Acompanhamento Terapêutico e Terapia Comportamental Dialética no Tratamento do Transtorno da Personalidade Borderline

Resumo: esse estudo é uma revisão da literatura sobre o tratamento de pacientes borderline com Terapia cognitivo-comportamental, dando ênfase em Terapia comportamental dialética (TCD) em parceria com o Acompanhamento terapêutico. Acredito ser importante falar um pouco sobre a história do AT, técnicas em comum com a TCD e a forma como se mesclam essas terapêuticas podem trazer resultados positivos.     

Palavras-chave: AT, Terapia comportamental dialética, Transtorno da personalidade borderline.

 

Abstract: this study is a literature review of the treatment of borderline patients with cognitive-behavioral therapy with emphasis on dialectical behavior therapy (DBT) in partnership with the therapeutic monitoring. I believe it is important to talk a bit about the history of AT, techniques in common with TCD and the way they blend these therapies can bring positive results.

Keywords: AT, dialectical behavior therapy, Borderline Personality Disorder.

 

 

Acompanhamento Terapêutico e Terapia Comportamental Dialética no Tratamento do Transtorno da Personalidade Borderline

 

1. INTRODUÇÃO: ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO, TERAPIA COMPORTAMENTAL E BORDERLINE 

Esse estudo é uma revisão da literatura sobre o tratamento de pacientes borderline com Terapia cognitivo-comportamental, dando ênfase em Terapia comportamental dialética (TCD) em parceria com o Acompanhamento terapêutico.

Acredito ser importante falar um pouco sobre a história do AT, a clínica do AT hoje e a forma como se mesclam essas terapêuticas podem trazer resultados positivos.

Segundo Linehan (2010), o número de pacientes com Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) que procuram psicoterapia tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, isso devido aos avanços em relação ao tratamento de pacientes com o transtorno.

Atualmente, a Terapia Comportamental Dialética (TCD) é a que mais obteve resultados positivos com esses pacientes, estabelecendo um sistema de treinamento em habilidades psicossociais que explicarei com mais clareza ao longo do texto.

Aliada ao manejo de pacientes com TPB, o acompanhamento terapêutico (AT), ocupa um lugar de destaque no que tange a adesão ao tratamento considerando que de nada adianta munir o paciente de técnicas comportamentais, se no momento em que estiver em crise não souber como ou não estiver em condições usá-las. Nenhum tratamento será eficaz se não for seguido corretamente.

Segundo Tanesi et al. (2007), pacientes borderline abandonam os tratamentos, tanto o medicamentoso, quando o psicoterápico, por frustração e falta de suporte social.

Nesse contexto surge o profissional do AT como um agente de mudanças, um modelo que orienta o paciente a um caminho possível com empatia e técnicas específicas para cada caso.

Neste sentido, o AT é uma companhia especializada que permanece ao lado do paciente na ação até que ele consiga direcionar ações e organizar suas emoções (BRAGA FILHO, 1991).

 

2. BREVE HISTÓRICO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

Segundo Londero e Pacheco (2006), o profissional AT surgiu pela primeira vez na Argentina na década de 1960, primeiramente chamada de “amigo qualificado”, o AT entrava em ação quando a clínica tradicional não surtia o efeito esperado.

Ainda que o AT esteja ao lado do paciente nos momentos em que ele mais necessita, não deve ser considerado um amigo devido à importância de manter uma distância ótima visando à eficácia do tratamento.

Outro motivo para o nascimento do AT foram às reformas manicomiais que surgiram no Europa e EUA e as o surgimento das comunidades terapêuticas que traziam uma nova proposta de tratamento longe dos muros das instituições.

Nessa modalidade de atendimento o paciente entraria em contado com um novo mundo, aprendendo habilidades as quais não seria possível através do modo como se entendiam as psicopatologias, as “loucuras”.

A perspectiva era que o paciente tivesse a possibilidade de conviver em lugares comuns a todas as pessoas percebendo e se situando no mundo de uma forma mais humana (SANTANA et al., 2014).

No Brasil, reforça Santana et al. (2014), a reforma psiquiátrica não se deu de maneira organizada como na Europa e Argentina, pois enquanto estes países se engajavam para que o movimento ganhasse força, aqui ainda atravessávamos a ditadura.

Isso acabou fazendo com que na década de 80 ainda fossem construídos manicômios ao invés de reforma.

