A importância do Acompanhamento Terapêutico Junto aos Idosos Institucionalizados

Resumo: o presente artigo tem por objetivo, fazer uma reflexão a cerca da necessidade e das possibilidades das práticas dos Acompanhantes Terapêuticos (AT) junto a idosos institucionalizados, após minha experiência de estágio básico para o curso de Psicologia no asilo municipal de São Leopoldo, Lar São Francisco.

A maioria das casas asilares possuem psicólogos, assistentes sociais, atendentes sociais (cuidadores), técnicos em enfermagem e outros profissionais, porém fica evidente tal necessidade, pois o número de idosos é grande em relação ao número de trabalhadores no local.

Os funcionários buscam atender o grande grupo como um todo, ficando muitas vezes inviável o acompanhamento mais direcionado a determinados pacientes. Essa grande variedade de profissionais, possibilita um atendimento multidisciplinar, ou até interdisciplinar, havendo a possibilidade de fazer trocas a respeito do idoso, de buscar saber com os colegas como tem transcorrido seus dias.

Ainda pensando em especial nos idosos acamados, com dificuldades de audição, visão e locomoção, identifica-se a necessidade de um profissional que faça a prática da escuta, algo extremamente importante nessa faixa etária, pois o idoso, muitas vezes o que mais precisa é ser escutado, ser estimulado a sua autonomia, e ser tratado como adulto que é.

Assim como descobrir junto com o idoso, atividades que lhes despertem prazer, vontade de viver. Embora isso até pareça contraditório, numa fase que já se esteja muitas vezes tão próxima da finitude, é necessário sim dar um novo significado de vida, ou não terá sentido envelhecer e tornar-se experiente, pois velhice, acima de tudo é experiência de vida.

Palavras chaves: Acompanhante Terapêutico. Idosos. Institucionalizados.

A importância do Acompanhamento Terapêutico junto a idosos institucionalizados

INTRODUÇÃO

Com os direitos do idoso garantidos em lei, passa a haver uma necessidade de um novo olhar para o envelhecimento. Embora a prática do AT traga a proposta de fazer o atendimento fora dos espaços institucionais, este artigo traz um convite a refletir a cerca da entrada do AT dentro desses espaços, a fim de proporcionar uma intervenção tanto dentro da instituição quanto fora dela, num sentido de levar o idoso para a rua, levá-lo novamente de encontro a sociedade.

O acompanhamento Terapêutico se dá na rua, na casa, na escola, no cinema, ou seja, na cultura, no mundo, na vida cotidiana do acompanhado. É uma forma de estar em contato e se utilizar das condições histórico-sociais nas quais o paciente está inserido para promover um processo de transformação em sua forma de lidar com a realidade (NARDI, 2012, p.2).

Seguindo a ideia da autora citada acima, sobre o AT dentro de alguns espaços de instituição, onde esse profissional acompanharia seu paciente nesses locais do cotidiano proporcionando manter a sociabilidade, dá para pensar no AT nas casas asilares. Sendo que o asilo é para o idoso a sua moradia, seu lar, e dificilmente voltará a viver na sua casa. Então o que resta, é proporcionar uma melhor forma de viver, incentivando a sua autonomia, a preservação dos laços sociais e familiares, assim como criando novas relações, talvez a participação em grupos da terceira idade, sendo que nesses locais haveria a possibilidade da troca de experiências a cerca dessa fase cheia de limitações e estigmas.

Levando em conta que o idoso institucionalizado também está livre para suas relações sociais que podem se dar dentro e fora das instituições, proporcionando assim a prática do AT. Este trabalho tem um intuito de fazer um convite para pensar, se colocar no lugar do outro, pensar no nosso envelhecimento, de como gostaríamos de ser tratados na nossa velhice, das nossas necessidades, dos nossos desejos, dos nossos planos de futuro ou de presente, pois o passado não existe mais, o presente é agora, e futuro, quem saberá.

