  • Treinamento em habilidades sociais (THS) – o paciente é incentivado a demonstrar como agiria em determinadas situações que devem ser enfrentadas. Comportamento social em diferentes instâncias e situações.
  • Técnica de resolução de problemas – o paciente delimita o problema principal que lhe gera desconforto. Essa técnica pode não ser útil quando ocorrerem surtos psicóticos, quadros de catatonia, grave autismo, delirium tremens.
  • Técnica de projeção temporal – consiste em o paciente imaginar a solução de seus problemas, apontando os seus possíveis modos de resolver o conflito.

Lembrando que para o uso das técnicas, cada situação, o paciente e sua patologia devem ser bem avaliados, pois a análise de vários fatores é necessária para o emprego das mesmas. Essas ferramentas clínicas apontadas por SILVA “devem ser aplicadas com cautela de forma adequada, respeitando cada paciente na sua individualidade. Elas têm o intuito de promover o aumento da autonomia, da auto-eficácia e da auto-estima” (SILVA, 2012, p. 78 e 79).

2. SERVIÇO SOCIAL       

O objeto de trabalho do Serviço Social é a questão social, conjunto das desigualdades que trazem as diferenças da sociedade, suas múltiplas expressões: habitação, educação, saúde que deve ser desvelado. Objeto é a matéria-prima, atividade prática que opera, transforma, necessita da ação profissional. A questão social é gerada, construída pelo progresso econômico e tecnológico. (IAMAMOTO apud LAGUE, 2008, p.45).

O Assistente Social utiliza-se de estratégias de intervenção na realidade onde se expressa a questão social. A forma de olhar o social determina a consciência/reflexão crítica. O profissional deve construir sua própria prática profissional entendendo que as relações sociais se dão a partir da questão social, gerada pela divisão sócio técnica do trabalho (MARAZITA apud LAGUE, 2008, p. 45).

A questão social está inscrita na condição fundamental do sistema capitalista – a contradição entre capital e trabalho. Segundo Prates (2002) o objeto de intervenção do serviço social são as múltiplas expressões da questão social (contradição entre capital e trabalho: dominação e resistência dos sujeitos) no cotidiano dos sujeitos (PEREIRA apud LAGUE, 2008, p.46).

Construímos o nosso objeto de ação em meio ao estabelecimento das relações entre os agentes através de estratégias de intervenção: postura ético-política frente aos impasses e limites institucionais e aproximações junto aos usuários através de técnicas de intervenção; mediação entre os usuários e seu meio/instituição: mediando a relação entre o usuário e o impasse institucional quando a impossibilidade de dar continuidade ao acompanhamento social. Utilizando as técnicas de fortalecimento: conscientização quanto à questão do problema social que vivencia a busca de direitos sociais que extrapolam o espaço institucional, promoção da emancipação do usuário buscando superar as suas fragilidades.

Nas redes sociais de apoio, tanto primária (família) quanto secundária (redes sociais), os usuários encontram o fortalecimento, criando estratégias de superação do seu cotidiano opressor. As relações com as redes são permeadas pela correlação de forças onde ocorre a intervenção profissional.

“O Serviço Social atua numa correlação particular de forças, sob a forma institucionalizada, na mediação fragilização/exclusão/fortalecimento/inserção social, vinculada ao processo global de re-produzir-se e re-presentar-se dos sujeitos em suas trajetórias/estratégias”. (FALEIROS apud LAGUE, 2008, p.47).

Essas mediações favorecem o exercício da cidadania que possibilita o sentimento de pertencimento do sujeito, fortalecendo sua autonomia. Nesse processo é de fundamental importância a transmissão de informações aos usuários, questionamentos das práticas e valores impostos pela sociedade e o permanente exercício de motivação para que o mesmo continue participando das redes, como usuários destas e como força reivindicatória de serviços e recursos inexistentes. “Podemos considerar que o papel do profissional do Serviço Social se dá com base nas relações, nas quais é necessária a articulação de forças e dos sujeitos envolvidos, para superar tal situação e refazer as relações. (FALEIROS apud LAGUE, 2008, p. 48).

Os assistentes sociais trabalham com os sujeitos sociais atuando no processo de viabilização dos direitos e dos meios de exercê-los. Para compreender melhor o vasto campo de intervenção o CFESS menciona que:

“os assistentes sociais têm as suas práticas voltadas para o atendimento de indivíduos, grupos, famílias que, por diversas razões, não tiveram suas necessidades atendidas, sofrem psiquicamente e vivem em situações concretas de exclusão e abandono. São constantemente solicitados para intervirem nos conflitos familiares, nos conflitos comunitários e interpessoais, em situações que envolvem crianças e adolescentes desprotegidos ou desfavorecidos. Também atuam nas questões de dependência química, de abuso sexual, de violência doméstica, nos campos da saúde, da educação, da reabilitação, no campo sócio jurídico, empresas e tantos outros. Pessoas com transtornos mentais, dependentes químicos, idosos, indivíduos em situação de desânimo, medo, desespero, angústia, estresse devido a transições da vida, depressão” (CFESS, 2008/2011).