A mudança de fato, só viria nos anos 90 com a criação das comunidades terapêuticas, preocupadas em tratar o sofrimento psíquico dos sujeitos, mas ainda sem uma norma a ser seguida.

Mas que hoje permanecem atendendo pacientes em hospitais dia e prestando serviços de acompanhamento terapêutico quando necessário (SANTANA et al., 2014).

 

3. A CLÍNICA DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

Acho interessante falar sobre a Clínica do AT separadamente em relação a sua história, por entender que as atribuições do AT no presente contexto tenham uma grande diferença do passado.

Embora o AT seja um profissional independente de qualquer escola específica, muitas das técnicas aplicadas em seu trabalho, têm relação com vertentes da psicologia por partilhar preceitos da análise do comportamento (ZAMIGNANI et al., 2007).

A psicanálise também se faz presente no entendimento dos sujeitos, na forma como o acompanhante terapêutico se faz agente de simbolização de conflitos internos desses pacientes.

Braga Filho (1991), através da psicanálise Lacaniana, faz uma análise da fala de Riobaldo, no romance Grande Sertão Veredas, nos revela a magnitude que pode alcançar o trabalho do acompanhante terapêutico.

Nesse trabalho se faz uma relação dialética entre o sujeito, seus conflitos e suas defesas fazendo com que ele faça uma escolha, que encontre seu caminho, que aceite e se organize através da transformação do o ato em fala.

Essa fala que nomeia e esclarece viabilizando o saber de si próprio e seu lugar no mundo.

O setting terapêutico do AT é a rua, onde ele tem acesso ao paciente em sua essência e como se comporta na individualidade e coletividade.

O AT vai trabalhar no espaço do paciente visando à transformação do ambiente e da forma como o paciente o paciente o vê.

Não é um trabalho fácil, pois envolve as famílias dos sujeitos, uma vez que, ao entrar no ambiente do paciente, estará tendo acesso a toda uma cultura que envolve a vida do paciente.

Nesse sentido, se torna extremamente importante capacitar familiares e/ou pessoas envolvidas na rede de relações do paciente (ZAMIGNANI et al., 2007).

A prática clínica do AT visa à mudança de comportamento, e embora se utilize de outras vertentes teóricas, os preceitos da análise do comportamento são o ponto central do tratamento, já que o que o paciente ao contratar um AT, visa modificar comportamentos considerados desajustados.

Assim, o paciente que apresenta dificuldades em seguir os procedimentos terapêuticos necessários ao seu tratamento, necessita que o AT lhe auxilie e o situe quanto ao quando e como agir em determinado contexto (ZAMIGNANI et al., 2007).

O AT relacionado com a prática clínica psicologia amplia as possibilidades de intervenção levando até o paciente um conjunto de técnicas com o plus do acaso.

O setting convencional dá subsídios para que o cliente se oriente quanto ao enfrentamento do seu problema, mas o como fazer, se dá no momento em que acontece determinada situação, e isso é algo inusitado (MARCO & CALAIS, 2013).

Nesse sentido o acompanhante terapêutico terá que em um primeiro momento, ser um observador de contingências, conhecendo o paciente em questão, cultura, crenças e funcionamento familiar relacionando com a rotina do cliente.

Necessita também estabelecer uma relação terapêutica calcada no vínculo que só poderá ser estabelecido com empatia, atenção aos aspectos latentes e verdade.

É essa relação de confiança que permite ao profissional seguir com propostas de intervenção sobre os fatores que o paciente tenta de todas as formas evitar (DE OLIVEIRA, 2005).

Segundo De Oliveira (2005), o AT tem a função de levar o paciente a enfrentar situações as quais não seria possível sozinho, pensando que determinadas situações estariam sendo vividas pelo AT assim como, pelo seu paciente.

É nesse momento em que o inusitado acontece, pois ele terá de ser o modelo de enfrentamento de uma situação desconhecida, necessitando de adequação a cada momento.

Os locais onde o acompanhamento acontece são os mais variados, e nessa perspectiva não são incomuns os momentos em que o AT durante o seu trabalho, terá de lidar com encontros inesperados com pessoas de suas relações.

Esse é um momento complicado para o profissional que terá que fazer o máximo para não expor o paciente a uma situação constrangedora, devendo agir com calma e o máximo de naturalidade possível (DE OLIVEIRA, 2005).

Os casos encaminhados para acompanhamento terapêutico são em sua maioria aqueles em que as terapias convencionais não conseguem dar conta e necessitam de maior atenção.