Há uma grande demanda acerca da necessidade de um atendimento mais direcionado de um profissional com conhecimento sobre o idoso, do que é envelhecer e que esteja disposto a acompanhar e ajudar esse idoso a buscar maior autonomia e um novo significado nessa fase, que nesses últimos anos tem se esticado muito, fazendo com que a velhice para determinados idosos seja muito longa, sendo que com toda a evolução da medicina e da preocupação com uma vida mais saudável, hoje em dia é possível proporcionar uma vida longeva, porém muitas vezes o idoso tem dificuldades de enfrentar essa fase, muitos já não trabalham mais porque se aposentaram, e precisam resignificar suas vidas, pois em nossa sociedade “trabalho” também é uma identidade, algo de grande valor. E é nesse momento que o AT entra para ajudar a proporcionar uma melhor forma de viver a velhice, buscando descobrir junto do próprio idoso coisas prazerosas, assim como a busca da sua autonomia, sem desconsiderar suas limitações.

O Acompanhamento Terapêutico para com o idoso, seria um “acompanhante” como o próprio nome diz, seria aquele que acompanharia o idoso nas atividades externas, do tipo, ir ao cinema, fazer compras, passear, talvez ir ao médico, pois com a velhice chegam também as doenças, e muitas vezes na tentativa de preservar o idoso acabam fazendo tudo por ele, até dizendo para o médico onde dói. E o AT é que faria esse movimento de dar a voz a esse idoso, ajudando-o a voltar a falar por si, a lembrá-lo que ele não é mais criança, que precisa saber de suas condições físicas e psíquicas, afim de que se conscientize de sua real situação, possa se cuidar e ter um envelhecimento mais saudável possível. Muitas vezes se critica o idoso por ele ser teimoso e não aceitar a ajuda dos demais, não aceitar suas limitações, porém, nem sempre alguém contou a ele sua real situação, e ele acaba por não achar importante certos cuidados que poderiam beneficiá-lo.

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O IDOSO

De acordo com o Estatuto do Idoso (2003), idoso seria a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta anos), sendo que a partir dessa idade teria seus direitos básicos garantidos, tais como: saúde, educação, trabalho, justiça, políticas de proteção à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Porém, questiona-se como seria possível garantir tais direitos dentro das instituições, pelo menos no sistema de saúde e assistência que vivemos hoje. O AT poderia ser o profissional que com seu trabalho, ajudaria a facilitar o cumprimento dessa lei, que no papel é tão bonita, mas na prática é difícil de ser cumprida, pois só quem trabalha, ou circula dentro dos asilos, consegue saber da sua real situação.

Fica difícil garantir muitos desses direitos se o idoso encontra-se isolado da sociedade, e com certeza há uma grande necessidade de um profissional que possa acompanhá-lo, pois projetos para os idosos existem em todos os cantos, várias atividades do tipo: baile da terceira idade, ginástica, grupos, mas quem levará os idosos que não saem sozinhos?  Existem idosos que se sentem incapacitados, acostumaram viver dentro da instituição e já esqueceram como pegar um ônibus, ou um taxi, por exemplo, ou sentem-se inferiores e envergonhados. Enfim, além de estudar o envelhecimento, compreender o contexto do idoso, o AT também precisa conhecer o Estatuto do Idoso, tanto para fins de conhecimento dos direitos de seu paciente, como para levar esse conhecimento ao próprio idoso, pois isso dará forças, e ele compreenderá que as pessoas que o auxiliam, não estão fazendo favores, mas sim ajudando a garantir os seus direitos. Muitos idosos por desconhecerem seus direitos, acreditam que os profissionais que ali trabalham, estariam lhes prestando favores, alguns não sabem que tudo que lhes é ofertado, é dado por direito, e quando sofrem maus tratos, seja na rua, em suas residências ou nas casas asilares, não sabem nem a quem, nem como recorrer aos seus direitos.

Com essa definição cronológica do envelhecimento (60 anos) o idoso passa a ser considerado como tal, tanto perante a sociedade, quanto pelos seus direitos, sendo que para isso não é levado em conta seu estado físico e psíquico. Claro que é necessário haver um parâmetro, para se estabelecer determinada fase da vida, mas seria necessário pensar em relação a como cada pessoa chega aos 60 (sessenta) anos, pois irão existir diferentes processos de envelhecimento, onde muitos nessa idade estarão em perfeitas condições físicas e psíquicas e outros envelhecerão bem mais cedo. Em contraponto com a grande preocupação na atualidade com a saúde e a estética, teremos também idosos jovens, tanto na aparência, quanto na saúde, pois a medicina, a geriatria e a gerontologia têm auxiliado muito nessa melhor qualidade de vida dos idosos. Provavelmente estes extremos devem prejudicar e confundir as pessoas que se aproximam da velhice ou que chegaram nela, sem um preparo e uma aceitação da sua atual condição, pois o idoso olhará para seu lado e verá pessoas mesma faixa etária que a sua com uma visível diferença na aparência física e na forma que lida com sua velhice. Nesse momento que o AT munido de informações e do conhecimento que vai adquirindo a respeito de seu paciente, é que poderá ajudá-lo a enfrentar essa situação, com aceitação e com busca de novos significados e formas de viver.