O Assistente social atua como um facilitador utilizando técnicas como acolhimento; entrevista, coletando informações, contextualização; problematização; escuta sensível, socialização de informações, clarificação, reflexão e aprofundamento. Esse trabalho evidencia a aplicação da categoria totalidade e historicidade, onde o profissional através de várias aproximações com o usuário, problematiza, desvelando contradições. Dessa forma, media as situações conflituosas, tendo como foco de intervenção as relações sociais estabelecidas entre esses sujeitos. A demanda institucional representa uma estrutura complexa que aparece despida das mediações; são necessárias as categorias mencionadas para compreender a realidade histórica, apreendendo as relações estabelecidas entre os sujeitos; os processos sociais, as teias que resultaram nas relações atuais.

O trabalho desenvolvido pelos profissionais assistentes sociais não visa somente o preenchimento de uma necessidade material, repassando recursos, mas viabilizando uma ação que enxerga o sujeito como um ser humano dotado de razão e principalmente sentimentos, podendo estar fragilizado e necessitando de um atendimento mais humanizado e fortalecedor. O símbolo de capacidade e sucesso profissional é mais amplo que o conhecimento teórico, compreende também as instâncias do conhecimento da subjetividade dos usuários, do saber ouvir e do compromisso ético-político com a profissão. Portanto, o saber do assistente social deve compor-se pela tríade, ou seja, deve estar pautado nas três dimensões da competência, tais como: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O acompanhante terapêutico e o assistente social são profissionais mediadores que trabalham com o foco na “ajuda”, porém com uma perspectiva teórico metodológica e técnico operativa para o encadeamento de suas ações que diferencia do sentido da simples ação de ajudar. O AT e o Serviço Social são profissões importantes na equipe multiprofissional de saúde complementando um o trabalho do outro, contribuindo de forma positiva nas equipes, pois as duas primam por um atendimento que ofereça ao paciente, condições para um tratamento mais humanizado.

Percebem o paciente/sujeito/usuário cidadão de direitos sociais com uma história de vida que deve ser respeitada a partir de uma escuta sensível preservando a sua subjetividade. Suas ações objetivam um atendimento que fortaleça os pacientes/sujeitos/usuários na sua individualidade e enquanto agentes sociais pertencentes às redes de apoio tanto primária, quanto secundária, ajudando os mesmos a se relacionarem com as mesmas no seu processo de ressocialização.

Para Benevides e Passos (apud Bernardi, 2013), o at trabalha na perspectiva da inclusão social, onde todos os excluídos socialmente fazem parte da sociedade e são capazes de mudar e conviver numa cultura humanista. Saber fazer essa leitura nos capacita a dar um acompanhamento muito mais qualificado sendo at ou assistente social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BERNARDI, Gabriel Soares Carvalho. Acompanhamento Terapêutico como Dispositivo Complexo em Saúde. Disponível em: <https://siteat.net/gabriel-2/>  Acesso 09 de dez. 2013.
  2. CFESS – Conselho Federal de Serviço Social. Práticas Terapêuticas no Âmbito do Serviço Social: subsídios para aprofundamento do estudo. Brasília, 2008/20011. Disponível em:<www.cfess.org.br/arquivos/praticasterapeuticas.pdf>  Acesso em 07 de nov. 2013. 
  3. LAGUE, Roberta da Silva. O Fortalecimento de Vínculos entre Mãe e Bebê na UTI Neonatal do Hospital São Lucas Da PUCRS na Perspectiva da Garantia de Direitos Sociais. 127 f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Faculdade de Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 2008.
  4. OLIVEIRA, Vanessa Rauter de. A Importância do Acompanhamento Terapêutico no Tratamento do Alcoolismo. Porto Alegre, 2012. Disponível em: <Siteat. wordpress.com/2002/04/23/vanessaoliveira/>  Acesso 02 de dez. 2013.
  5. SILVA, Alex Sandro Tavares da. Estratégias em AT: ferramentas clínicas. In: SILVA, Alex Sandro Tavares da (org.). E-Book AT: Conexões Clínicas no Acompanhamento Terapêutico. Porto Alegre: edição do autor, 2012. Disponível em: <https://siteat.net/biblioteca/e-book-at/> Acesso em: 27 de nov. 2013.
  6. SILVA, Alex Sandro Tavares da. Curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico (AT). Material Didático. Porto Alegre: Comunidade Terapêutica D. W. Winnicott, 2013.
  7. ZUCCHI, Adrianna. Curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico (AT). Material Didático. Porto Alegre: Comunidade Terapêutica D. W. Winnicott, 2013.

Autora

Roberta Lague – Assistente Social (CRESS/RS 8166). Formação em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Formada no “Curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico” CTDW. Fone: (51) 8415.0915. E-mail: [email protected]

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