Esses pacientes em tratamento psicoterápico serão acompanhados seguindo o mesmo programa que o profissional psicólogo e/ou psiquiatra que os atende.

Dessa forma é importante o conhecimento do AT sobre as diferentes abordagens terapêuticas, assim como alguns tipos de medicação e seus efeitos no organismo do paciente para que possa da melhor forma possível seguir todas as orientações sobre seu paciente e desempenhar seu papel com maestria (DE OLIVEIRA, 2005; ZAMIGNANI, 2007).

Nesse sentido, o AT trabalha com pacientes difíceis de tratar, que necessitam de atenção e acho importante falar do cuidado com o próprio profissional, visando o seu bem estar acima de tudo.

As supervisões são importantes, bem como o seu tratamento pessoal. Isso lhe dará suporte para as demandas que ele terá de administrar ao longo de sua carreira.

 

5. PACIENTES BORDERLINE

Os pacientes difíceis aos quais nos referimos nesse texto são as pacientes borderline.

Assim, umas das primeiras atribuições, tanto do AT quanto do psicoterapeuta é entender a dinâmica desse transtorno.

Por esse motivo acho importante trazer as características mais marcantes nesses pacientes bem como a sua prevalência, e outros transtornos que podem estar associados.

O DSM-5 se refere aos pacientes bordeline como um padrão de instabilidade nas relações, autoimagem, afeto, impulsividade com surgimento no inicio da adultez e presente em múltiplos contextos.

Ainda traz que esses pacientes fazem tudo para não serem abandonados e esse abando pode der real ou imaginário, são sensíveis aos acontecimentos do ambiente e podem ter medo intenso em relação a este abandono.

Mudam de humor com frequência, podem amar ou odiar alguém com a mesma intensidade. Instabilidade afetiva com duração de horas e raramente alguns dias.

Ataques de raiva inadequada a situação entre outros aspectos (APA, 2013).

Outros fatores podem apoiam o diagnóstico para borderline são comportamentos autodestrutivos quando prestes a alcançar uma meta, o paciente tende a desistir.

Quando a sua vida começa a tomar um rumo mais organizado, quando próximo a uma formatura, ou um relacionamento que começa a se estabilizar, ou até mesmo a relação estabelecida com o terapeuta começa a levar este paciente em direção.

O paciente tende a ir à busca de algo que invalide tudo o que até então estava dando bons resultados (APA, 2013).

Pequenas mentiras poderão estar presentes no paciente com esse transtorno, além de outras estratégias desadaptativas utilizadas como fuga de suas dores.

Nesse sentido, é preciso estar atento a outros transtornos que poderão estar associados ao TPB como os transtornos depressivos e/ou bipolares, caracterizando uma síndrome da personalidade bordeline.

Acho importante falar da prevalência e da padrão de gênero.

Segundo Linehan (2010), todo terapeuta ao longo de sua carreira, irá deparar-se com pelo menos um caso de transtorno da personalidade borderline o que pode ser observados por esses números colhidos a partir do DSM-5: Prevalência média de 1,6% de toda a população podendo alcançar 5,9%.

Considerando, que estes índices são apurados partindo da população que procura ajuda nos consultórios.

O padrão de gênero predominante é o feminino em cerca de 75% dos casos.

Para Linehan (2010), o paciente com TPB apresenta uma desregulação emocional resultante de aspectos biológicos, ambientais e o acordo entre os dois durante o desenvolvimento.

Sendo assim pacientes borderline têm dificuldades de regular suas emoções.

A desregulação parte de uma vulnerabilidade emocional, caracterizada por sensibilidade exacerbada a estímulos emocionais, resposta aguda a esses estímulos e retorno lento ao estado anterior a euforia emocional.

Um exemplo de resposta aguda são os parassuicídios e comportamento dependente ao ponto de ficarem psicóticos com a hipótese da perda.

A modulação das emoções é a capacidade de inibir comportamentos inadequados relacionados a emoções fortes positivas ou negativas, agir de maneira que não dependa do seu humor, acalmar excitação forte e retornar ao estado de atenção as emoções.

Sendo assim a desregulação emocional é um somatório de hipersensibilidade, hiperatividade e incapacidade de modulação emocional diante de ações relacionadas a essas emoções.

As ações biológicas podem ser diferentes em indivíduos diferentes (LINEHAN, 2010).

Em sua Teoria biossocial do transtorno da personalidade bordeline Linehan (2010) ressalta o papel do ambiente invalidante no desenvolvimento do sujeito.