Segundo Schneider e Irigary (2008), o envelhecimento é algo que depende de vários aspectos: biológico, cronológico, psicológico e social. Que se dará de acordo como a pessoa vive e viveu ao longo de sua vida, de como a administrou, ou seja, é um conjunto da integração das vivências passadas, do seu contexto cultural, social de uma determinada época. E que normalmente se dá a partir do olhar do outro, da sociedade, pois de modo geral, a pessoa velha, ou idosa, não se sente como tal, geralmente são os outros que a apontam como impossibilitada de fazer determinadas atividades, seja por condições físicas, ou por pensar que aquilo possa não ser adequado para aquela idade.

Ainda seguindo o pensamento de Schneider e Irigary (2008), envelhecimento é uma experiência única e heterogênea, por isso há uma necessidade de olhar para esse idoso como um ser singular, assim como para todos os seres humanos, e isso não serve só para a velhice, mas para as demais fases da vida, pois assim como buscamos compreender os desejos, prazeres, da criança e adolescente, por exemplo, na tentativa de proporcionar maior satisfação, com o idoso isso não seria diferente, muito pelo contrário, ele é um ser que já viveu muito, e como tal, tem condições e experiência para fazer escolhas, pelo que gosta ou não, pelo que quer ou não fazer. O problema é que as pessoas tendem a infantilizar o idoso, chegam até a dizer algo do tipo, “eles voltam a ser criança”, isso não é possível, pois ninguém retorna a uma fase, talvez o que ocorra é que os tratem dessa maneira, pois assim facilita decidir por eles, e ao idoso resta aceitar esse tratamento, pois às vezes essa é a única maneira de ser enxergado pelos demais. Esquece-se das suas capacidades, só é levado em conta a sua condição muitas vezes de doença e de sofrimento.

Sempre que for trabalhar com idosos, em especial o AT que é o foco desse trabalho, é necessário além de estudar o envelhecimento, buscar compreender o contexto do paciente. É preciso descobrir primeiramente, como ele entende o envelhecimento, como ele se vê nessa fase, para a partir daí executar o trabalho. Assim como é importante promover a autonomia do idoso, não se podem negar as dificuldades biológicas e físicas, a idade traz consigo experiências e limitações, e sobre muitas não é possível lutar contra ou ignorá-la, visto que o tempo não perdoa ninguém, todos envelhecem. Essa conscientização da idade se faz necessária, até para evitar que o idoso faça atividades que não tenha mais condições físicas e acabe se machucando.

É muito comum os idosos não aceitarem que seus banheiros sejam adaptados, a utilização de muletas, a construção de rampas de acesso, uma vez que se aceitarem toda essa adequação, estariam de certa forma aceitando que envelheceram, e muitos acabam sofrendo fraturas, e até morrendo por consequência delas. O AT nesse momento pode agir como um facilitador, proporcionando uma melhor compreensão da velhice assim como mostrando o lado bom do envelhecer, tais como as experiências de vida, o conhecimento de tudo que já se viveu que só se sabe quando envelhece.

Schneider e Irigary (2008) trazem a fase do envelhecimento como uma possibilidade de novas conquistas, e da importância da continuidade do seu desenvolvimento social, cognitivo e cultural. Sendo que o idoso que chega em boas condições físicas e mentais, ainda tem muito potencial, muitos inclusive voltam a estudar, muitas vezes chegam a embarcar numa nova carreira. Alguns aproveitam para passear, viajar, visitar os filhos, pois já não estão mais tão atarefados quanto no passado, já construíram uma estabilidade financeira.

Porém não podemos fechar os olhos para a nossa realidade social, onde muitos têm tanto e outros tão pouco, mas de modo geral, quem conseguiu trabalhar durante a vida e adquirir casa e certa condição financeira, e que seus familiares não dependam da sua aposentadoria, como uma parte da população, onde os lares são sustentados por idosos aposentados, eles conseguirão ter uma boa qualidade de vida nessa fase.

