Confrontando Fantasmas Fora do Consultório Terapêutico

Autor: 

  • Jornal O Povo

Terapeuta e paciente na rua. A técnica de Acompanhamento Terapêutico possibilita ao paciente desenvolver estratégias de enfrentamento das ansiedades pelo contato direto com suas limitações.

Através do AT, a pessoa reaprende a lidar com situações que, para ela, eram negativas.

Em vez das quatro paredes do consultório, o mundo. Em vez de simular situações, vivenciá-las. O Acompanhamento Terapêutico (AT), técnica complementar utilizada na psicoterapia comportamental-cognitiva, funciona como uma espécie de ponte entre o indivíduo – limitado em ansiedades, medos e inseguranças – e o ambiente lá fora. “É um trabalho de psicoterapia estendido a situações que são negativas para o paciente”, diz João Ilo, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O AT coloca literalmente a pessoa cara a cara com suas limitações. No entanto, ao mesmo tempo que ela é posta diante de uma situação que provoca insegurança, o terapeuta, ao lado, aplica técnicas de relaxamento e discute o que está acontecendo naquele momento. “É um processo de reaprendizagem, em que o paciente vai se relacionar mais tranquilamente com determinada situação”, completa o psicoterapeuta.

Segundo a psicóloga Suely Alves, a psicologia está-se rendendo cada vez mais à eficácia de se trabalhar com a pessoa no seu próprio ambiente, em vez de isolá-la num consultório. O AT, explica ela, trabalha com técnicas de “aproximação sucessiva”. “Se a pessoa tem medo de altura, a gente não vai colocá-la no prédio mais alto da cidade”. O trabalho é realizado progressivamente.

O primeiro passo é criar um vínculo entre paciente e terapeuta. A proximidade e a confiança, segundo João Ilo, fazem o paciente acreditar que enfrentando a situação ele terá um ganho. Passado este primeiro momento, detalha Suely Alves, o terapeuta inicia um trabalho em escala. “Se o paciente se sente bem subindo um degrau. A gente sobe um degrau. Quando se sentir melhor, a gente vai aumentando esta escala”, explica a psicóloga.

Esse trabalho é fundamentado na psicoterapia comportamental-cognitiva. João Ilo afirma que esta abordagem terapêutica parte do princípio de que muitos comportamentos vivenciados como problemáticos são resultantes de um processo de aprendizagem. “Do mesmo modo que aprendemos comportamentos mais comuns, também aprendemos certas formas de pensar e sentir. Sejam elas saudáveis ou patológicas”.

A partir disto, a psicoterapia comportamental-cognitiva procura fazer uma análise de como esta aprendizagem se deu e busca identificar as variáveis que foram determinantes na maneira como o indivíduo pensa e age.

Neste contexto, a técnica de Acompanhamento Terapêutico entra para complementar. “O AT vai realizar a análise do comportamento no momento em que ele está acontecendo: o que o paciente está sentindo, o que está evitando”, afirma Suely Alves. A psicóloga explica que, no instante em que está sendo aplicada, a técnica não se volta a questões do passado. “Essas questões que se refletem no desempenho do paciente deverão ser trabalhadas no consultório com o terapeuta”.

Embora o AT possa ser aplicado por outros profissionais como os terapeutas ocupacionais, Suely Alves afirma que a técnica tem de ser acompanhada, em consultório, por um psiquiatra ou psicólogo.

 

Fonte: 

Texto publicado no caderno Ciência e Saúde do Jornal O Povo em 30/08/1998.

http://www.roadnet.com.br/pessoais/ilo/confrontando_fantasmas_fora_do_c.htm

Artigo publicado no “Site AT” em 26/06/2001.

Supervisão em AT.

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