Uma criança que tem negado pelos pais ou cuidadores as suas necessidades básicas ou aquilo que os pais consideram bobagem, um “não persistente” em momentos em que a criança deveria ouvir um sim, são extremamente prejudiciais expondo-a a vulnerabilidade emocional extrema.

Ao mesmo tempo em que, a criança pode ser vulnerável emocionalmente e reagir de modo desadaptativo ao ambiente não hostil.

Nesse sentido, a junção de ambiente e predisposição biológica dessas crianças resultaria em um adulto com TPB.

Sendo assim, baseada em vários estudos no decorrer de sua prática clínica com pacientes suicidas, Marcha Linehan propôs a terapia comportamental dialética (TCD), que vou falar ou pouco no seguimento desse texto.

 

6. A TERAPIA COMPORTAMENTAL DIALÉTICA

Segundo Linehan (2010), foram anos de estudos e comparativos com outras abordagens para que a TCD fosse considerada uma das mais eficazes terapias no tratamento do TPB.

Pois ela é uma junção de várias técnicas cognitivo-comportamentais adaptadas em um programa de tratamento sendo sua principal característica a ênfase na dialética ou um acordo entre opostos para que se processe uma síntese.

Mas, para que se abra essa relação dialética, a relação terapêutica é fundamental, por ser esta uma terapia que depende muito do quanto o paciente participa.

O principal desafio no tratamento da TPB é vencer as tentativas que o paciente irá fazer para desviar o foco das tarefas propostas pelo terapeuta.

Assim o terapeuta terá de estar preparado, sobretudo munido de paciência, para suportar a frustração em lidar com a falta de interesse do paciente.

São variáveis que surgirão no caminho e que a postura firme, porém não hostil do terapeuta é crucial para o andamento de todo o processo.

Sendo assim, Linehan (2010), chama atenção para a importância de um técnico comportamental que possa realizar o treinamento de habilidades, concomitantemente ao tratamento realizado no consultório.

Ela entende, com base em sua prática, que o paciente nem sempre percebe a ação das contingências e, em decorrência disso, não há garantias de que ele irá usar as técnicas de maneira correta, logo, não adere ao tratamento.

Assim, o técnico comportamental seria o profissional responsável por ensinar técnicas comportamentais no âmbito geral.

Já o psicoterapeuta ficaria com a parte específica do tratamento, mostrando ao paciente em que momentos a aplicação técnicas seria relevante, fazendo com que ele entre em contato com a sua realidade, trazendo para a consciência o que ele não consegue perceber.

Cabe salientar que psicoterapeuta e treinador de habilidades psicossociais devem estar em sintonia para o sucesso do tratamento com TCD.

 

6.1. Iniciando o tratamento com TCD

Antes de iniciar o tratamento é importante ter em mente, que os pacientes borderline, em sua maioria já passaram por diversos tipos de tratamento sem sucesso.

Daí a importância de não estigmatizar o paciente e da empatia. Em seu padrão de funcionamento ele pode apresentar em muitos momentos a mentira, a dissimulação entre outros comportamentos.

Cabe ao psicoterapeuta e ao técnico comportamental, identificar que essas são formas desadaptativas não são conscientes, mas uma maneira de tentar resolver problemas, bem como um modo de invalidar o tratamento (LINEHAN, 2010).

É preciso estabelecer uma relação sólida e positiva desde o inicio para que possa proporcionar que o paciente concorde com o que será proposto.

Pois, o terapeuta necessitará de atenção e encanto do paciente para que entenda que existem metas a serem seguidas com sua devida ordem de importância.

Sendo a prioridade os comportamentos parassuicidas e suicidas. Os comportamentos que podem por em risco o sucesso do tratamento serão os próximos e em seguida tratamento das adversidades que impedem o mínimo de qualidade de vida ao paciente.

Outro ponto importante é a manutenção das habilidades aprendidas.

Isso tudo deve ser informado ao paciente desde o início do tratamento (LINEHAN, 2010).

No momento em que a relação terapêutica se firma o terapeuta, passa a cobrar do paciente uma atitude de melhora frente ao seu tratamento, que se não se cumpre o paciente corre o risco de perder o terapeuta.

Isso faz com que o paciente se sinta pressionado com algo que é doloroso para ele. Segundo Linehan (2010), a TCD foi chamada de “terapia da chantagem”, pois o terapeuta passa a ser um negociante de como se dará a relação.