O IDOSO INSTITUCIONALIZADO

Sabe-se da importância do idoso manter-se junto da sua família, preferencialmente na sua própria casa, perto das suas coisas, levando em conta que ali está tudo que construiu ao longo de sua vida. Porém nem sempre isso é possível, seja por condições financeiras, seja por não ter um familiar que possa se responsabilizar pelo seu cuidado. Então ocorre que o idoso precisa ser levado para uma casa asilar, e esse é um momento muito difícil para o idoso, pois na maioria das vezes sua opinião sequer é solicitada, tudo é decidido sem que ele saiba.

Há casos que são por determinação da justiça, quando há algum tipo de denúncia, de maus tratos, violência, baixas condições financeiras, de higiene ou de abandono. Os motivos pelos quais os idosos chegam até os asilos são vários, mas cada idoso é único, e cada um possui uma história, e como ele é um ser singular, é importante que sejam tratados a partir das próprias necessidades, não generalizando. É muito comum dentro dos asilos os idosos serem “depositados”, ou seja, na hora do café todos são levados para a copa, na hora de assistir TV todos levados para frente dela, na hora de descansar todos são levados para a cama, e assim sucessivamente, pois em muitos locais não existe preocupação com os desejos dos moradores do local, se realmente é aquela hora que querem comer, assistir TV ou dormir, é seguido, de uma forma militar, com regras e horários, sem considerar que esses idosos possuem anos de vida, e anos de costumes, que adquiriram e ali nos asilos não estão sendo considerados.

 A entrada em uma instituição asilar não se dá sem traumas. Ainda que constatemos dificuldade de permanecer vivendo em suas casas – saúde precária, perda de autonomia, ausência de parentes cuidadores etc. – raros são aqueles que resolvem, voluntariamente, viver em instituição. Não é nada fácil trocar a própria morada, que simboliza os investimentos materiais e afetivos ao longo da vida, por um abrigo/asilo ou casa de repouso, cuja imagem negativa é frequentemente veiculada pela mídia. Essa entrada em instituição é decidida na urgência pelos parentes e, em geral, ela é encoberta por não ditos que suscitam ressentimentos naquele que é asilado e certa culpabilidade naquele que interna o velho (GOLDENBERG, 2011, p. 341).

Nessa tentativa de minimizar traumas e facilitar a adaptação que o AT se faria essencial, através do acompanhamento terapêutico poderia buscar formas de resignificar esse momento vivido por esse idoso. Várias práticas poderiam ser executadas, inclusive na tentativa de fortalecer os vínculos familiares, buscando evitar o esquecimento do idoso dentro da casa asilar, sendo que além de sofrer pela perda das suas coisas, da sua moradia, a distância da família e o sentimento de abandono causam um grande sofrimento do idoso, que se sente inútil, incapaz e esquecido. A presença da família é importante tanto para o idoso sentir-se fortalecido e valorizado, quanto para o acompanhamento do cuidado do local para com o idoso, saber se seus direitos estão sendo garantidos.

As casas asilares, asilos, casas de acolhimento, como preferirem, deveriam ser um “lar”, uma continuidade da casa do idoso, um local onde as rotinas fossem os mais semelhantes possíveis ao de uma família, respeitando os desejos de cada morador do local, para que eles se sentissem o mais em casa possível, se é que isso é possível. É importante valorizar a história de cada um, a fim de que eles tenham pelo menos um final de vida digna, pois a maioria, para não dizer todos, estão ali esperando a morte chegar.

Os asilos são estigmatizados, pois se aproximam muito dos cemitérios, locais que ninguém quer ir, que só se vai por obrigação. A maioria das pessoas estão dispostas a trabalhar com crianças, mas com velhos, quase ninguém quer, inclusive daria aqui para divagar a cerca do por quê dessa grande preferência por crianças, será que seria porque existe uma dificuldade de lidar com o próprio envelhecimento, porque há uma dificuldade de aceitar-se como ser mortal, e que seguindo a trajetória normal da vida, todos envelhecemos e morremos e isso causaria certo repúdio.

Essa dificuldade de compreender o idoso, de respeitar, de se colocar no seu lugar é muito difícil, e isso muitas vezes começa dentro de casa com os próprios familiares. São os filhos que já não escutam mais seus pais, os netos que os acham antiquados e ultrapassados, e acabam por carregar aquele idoso como se fosse um fardo, algo que atrapalha suas vidas, e o que é pior o tratando como se fossem crianças, sem escutá-los, decidindo por eles, como se fossem doentes mentais sem condições de fazer suas próprias escolhas. Claro que tem idosos que acabam desenvolvendo problemas mentais, assim como crianças, adolescentes e adultos, mas não são todos, contudo, o fato é que eles precisam de maior paciência e escuta.

A mortalidade e a demora na recuperação de doenças, estariam diretamente relacionadas a falta de suporte social, nos faz pensar da grande importância das relações sociais, das que se construíram ao longo da história de vida de cada um, assim como das que se constroem nessa fase, pois é importante para o idoso se relacionar com iguais, a fim de trocar experiências, falar de suas inquietações, ter uma maior proximidade de sua realidade. Porém não podemos esquecer, que a vida do idoso, não pode se resumir ao seu envelhecimento, é necessário também relações de diversos tipos, familiares, amigos, aqueles que lhes proporcionam prazer. Ainda seguindo o pensamento dos autores, que nos trazem que os idosos que participam da atividade social diminuiriam o risco de serem institucionalizado pela metade, assim como viver só também aumentaria esse risco (Eizirik, Kapczinski e Bassols 2001).

Talvez seja muito difícil evitar a institucionalização, até porque os motivos dessa decisão são inúmeros e nem sempre há outra forma de cuidar o idoso dentro de suas casas junto das famílias, mas existe a possibilidade de melhorar essa forma de viver. Talvez o AT dentro desse espaço, além de proporcionar as relações sociais, poderia tentar ajudar esse idoso a manter ou restabelecer vínculos familiares que estejam fragilizados em função das intercorrências ao longo de sua vida. Apesar de serem muito os motivos dessa escolha, na maioria das vezes é porque ninguém mais tem tempo ou condições de cuidar desse idoso, e acabam por abandoná-los nesses locais, as visitas vão diminuindo, e isso vai fazendo parte da rotina, o idoso estar lá na casa asilar, e os familiares acabam o esquecendo, o abandonando.

A PRÁTICA DO AT COM IDOSOS EM SITUAÇÃO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO

Primeiramente é preciso concordar que para que essa prática ocorra é necessário que se perceba a real necessidade e importância do AT dentro desses espaços, não como um somatório no número de funcionários, mas como um diferencial, talvez ele pudesse ser um profissional que trabalharia em vários espaços, que acompanhasse idosos nos quais fosse percebida a demanda desse atendimento. Poderia trabalhar tanto no acolhimento do idoso para prepará-lo e proporcionar a sua adaptação, quanto na continuidade dependendo da necessidade particular de cada paciente. Também é claro não se pode negar a questão da finitude, idosos debilitados e doentes, em geral tendem a ficar isolados e muitos deprimidos, e é muito importante proporcionar a dignidade do idoso inclusive nesses momentos, a fim de que seus últimos dias sejam os melhores e mais dignos possíveis. Não basta depositar o idoso no asilo é preciso manter o cuidado.

O público idoso é crescente atualmente, enquanto as natalidades diminuem, a longevidade da população aumenta, é preciso pensar um pouco mais sobre a velhice, considerando que ela traz também muitas oportunidades de trabalhos.

Essa reflexão a cerca da necessidade de AT dentro das casas asilares se dá pelo fato de que os idosos quando são institucionalizados, de certa forma acabam sendo esquecidos por familiares e pela própria sociedade. O fato de eles estarem nesses locais com toda uma equipe para dar conta da sua saúde, pressupõe que eles estejam bem atendidos, que alimentação lhes será dada, a medicação na hora certa, e caso necessário, haverá um profissional para lhe socorrer. Porém, a velhice não pode se resumir a isso, a suprir necessidades fisiológicas, é necessário um olhar diferenciado para o idoso, pois cada um tem uma história, que de alguma forma contribuiu para o nosso presente. Caberia ao AT proporcionar essa nova forma de viver ao idoso, através de técnicas e um estudo mais aprofundado sobre o envelhecimento, seria possível criar um vínculo com seu paciente, e juntos encontrar formas de viver melhor, de encarar os problemas da velhice, como reais que são, suas dificuldades e limitações, todavia mostrando que há sim um jeito melhor de viver.

O AT dentro das instituições poderia fazer várias atividades com o idoso, dependendo da condição física e psíquica de cada um, por isso a importância de estudar o envelhecimento, pois isso facilitaria uma melhor compreensão da velhice e suas vicissitudes.