 

6.2. Aplicação das estratégias

Sendo a dialética o ponto central do tratamento, é importante manter-se sempre focado nela.

A mudança de fato somente ocorrerá se houver uma aceitação do que já existe.

Sendo necessária a confrontação de comportamentos disfuncionais a partir de respostas dialéticas que reforcem novas respostas mais adequadas.

A TCD busca fazer com que o terapeuta encontre um equilíbrio entre a mudança e a aceitação (LINEHAN, 2010).

As estratégias básicas são a validação e a solução de problemas.

A validação se refere às respostas emocionais e cognitivas do paciente dando importância a manutenção das respostas comportamentais consideradas funcionais.

Outra forma de validação é o terapeuta investir na capacidade do paciente de sair da situação que lhe causa sofrimento e dar seguimento a vida como algo que lha valha a pena.

Já a resolução de problemas vai dar conta de cinco etapas: 1) Análise comportamental; 2) análise de soluções entre as quais, entram as comportamentais e alternativas; 3) orientação ao paciente sobre a solução proposta durante o tratamento; 4) fazer com que o paciente se envolva no tratamento realizando os procedimentos; 5) aplicação do tratamento (LINEHAN, 2010).

Segundo Linehan (2010), o objetivo durante o tratamento é dar ao paciente o benefício da dúvida, em uma comunicação que desconstrói para poder reconstruir, misturando uma comunicação muitas vezes irônica, em outros momentos com mais afeto e empatia buscando modelar o paciente para que ele aprenda a enfrentar seus problemas.

As estratégias devem ser administradas em conjunto com intervenções no ambiente, ensinando o paciente a se supervisionar.

Nesse sentido são passadas orientações a ele para que possa utilizá-las na solução de problemas sem ajuda de outro profissional que o oriente.

No entanto, quando o paciente realmente não consegue regular-se ou quando é de suma importância o ele apresente uma melhora, faz-se necessária a presença de outro profissional que o auxilie (LINEHAN, 2010).

O paciente borderline necessita estar em tratamento psicoterápico para que possa fazer treinamento de habilidades e também, quando for o caso, estar em dia com a medicação.

O treinamento de habilidade psicossocial poderá ser realizado em grupo, em local protegido quando houver condições para tal.

Mas, em caso de difícil manejo do paciente em grupo, ele poderá ser treinado individualmente (LINEHAN, 2010).

 

7. O PAPEL DO ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO

O acompanhante terapêutico é parte extremamente importante no tratamento de pacientes borderline.

Digo isso, porque concordo com Linehan (2010), quando diz que é impossível tratar um paciente com esta psicopatologia sozinha.

Diante de uma experiência que estou tendo com uma paciente com TPB, posso afirmar que se não fosse à supervisão constante e reuniões de equipe para discutir o caso, eu já a teria abandonado.

O que acontece é um tremendo esforço para tão pouco resultado.

Sendo uma paciente da rede publica de saúde, não existem muitos recursos e eu trabalho com o que tenho de ferramentas.

Insisto na necessidade do acompanhante terapêutico por acreditar ser ele quem vai estar mais próximo do paciente, no seu dia-a-dia.

Ele quem realmente irá treinar as habilidades psicossociais com os pacientes, e quem saberá o momento de expor esses pacientes a determinadas situações.

Segundo Zamignani (2007), a maioria dos pacientes tem problemas para cumprirem as tarefas propostas sem auxilio de outra pessoa.

Ele explica que se pode capacitar um familiar para desempenhar esse papel. Porém, penso que o paciente borderline, poderá se sentir mais a vontade com alguém que não faça parte da família.

Muitas vezes os familiares já se mostram cansados com todas as intempéries do comportamento disfuncional desse paciente.

Já que seus esforços para não serem abandonados, acaba por alcançar exatamente o contrário, o abandono LINEHAN (2010).

Segundo Linehan (2010), o tratamento em TCD supõe uma terapia basicamente verbal, embora o treinamento de habilidades psicossociais seja comportamental, exige que o terapeuta que as administra mantenha a dialética durante todo o tempo.

Confrontando o paciente com aquilo que ele afirma certeza. Nesse sentido, Zamignani (2007), descreve o AT como o profissional que irá intervir no ambiente do paciente, trazendo à tona as contingências no exato momento em que estiverem ocorrendo.

O AT no contexto do paciente facilitará a aprendizagem de novos comportamentos, bem como a manutenção desses comportamentos.

Ainda trabalhará a família desse paciente colaborando na ressocialização e ressignificação da vida (ZAMIGNANI, 2007).