Com os pacientes acamados por exemplo, mesmo em estado terminal, o AT poderia fazer um grande trabalho nesse sentido, esses pacientes geralmente são os mais esquecidos, assim como os com alguma demência, quando alguém faz alguma prática, em geral é com os mais ativos, física e psiquicamente. Esse trabalho é árduo, e que além de dedicação é necessário que o AT queira trabalhar com esses pacientes, todavia esse envolvimento e dedicação é para toda e qualquer profissão, sendo necessário gostar do que se faz principalmente, para fazer bem feito. Trabalhar com idosos é um exercício de paciência, de ensinar de novo, algo que nos parece simples e rotineiro, ouvir a mesma história muitas vezes, evitando constranger o idoso, responder a mesma pergunta do tipo: Mas quem é mesmo você? Eu te conheço? Mesmo que já esteja trabalhando com ele a algum tempo, terão dias que ele não irá lembrar quem está ali. E daí terá de recomeçar do zero, e um belo dia ele se lembra de algumas coisas, e aí vem a recompensa, nem todos os dias o idoso com dificuldades de memória reconhecerá quem é ou o que está fazendo ali com ele, mas o que importa é que esse trabalho de paciência e dedicação de alguma forma contribuirá para um envelhecimento mais feliz e digno.

Já com os pacientes com melhores condições físicas dá para fazer um trabalho a fim de otimizar sua autonomia, pois caminhar, falar, ouvir, não é sinônimo de autonomia, às vezes o idoso que está ali, de certa forma isolado naquele espaço, acaba por se acostumar com isso, e esquece como é viver o dia a dia e se relacionar. Já não vai mais as compras, não escolhe a sua roupa preferida, ou pelo menos a cor que gosta, e vai cada vez ficando mais fechado e introspectivo, e acaba por aceitar tudo com normalidade, como se não houvesse outro jeito de viver. Acostuma-se a vestir um pijama e calçar umas pantufas, e se esquece do quanto gosta de decidir, fazer escolhas, isso acaba perdendo significado para si e para o outro.

É preciso tirar da mente que velhos gostam de usar “roupas de velhos”, que existem modelos e estampas especiais para a velhice, isso é coisa do passado, nossa cultura vem evoluindo, e as novidades não são só para os jovens, embora eles sejam o grande alvo do capitalismo. Vivemos uma nova realidade, com idosos ativos, e que precisam ser valorizados, e escutados. Pensando nisso o AT poderia fazer um bom trabalho, parecido com o AT de lazer, acompanhando o idoso as compras, aos passeios, ajudando ele a se colocar como ser desejante que é, proporcionando e incentivando o idoso a escolher por si, o que mais gosta, com o que se sente melhor. Ninguém pode fazer uma escolha melhor do que o próprio interessado, o que precisa é que isso seja possibilitado.

Não se pode esquecer, asilo não é prisão, portanto é preciso mesmo aos institucionalizados propiciar uma vida em sociedade, que ele possa sair além do pátio das casas asilares e se relacionar, pois afinal ele não está cumprindo pena, ele é só um morador idoso que não tem condições de morar sozinho, na grande maioria das vezes a velhice não o tornou incapaz.

[…] esse novo lugar de vida tem a particularidade de ser última morada, principalmente para aqueles que não tem autonomia ou a tem reduzida, para os que não tem família ou ela não pode cuidar deles, ou para os que tem poucos recursos. Idade, sexo, saúde, estado civil e renda são indicadores importantes da passagem para o asilamento (GOLDENBERG, 2011, p. 342).

Nesse sentido que o AT poderia atuar, tanto para acolher esse idoso na instituição, facilitando sua adaptação nesse novo local, como para ajudá-lo a compreender e aceitar essa condição, pois se o idoso não aceita, as coisas ficam ainda piores, ele sofre demais e acaba muitas vezes entrando em depressão, e isso dependerá da relação do idoso para com a velhice e com o asilo, de como ele se vê como velho e de como vê essa sua nova morada, pois de modo geral, os asilos não são muito bem vistos pela sociedade, é como se fosse um verdadeiro depósito de velhos que esperam pela sua morte.

Pensando na morte e a velhice como momento de muitas perdas, nesse sentido de luto, também dá para o AT fazer um bom trabalho, considerando que o luto não seria só a morte, mas o luto pelas perdas: do corpo perfeito, da saúde, das capacidades físicas, enfim, das perdas que o idoso tem que suportar e que de modo geral ninguém quer falar, ninguém quer tocar na ferida, e quando o idoso tenta falar das suas inquietações, ou da sua morte, às vezes é ignorado, nossa sociedade vive como se aquilo que não é falado não acontecesse, ou se pelo menos ficasse distante de nós. Falar de morte é tão importante quanto falar de vida, pois se há algo de certo na vida é que todos irão morrer, e quando se sente que a morte está perto, isso causa angústia, de modo geral ninguém quer morrer, não quer perder ninguém, mas isso é fato, e talvez se falarmos sobre essa realidade, seja mais fácil aceitar de uma forma mais natural, até para facilitar a vida de quem fica, pois não são raros os casos que um familiar morre, e os que ficam são pegos de surpresa com questões financeiras, com segredos, coisas que trazem ainda mais sofrimento. É difícil, mas é preciso se preparar para a vida, assim como para a morte, não tem o que fazer, não seremos eternos, mas podemos construir momentos de vida melhores e mais felizes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse trabalho, buscou-se demonstrar a importância e a necessidade de profissionais dentro das instituições asilares, na prática do Acompanhamento Terapêutico com pacientes idosos. Qualquer pessoa que permaneça dentro desse espaço com um olhar mais voltado ao sujeito, o paciente idoso, compreenderá a grande demanda. Não resolve somente encher esses locais com profissionais, é necessário um olhar mais direcionado, um olhar mais individual e singular a cerca da necessidade de cada morador.

Também buscou levantar questões para demonstrar que tal prática é possível e relevante, que o AT pode executar seu trabalho em qualquer local ou ambiente, seja ele aberto ou fechado, pois o foco é o seu paciente, e o primordial é o seu bem estar e saúde mental.

São muito raros concursos públicos para cargos de AT, mas a partir de uma reflexão da sua necessidade e de talvez um movimento dos profissionais dessa prática, isso possa se tornar algo possível.

Pode-se perceber que o idoso é um paciente potencial para a prática do AT, independente de institucionalizado ou não, o fato é que a população idosa está aumentando a cada dia, e a institucionalização também. As famílias na correria do dia a dia, já não tem mais tempo de cuidar de seus idosos, tendo que terceirizar o cuidado ou colocá-los em asilos. Essa separação da família, da sua casa e pertences, assim como o medo da morte, traz junto um grande sofrimento ao idoso que não consegue lutar contra a sua situação, pois o tempo é cruel, traz consigo doenças e incapacidades, havendo a necessidade de se assujeitar ao que lhe é oferecido.

Sem sombra de dúvidas a escuta é o ponto mais importante a ser desenvolvido com quem irá trabalhar com esse público, muitas vezes a única coisa que o idoso precisa é ser escutado: sobre sua história de vida, suas conquistas, alegrias, tristezas, medos e desejos. Mas nem sempre há alguém disponível a escutá-los, não se tem mais tempo para o outro, para os prazeres da vida, imaginem escutar um velho, muitas vezes ultrapassado, rabugento e adoecido. Mas essa é uma realidade crescente e que precisa de um olhar clínico e terapêutico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BRASIL. Estatuto do Idoso. Brasília: Senado Federal, 2003.
  2. EIZIRIRIK, Cláudio Laks (Org.); KAPCZINSKI, Flávio (Org.); BASSOLS, Ana Margareth Siqueira (Org.). O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
  3. GOLDENBERG, Mirian (Org.). Corpo, envelhecimento e felicidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
  4. NARDI, Marycels. O AcompanhamentoTerapêutico como ferramenta de inclusão social: uma reflexão. Disponível em: < https://siteat.net/marycels >. Acesso em: 16 maio 2013.
  5. SCHNEIDER, Rodolfo Herberto; IRIGARAY, Tatiana Quarti. O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Estudos de Psicologia,Campinas [online]. 2008, vol.25, n.4, pp. 585-593. ISSN 0103-166X. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2008000400013 >. Acesso em 21 maio 2013.

Autora: Liani Maria Olsson. Graduanda em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Formada no “Curso de Capacitação em Acompanhamento Terapêutico” da Comunidade Terapêutica D. W. Winnicott (CTW) de Porto Alegre, RS, Brasil. Fone: (51) 8565-2488. E-mail: [email protected]

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