Conforme Alex Tavares (2003), seja o andar pelas ruas da cidade ou até mesmo auxiliar um paciente que não consegue estar só em sua própria casa, o importante no trabalho do AT é fazer com que o paciente encontre o sentido da sua vida, trazendo a vida até ele.

Nas ruas, mostrando o que é possível perceber um mesmo local diferente ainda que seja o mesmo. Que o contato com o novo pode ser uma experiência incrível para quem vive.

Enfim, o trabalho do AT é abrir o campo de visão desse paciente para que ele perceba que a maior ameaça que ele pode encontrar pelo caminho é seu próprio ser.

 

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sempre tive muito interesse em pacientes borderline, e como não poderia ser diferente, tinha também o desejo de saber mais sobre o assunto.

Digo, com toda certeza, que esse trabalho trouxe muitas alternativas no que se refere ao tratamento.

Parece-me que a junção do AT com a TCD é o casamento perfeito, pois durante a pesquisa sobre a TCD eu percebi o quanto as intervenções no AT são semelhantes.

Sendo o acompanhante terapêutico um profissional que busca sempre o que o paciente tem de positivo acredito que adaptaria suas intervenções as que o paciente já tem aprendido.

Este trabalho também foi importante para confirmar que não existe maneira de tratar o TPB sem ajuda de outro terapeuta mostrando a dimensão e importância do trabalho desse profissional.

Acho importante acrescentar que sendo o acompanhante terapêutico um profissional que vai lidar todo tempo com as emoções do paciente, ele necessita de uma formação que contemple a mesma linguagem dos profissionais em saúde mental.

Por esse motivo, insisto que, o acompanhante terapêutico deve ser preferencialmente alguém já formado ou em formação em quaisquer áreas da saúde.

Entendo que o trabalho está muito além de apenas um acompanhamento e que é necessário um olhar atento as necessidades psíquicas do paciente.

Algo que deverá ser atendido por alguém que realmente entende do assunto. E, com certeza eu afirmo que não é algo que ser aprende em alguns meses.

 

REFERÊNCIAS

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM 5. American Psychiatric Association, 2013.
  2. BRAGA FILHO, Luiz Gonzaga. Acompanhamento Terapêutico: esboço de articulação de uma terapêutica profana. Rev. ter. ocup, v. 2, n. 4, p. 146-56, 1991.
  3. DA SILVA, Alex Sandro Tavares. Site AT: Acompanhamento Terapêutico.
  4. DE OLIVEIRA, Maria Helena Carvalho. Acompanhamento Terapêutico. Um caminho que se caminha junto. Therapeutic Company. A path we walk together.
  5. LINEHAN, Marsha. Terapia Cognitivo-comportamental para o transtorno da personalidade borderline: guia do terapeuta. Porto Alegre. Artmed, 2010.
  6. LINEHAN, Marsha. Vencendo o transtorno da personalidade borderline com a terapia cognitivo-comportamental: manual do paciente. Porto Alegre. Artmed, 2010.
  7. LONDERO, Igor; PACHECO, Janaína Thais Barbosa. Por que encaminhar ao acompanhante terapêutico? Uma discussão considerando a perspectiva de psicólogos e psiquiatras. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 2, p. 259-267, 2006.
  8. MARCO, Mariana Nunes da Costa; CALAIS, Sandra Leal. Acompanhante terapêutico: caracterização da prática profissional na perspectiva da análise do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 14, n. 3, 2013.
  9. SANTANA, Cassiano Castro et al. O ENLACE SOCIAL PROVOCADO PELO DISPOSITIVO DO ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PROCESSO INSTITUINTE. In: Congresso de Pesquisa e Extensão da Faculdade da Serra Gaúcha. 2014. p. 425-437.
  10. TANESI, Patrícia Helena Vaz et al. Adesão ao tratamento clínico no transtorno de personalidade borderline. Estudos de Psicologia, v. 12, n. 1, p. 71-8, 2007.
  11. ZAMIGNANI, Denis Roberto; KOVAC, R.; VERMES, J. S. A Clínica de Portas Abertas: experiências e fundamentação do acompanhamento terapêutico e da prática clínica em ambiente extraconsultório. Santo André: ESETec, 2007.

 

Autora: Simone da Silva Barros – Graduanda da Faculdade de Psicologia (PUCRS). Capacitada no Curso de formação em Acompanhamento Terapêutico (CTDW).

 

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